Futebol feminino

Bahia x Flamengo: a distância entre dois clubes que enxergam o futebol feminino de maneiras opostas

Desenvolver o futebol feminino passa por categorias de base, estrutura, competições e muito mais do que uma obrigatoriedade de times

Na última quarta-feira (3), o futebol feminino brasileiro viu duas notícias opostas circularem.

A primeira foi de que o Flamengo decide fechar as suas categorias de base (sub-15 e sub-17) sem aviso prévio. Na segunda, o Bahia anunciou uma nova ala exclusiva no CT Evaristo de Macedo para o futebol feminino.

Enquanto um clube aponta para o desenvolvimento e o incentivo à modalidade, o outro migra para o retrocesso e descaso com atletas. De certa forma, as atitudes contraditórias simbolizam o momento da modalidade no país.

Flamengo e o fim da categoria de base feminina

O projeto de futebol feminino existe há alguns anos no Flamengo e os treinos de todas as categorias acontecem no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes, o Cefan, no Rio de Janeiro.

O Cefan fica na Zona Norte do Rio, há quase 40 quilômetros do Ninho do Urubu, na Zona Oeste, casa do elenco masculino rubro-negro.

As atletas, ao chegarem no local para mais um dia de treino, foram avisadas pelos professores e técnicos que o Flamengo havia fechado as categorias sub-15 e sub-17. A informação foi dada em primeira mão pela ESPN.

O clube decidiu, entretanto, manter o sub-20, mas com algumas atletas mais jovens das categorias encerradas. A decisão, obviamente, deixou os pais das atletas revoltados. A base do Flamengo, inclusive, teve jogadoras convocadas para a seleção feminina.

— No auge econômico do Flamengo, num ano em que o Brasil ganhou o direito de ser sede da Copa do Mundo Feminina, o presidente (Rodolfo) Landim resolveu acabar com as divisões de base. A gente não pode se calar diante desta covardia que eles fizeram com nossas atletas — disse um dos pais à ESPN.

O Flamengo informou que as jogadoras poderão continuar a treinar às sextas-feiras no Cefan, mas num programa chamado de “Monitoramento”. Até o momento, o time carioca não se pronunciou sobre o ocorrido.

No Rio de Janeiro, o Flamengo era o único clube a ter as categorias de base. Fluminense e Botafogo (e agora também o Rubro-Negro) além do profissional, tem time no sub-20. No Vasco, apenas o profissional.

O Flamengo é o atual 8º colocado na primeira divisão do Brasileirão feminino.

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Na contramão, Bahia busca melhorar condições para as atletas

Localizado no prédio Edvaldo dos Santos (Baiaco) dentro do CT Evaristo de Macedo (o mesmo utilizado pelo time profissional masculino), o novo espaço para treinamento do futebol feminino do Bahia passou por uma reforma recente completa.

Hoje, o lugar possui três salas, sendo uma de reunião, e outras duas que serão de uso da gerente de futebol e do supervisor do futebol feminino.

Na nova ala, as atletas terão também um espaço de convivência e descanso. Como decoração, os corredores do local receberam fotos das atletas durante jogos. Em uma das paredes, a frase “lugar de mulher é onde ela quiser”.

Bahia inaugura espaço para o futebol feminino no CT. (Foto: Rafael Rodrigues / Flickr EC Bahia)

Carol Melo, gerente de futebol feminino do Bahia, falou na inauguração do local sobre como o clube enxerga atualmente o futebol feminino e principalmente a importância do novo espaço para as atletas e para o desenvolvimento da modalidade de uma forma multidisciplinar.

— É um clube muito mais consciente, a gente sabe que o futebol feminino tem a obrigatoriedade que ali é atrelado e muitas vezes é feito, mas não é feito da maneira que deve ser — declarou.

— E eu acho que a gente vive um momento diferente aqui no Bahia. Não só com a inauguração da estrutura, mas também com todo o apoio da diretoria, da gestão, todo o apoio multidisciplinar dentro de campo — disse.

O Bahia disputa a segunda divisão do campeonato nacional e, atualmente, lidera seu grupo na competição.

Essa é a realidade do país que será sede de uma histórica Copa do Mundo de futebol feminino

As duas realidades mostram o futebol feminino no país, que tenta crescer aos trancos e barrancos, mas enfrenta ainda barreiras de dirigentes de clubes e entidades — estes fecham os olhos para o sonho de meninas que buscam um dia ser o que Marta, Sissi, Cristiane, Formiga e já foram e ainda são.

Desde 2019, é obrigatório que clubes da Série A tenham times femininos. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, já sinalizou no ano passado que a ideia é que os times das séries B, C e D também tenham times femininos até 2027.

A obrigatoriedade é um passo, mas não é a solução. Desenvolver o futebol feminino, a partir das categorias de base, com boa estrutura e um calendário de jogos, é necessário e urgente no Brasil. E isso envolve clubes, federações estaduais e também a CBF.

Vale lembrar que o Brasil foi escolhido pela Fifa para ser o país-sede da Copa do Mundo Feminina de 2027. A competição, inclusive, é um marco para o futebol feminino mundial. Esta será a 10ª edição e trará a expansão de 24 para 32 seleções participantes.

Foto de Gabriella Telles

Gabriella TellesRedatora de esportes

Gabriella Telles é jornalista formada pela UFRJ, faz pós-graduação em Gestão Estratégica de Marketing. Já trabalhou na TNT Sports na cobertura da Rio 2016, futebol internacional e eSports. Nascida e criada no subúrbio do Rio de Janeiro.
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