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Bélgica confiou demais em si. E foi punida

Nas declarações anteriores ao jogo contra a Argentina, pelas quartas de final, os escolhidos da Bélgica para a entrevista coletiva demonstraram segurança. Principalmente Marc Wilmots, que apregoou: “Não mudaremos nosso esquema. Quero um estilo ofensivo no time. Temos qualidade para impor nosso estilo à partida”. Pois bem: o gol precoce de Gonzalo Higuaín inviabilizou a hipótese, aproveitando o erro belga na estratégia do início. E os Diabos Vermelhos não conseguiram sair da armadilha. Por isso, caíram fora da Copa. Nas quartas de final, como se esperava racionalmente.

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Mas afinal de contas, qual foi o erro belga no começo do jogo? Simples: distância excessiva entre as chamadas “linhas de quatro”. É estranho falar um linguajar tão tático, mas ao ver o jogo a estranheza se esclarece: a linha de quatro defensores estava distante demais dos três meio-campistas. Isso não atrapalhava tanto o ataque. Mas permitia que a Argentina trocasse passes curtos no meio. Algo que provavelmente não traria problemas aos belgas… não tivesse a Argentina gente de qualidade na parte ofensiva do time, como Ángel di María (que esteve ótimo enquanto ficou em campo), Gonzalo Higuaín e, principalmente, Lionel Messi.

Nesses toques rápidos impostos no ataque, a Argentina podia fazer inversões rápidas de jogo. Que iam principalmente para a esquerda, onde Lavezzi já se mostrava francamente superior a Alderweireld, de performance fraca neste sábado. E tanto foi rápida que, num lance até de sorte, conseguiu o gol que seria decisivo: Di María passou errado, mas a bola bateu no pé de Vertonghen e ficou perfeita para Higuaín bater fora do alcance de Courtois, fazendo 1 a 0.

O pior é que nem levar o gol deu um chacoalhão na seleção da Bélgica. Não raramente, a Argentina teve boas chances no primeiro tempo, ganhando fisicamente dos belgas. Só não fez mais gols porque Kompany se afirmou como zagueiro de primeira categoria, dando os botes na hora certa e evitando que Courtois tivesse problemas. Quando eles apareciam, o camisa 1 reafirmava sua posição entre os melhores goleiros da Copa, com imponência e calma dentro da área – como na primorosa defesa em chute de Messi, já nos acréscimos do segundo tempo.

Mas na defesa, faltava quase sempre a Kompany a ajuda de Van Buyten – que não estava mal, mas parecia cansado. Nas laterais, Alderweireld foi o ponto fraco da Bélgica. Não só foi facilmente superado por Lavezzi, como também cometeu faltas demais. Vertonghen não foi ruim, mas foi discreto: tentou muitos cruzamentos para a área, com sucesso em poucos deles.

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O pior foi notar que nem o meio-campo ajudou desta vez. Primeiro, pela própria incapacidade dos jogadores: Fellaini foi mais tímido na chegada aos ataques, e De Bruyne apenas tentava as jogadas, sem conseguir deixar os atacantes na cara do gol. Mas talvez, mesmo se deixasse, não conseguiria êxito: Hazard, Origi e Mirallas fizeram suas piores partidas na Copa, inapetentes, sem causar tormento algum.

E mesmo com a tentativa progressiva dos belgas em lançar bolas para a área, desde a metade do segundo tempo, a defesa argentina também se mostrou bastante segura. Às vezes, Romero dava alguns problemas, mas o miolo quase sempre se esforçou bastante, com Garay e Demichelis, ainda com o auxílio de Basanta. Além deles, os volantes argentinos recuavam e ajudavam, principalmente com Biglia (ótima partida). Com isso, além da partida deficiente do ataque belga, o esforço dos defensores argentinos definiu o triunfo. E nem mesmo as entradas de Lukaku e Mertens ajudaram a tornar a Bélgica mais calma no ataque.

Claro, depois, em entrevista à RTBF, a emissora pública da Bélgica, ainda no gramado, Marc Wilmots reconheceu os erros: “Tentamos fazer o jogo, mas cometemos uma falha e pagamos o preço”. De fato, a falha defensiva no primeiro tempo e a falta de calma para atacar foram decisivas para a seleção cair nas quartas de final. A Bélgica não tomou cuidados necessários, e agora sofre por causa deles.

Mas os Diabos Vermelhos ganharam uma experiência muito importante para a sequência desta geração, que fez o que era esperado dela. Ela certamente voltará na Euro 2016, caso pegue um grupo fácil nas Eliminatórias. E sai da Copa com duas certezas: sim, há certo talento ali. Mas se a defesa parece pronta, ainda faltam atacantes e laterais confiáveis. Assuntos pendentes para o próximo ciclo.

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