Premier League votará medida para proibir empréstimos entre clubes do mesmo dono
O futebol europeu continua se movimentando para se adaptar à nova realidade das multipropriedades e Premier League está agindo para vetar empréstimos entre clubes do mesmo dono
A Premier League votará em sua próxima reunião, marcada para 21 de novembro, para proibir empréstimos entre clubes do mesmo dono, segundo o site inglês The Athletic, uma medida temporária para proteger a integridade da competição em um primeiro momento, antes de delimitar regras mais abrangentes para lidar com esta nova dinâmica do futebol mundial.
A questão ganhou urgência maior depois de especulações de que o Newcastle poderia contratar o meia português Rúben Neves por empréstimo após Sandro Tonali ser suspenso por 10 meses por violar regras de apostas. Neves foi vendido para o Al-Hilal, um dos quatro clubes sauditas que foram estatizados pelo Fundo Soberano da Arábia Saudita, acionista majoritário do Newcastle.
De acordo com o The Athletic, a movimentação não tem o objetivo explícito de impedir que o Newcastle solucione o seu problema com o empréstimo de Rúben Neves, e outras questões envolvendo a multipropriedade de clubes estão na mesa, incluindo patrocínio master dos uniformes, mas há uma “preocupação crescente” entre vários dos 20 membros da Premier League.
No momento, segundo a reportagem, não há nada que impeça um clube da Premier League de vender um jogador em uma janela e trazê-lo de volta por empréstimo ou por transferência definitiva na seguinte, desde que o valor corresponda ao mercado. Alguns clubes querem que haja uma restrição de pelo menos duas janelas após a transação inicial.
A medida precisará de dois terços de aprovação (14 dos 20 clubes) para ser aprovada.
Os desafios da multipropriedade
A multipropriedade é quando um empresário ou um grupo é dono, ou acionista majoritário, de mais de um clube. Os exemplos mais notórios são o da Red Bull, que abriu franquias em Salzburg, Leipzig e Bragança Paulista, ou o Manchester City, com uma rede de influência que vai da Austrália à Bahia, passando por lugares como Girona, Nova York e Palermo.
Os desafios começam na própria integridade da competição. O que acontece quando clubes do mesmo dono disputam a mesma competição? O primeiro teste à Uefa foi em 2017, quando Red Bull Salzburg e RB Leipzig chegaram à Champions League. A entidade investigou o caso e ficou satisfeita que não havia um mesmo “indivíduo ou entidade com influência decisiva” em ambos porque as diretorias eram diferentes.
Antes desta temporada, a Uefa avaliou os casos do Toulouse (Liga Europa) e do Milan (Champions League), ambos do fundo de investimentos americano Red Bird. São competições diferentes, mas os italianos podem cair para a Liga Europa se ficarem em terceiro lugar.
Outros casos investigados foram da Union Saint-Gilloise (Liga Europa) e do Brighton (Liga Europa), do portfólio do empresário Tony Bloom, e do Aston Villa (Conference League) e do Vitória de Guimarães (Conference League), do egípcio Nassef Sawiris.
Uma segunda ameaça identificada pela Uefa é de distorção no mercado de transferências porque uma “porcentagem crescente de negócios executados dentro de grupos de investimentos em vários clubes é sem custos ou por empréstimo, ou seja, sem taxas de transferências”, segundo um relatório que produziu. Um exemplo claro aqui é do Lyon. O Molenbeek, outro clube de John Textor, comprou o garoto Ernest Nuamah, do Nordsjaelland, por € 25 milhões, e o emprestou para os franceses, sob grave crise financeira.
Sem regras bem claras, a multipropriedade é um prato cheio para driblar o Fair Play Financeiro ou outras regras que controlam investimentos externos. Um potencial conflito de interesses surgiu na última janela de transferências quando o Al-Ahli, um dos quatro clubes estatizados pela Arábia Saudita, comprou Allan Saint-Maximin do Newcastle. O valor foi razoável para o mercado, mas era exatamente o jogador que os ingleses queriam vender para equilibrar as contas e não precisaram suar para encontrar um interessado.
O hipotético empréstimo de Rúben Neves seria a artimanha mais escancarada até agora e não é uma questão que toca apenas ao Newcastle e aos sauditas na Premier League. O Manchester City poderia fazer a mesma coisa entre os seus clubes se precisar, ou o próprio Chelsea, que começou a estender seus tentáculos em junho quando comprou o Strasburg, da França.