Inglaterra

Funcionários questionaram como Manchester United trata as mulheres – não apenas nos casos famosos

O tratamento às mulheres, não apenas nos casos famosos, foi o principal assunto de uma reunião geral conduzida pelo executivo chefe dos Red Devils, Richard Arnold, em setembro

Funcionários do Manchester United questionaram o principal executivo do clube, Richard Arnold, em uma reunião realizada em meados de setembro, sobre o tratamento às mulheres em questões que vão além dos casos Antony e Mason Greenwood. Segundo o relato do The Athletic, as perguntas foram feitas anonimamente, para evitar medo de represália, e a insatisfação geral era bem grande.

O caso Greenwood

Mason Greenwood, importante promessa das categorias de base, passou um ano e meio afastado enquanto respondia a acusações de tentativa de estupro, coerção e agressão contra uma ex-namorada. Áudios, vídeos e fotos detalhando a violência chegaram a ser publicados na internet antes de serem apagados. O Serviço de Promotoria da Coroa decidiu interromper o caso no último mês de fevereiro após a “retirada de testemunhas-chaves e novo material que veio à tona”.

O próximo passo era descobrir o que o Manchester United faria em seguida. O clube anunciou uma investigação própria e parecia propenso a reintegrá-lo ao elenco, o que gerou uma forte reação do público. Comentaristas, políticos, jornalistas e até entidades contra a violência doméstica foram listados como “hostis” internamente por serem contra a ideia, o que apenas aumentou a repercussão negativa. Greenwood acabou emprestado para o Getafe.

No comunicado anunciando que o jogador não defenderia mais o clube, o Manchester United disse que, após concluir sua investigação, Greenwood não havia cometido as agressões pelas quais foi originalmente acusado. Arnold foi questionado na reunião sobre como o clube está lidando com “reações negativas, odiosas e nojentas contra e equipe feminina, funcionárias e mulheres em geral nas redes sociais”, além de ofensas por e-mail e pessoalmente durante as partidas, motivadas pela declaração oficial de que o jogador é inocente.

O executivo afirmou que ninguém deveria estar recebendo contato “negativo, odioso ou abusivo em qualquer situação”, prometeu apoio a funcionários quando isso acontecer e acrescentou que o clube aprendeu muito com o caso Greenwood.

– A primeira coisa é continuar a fortalecer o apoio à educação e ao bem-estar dos jogadores para garantir a promoção de relações e comportamentos mais saudáveis. Também revisamos nosso processo para lidar com acusações para assegurar que temos parâmetros robustos e consistentes no futuro. A outra coisa que aprendemos é ouvir o feedback de organizações que combatem violência doméstica e outros grupos. Trabalhamos junto com elas por um tempo para garantir que a linguagem que usamos é sensível às perspectivas de sobreviventes de abuso que possam não estar envolvidas com este caso específico, mas que acham, compreensivelmente, que a situação é muito sensível e vamos continuar fazendo isso daqui para frente – disse.

- - Continua após o recado - -

Assine a newsletter da Trivela e junte-se à nossa comunidade. Receba conteúdo exclusivo toda semana e concorra a prêmios incríveis!

Já somos mais de 3.200 apaixonados por futebol!

Ao se inscrever, você concorda com a nossa Termos de Uso.

O caso Antony

Antony foi afastado do Manchester United por cerca de três semanas, após acusações às quais responde na Justiça brasileira também chegarem à polícia britânica. Ele está sendo investigado por agressão contra uma ex-namorada que teriam acontecido várias vezes em junho de 2022 e em maio deste ano. O ponta foi cortado da seleção brasileira por causa do caso. Ele foi reintegrado ao elenco de Ten Hag no final de setembro e já voltou a atuar.

Os funcionários perguntaram a Arnold se o clube estava ciente das acusações antes de contratar Antony do Ajax por € 100 milhões no mercado do verão europeu de 2022.

– Como acontece com cada jogador, nós conduzimos uma avaliação detalhada que incluiu a ajuda de agências terceirizadas especialistas externamente. Documentos da polícia continuam confidenciais para a pessoa que os envia à polícia no Brasil. Então, pessoas alegando (que sabíamos) não estão cientes de como o processo funciona no Brasil.

– Nossa avaliação incluiu a checagem de registros legais no Brasil, como acontece com jogadores que trazemos. Fizemos essa avaliação. Isso não foi destacado e, na verdade, a alegação que as pessoas dizem que levou ao registro policial foi retirada na época. E, novamente, há cobertura sobre isso na internet e não entrarei em mais detalhes. Absolutamente não é o caso de que sabíamos disso e encobrimos – completou.

Outros problemas envolvendo as mulheres

Os questionamentos dos funcionários foram além dos casos dos jogadores e também tocaram em processos internos envolvendo as mulheres.

Uma pergunta questionou Arnold sobre o “comportamento desconfortável” de funcionários homens direcionado às mulheres e perguntou como ele poderia garantir que as funcionárias fossem respeitadas e valorizadas dentro do Manchester United.

Ele respondeu genericamente que “qualquer linguagem abusiva, desrespeitosa ou sexista não é aceitável por ninguém neste clube e que qualquer um afetado deve relatar os exemplos imediatamente, para o administrador do setor, aos recursos humanos ou à liderança executiva”.

Outra pergunta citou o sucesso recente do time feminino do Manchester United, que chegou pela primeira vez à Champions League, foi finalista da Copa da Inglaterra e segundo colocado na Superliga Feminina, e lembrou que ainda existe uma diferença grande de pagamento, que se reflete no ambiente de trabalho. Acrescentou que o slogan “Todos Vermelhos, Todos Iguais” “não existe dentro das operações e diretrizes do nosso clube”.

Arnold usou o argumento de sempre de que não é possível igualar os pagamentos de jogadores e jogadoras antes que o futebol feminino gere receitas similares.

– Os fatos e as ações nessa área falam por si próprios. Estamos muito investidos nas jogadoras, funcionários e instalações para o desenvolvimento do nosso time feminino e isso se reflete nos resultados em campo. Eu encorajaria todos a aproveitar a oportunidade de ver nossas instalações que construímos neste verão para nosso time feminino. Somos tão ou mais competitivos que todos os outros principais clubes da Europa e estamos comprometidos a continuar assim. Os patamares de investimentos têm sido significativos no time feminino e isso é algo que nos deixa felizes e orgulhosos.

– A questão de pagamento igualitário para as jogadoras é levantada com frequência e acho que a realidade atualmente, em termos de onde está a economia do futebol feminino, em termos de receitas de TV, bilheteria e premiação de competições, é que uma tentativa de igualar o pagamento resultaria em um colapso do jogo feminino porque as receitas não estão ali, ou para o futebol feminino respaldar essa situação.

– Mas nosso trabalho é fazer as receitas crescerem para que possam ser algo respaldado nos próximos anos. E estamos na vanguarda disso. E, novamente, pagamentos e investimentos estão em linha ou são melhores que os principais clubes da Europa – explicou.

A reportagem do The Athletic, porém, apontou que, excluindo os pagamentos aos jogadores e jogadoras profissionais, a média por hora que uma funcionária do Manchester United recebe é 36,9% menor que a dos homens em salários e 22,7% menor em bônus.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
Botão Voltar ao topo