Inglaterra

Thiago Silva merece reconciliação com o torcedor

Zagueiro tem carreira consagrada em clubes europeus, mas imagem desgastada na seleção brasileira

Não foi um anúncio oficial de aposentadoria. Aos 39 anos, o zagueiro Thiago Silva se despediu do Chelsea como atleta, deixando no ar a possibilidade de voltar a colaborar com o clube londrino de alguma forma. Em seu futuro próximo pode pintar um retorno ao Fluminense, clube em que despontou para o sucesso.

Thiago é personagem controverso no Brasil. Zagueiro indiscutivelmente de primeiríssimo nível, goza de prestígio e respeito na Europa, mas seu desempenho com a camisa da seleção brasileira interfere na percepção geral de sua importância.

A liderança desempenhada por Thiago Silva nos clubes era esperada pela torcida quando ele vestia a camisa da seleção. Mas o desempenho ruim na Copa de 2014 e, principalmente, o choro copioso na decisão por pênaltis contra o Chile, nas oitava-de-final, prejudicaram a imagem do zagueiro em território nacional.

Houve outras situações, como uma discussão pública com Dunga, quando o treinador retirou dele a tarja de capitão, e Thiago ralhou de maneira prepotente.

Embora tenha disputado quatro Copas do Mundo com a camisa da seleção brasileira, Thiago Silva jamais chegou a ser uma unanimidade como líder do time nacional. A crueldade de algumas análises de torcedores e de nós, jornalistas, em relação a erros cometidos pelo jogador em lances decisivos de competições importantes contribuiu – e muito – para essa percepção.

É verdade que isso também ocorreu na passagem do zagueiro pelo Paris Saint-Germain. Ainda que tenha empilhado taças na França, parte da torcida cobra o jogador por falhas em jogos importantes, como uma mão boba na bola num duelo de Champions contra o Napoli, na edição de 2015/16. Ou uma polêmica em 2017/18, antes de jogo contra o Real Madrid, quando deixou escapar propositalmente que seria sacado do time, criando péssimo clima.

Pesa sobre Thiago Silva uma cobrança maior em relação aos erros cometidos do que reconhecimento aos acertos acumulados. Talvez isso se deva a uma postura arrogante do atleta em determinados momentos de sua carreira, ou até mesmo à personalidade forte em algumas declarações, que contrasta com aquela imagem do choro no Mineirão que o perseguirá para sempre.

Tecnicamente, o zagueiro é indiscutível. Chamado de Monstro pela torcida do Fluminense, Thiago Silva tem técnica refinada, elegância e carreira vencedora. Pela seleção brasileira, ganhou uma Copa América e a Copa das Confederações de 2013. Faturou uma Champions e um Mundial de Clubes pelo Chelsea. Na França, foi sete vezes campeão da Liga e acumulou 18 taças de copas.

Que cenário se desenha agora para alguém com vida financeira resolvida e currículo esportivo privilegiado? Aos 39 anos, Thiago Silva dificilmente encontrará vaga em times de ponta na Europa. Três situações parecem se apresentar no horizonte. A primeira, retornar ao Fluminense, cumprindo o roteiro de jogadores que encerram a carreira pelos times que os revelaram. Outro passo seria atuar na Major League Soccer, nos Estados Unidos, um desejo comum das famílias de jogadores brasileiros. Uma terceira possibilidade seria reforçar o caixa atuando na Liga Saudita, em cujo perfil de contratação ele se encaixa.

Um eventual retorno ao Fluminense pode oferecer a Thiago Silva uma oportunidade de reconciliação com a torcida brasileira. Ele seria certamente recebido com festa nas Laranjeiras, onde não teria rejeição. Por ser um atleta de excelência técnica, pode ainda jogar em ótimo nível no Brasil e mostrar que sua carreira não deve ser avaliada somente por falhas em momentos decisivos e o descontrole emocional de 2014.

Pelo que construiu como jogador de clube, ele merece essa oportunidade de reconciliação com o público brasileiro.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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