Quando o 10 não decidiu, o 9 acordou. Pelo menos na Argentina foi assim

Não era uma Copa do Mundo brilhante de Gonzalo Higuaín. Longe disso. O atacante vinha de uma lesão recente e, por isso mesmo, começou o Mundial no banco. Até jogou bem algumas partidas, ajudando o ataque a abrir espaços. Mas era muito pouco para o centroavante. Aquele que, apesar de contar com Messi ao lado, ainda tem a missão de marcar gols. Cinco jogos depois, Pipita acordou com inteligência e inspiração. Para ter uma atuação fora de série contra a Bélgica, colocar a Argentina na semifinal da Copa depois de 24 anos. Para ser muito mais do que um apoio a Messi, mas também para dividir o protagonismo com ele.
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O gol decisivo foi também um alívio à pressão que poderia pintar sobre a Argentina. Logo aos oito minutos, o chutaço de peito de pé. Como dizem, na veia. Foi inteligentíssimo para ajeitar o corpo e bater de primeira, sem dar tempo de reação aos zagueiros. O suficiente para vencer Thibaut Courtois, na ótima Copa que o camisa 1 belga fazia. Higuaín resolvia o jogo logo ali, para que a Albiceleste pudesse desfrutar melhor de seus lances de ataque e administrasse o placar contra o potente ataque da Bélgica – muito bem controlado no Mané Garrincha.
Higuaín não foi participante a todo o momento.Sem ser o mais intenso do time, mais uma vez Messi, com enfiadas precisas e dribles geniais. O centroavante, contudo, foi o parceiro que faltou ao camisa 10 a partir da ausência de Ángel Di María. De maneira diferente, é claro. Mas a forma como Higuaín brigou com os zagueiros belgas foi exemplar. E seus lampejos foram responsáveis pelas melhores chances no Mané Garrincha.
No segundo tempo, até parecia que Higuaín tinha sido possuído pelo espírito de Maradona. Talvez devesse tocar, mas não. Outra vez foi inteligente, para surpreender. Arrancou da intermediária e botou a bola por entre as pernas de Kompany, que fazia partida impecável até então. Encheu o pé para tentar bater Courtois pela segunda vez, só que a bola foi caprichosa demais e tocou no travessão antes de sair. Alejandro Sabella quase caiu para trás ao ver o lance. Foi o melhor momento da Argentina no segundo tempo. Em muito tempo, até o tento perdido por Messi já nos acréscimos.
Merecidamente, Higuaín foi aplaudido de pé em sua substituição no final do jogo, para que Fernando Gago pudesse fechar o meio-campo. Se a Argentina veio à Copa do Mundo com tanto favoritismo, era muito por sua qualidade no ataque. E não só por conta de Messi. Ao lado de Di María, Higuaín é quem mais mostra que a Albiceleste tem muito mais alternativas para vencer. E poderá ser ainda mais importante nas próximas duas etapas da competição. Quando o camisa 10 não consegue resolver sozinho, ele sabe que pode contar com o 9 ao seu lado.