Copa do Mundo Feminina

A estreia de Sophia Smith em Copas soou como a anunciação de uma gigante

Sophia Smith marcou dois gols e deu uma assistência na sua primeira partida em Mundiais, aos 22 anos

A seleção dos Estados Unidos atravessa um momento de transição na Copa do Mundo Feminina. As veteranas bicampeãs do mundo em 2015 e 2019 passam o bastão para novas protagonistas, sobretudo no ataque. E a estreia do US Team no Mundial seria uma mostra de que o novo veio mesmo para ficar. A vitória por 3 a 0 sobre o Vietnã teve entre seus destaques algumas dessas novatas. Trinity Rodman voou baixo na ponta direita. Entretanto, a grande responsável pelo placar estava do outro lado, na ponta esquerda. Sophia Smith marcou dois gols, deu uma assistência e fez Megan Rapinoe dizer que o “céu é o limite” à jovem de 22 anos.

— O que você pode dizer sobre essa atuação? Ela foi incrível. Ela é incrível. Isso não é surpresa para mim, para qualquer um de nós. Ela tem feito isso na liga há anos. O céu é o limite para Sophia. Realmente, atuando neste nível, tão jovem, ela pode fazer o que quiser. Recordes existem para serem quebrados. Ela já está no topo, e tem apenas 22 anos. — comentou Rapinoe, que entrou no segundo tempo da partida.

Incentivo em casa fez a diferença

Sophia Smith recebeu incentivos para se tornar jogadora desde muito cedo. A garota criada em Windsor, Colorado, vinha de uma família cheia de atletas universitários – tanto seu pai quanto sua mãe foram jogadores de basquete na NCAA. O futebol se tornou parte de sua rotina ainda aos quatro anos. A garota também experimentou seus talentos no basquete, no vôlei e no atletismo. Entretanto, a capacidade goleadora falou mais alto. Smith se destacava inclusive entre as duas irmãs mais velhas e queria vencer sempre.

— Pratiquei muitos esportes quando criança e, depois, no primeiro ano do Ensino Médio, fiquei super ocupada com isso. Chegou ao ponto em que tive que decidir. Para mim, foi muito fácil escolher o esporte. Eu amava o futebol e sentia que poderia ser eu mesma quando jogava bola. — declarou a atacante, em entrevista ao Stanford Daily.

Um momento especial para Sophia Smith aconteceu quando tinha sete anos. A menina conheceu Abby Wambach, lenda da seleção dos Estados Unidos e maior artilheira da história da equipe nacional. Anos depois, a jovem resgatou a foto nas redes sociais e disse que a veterana era a “grande razão” para que sua chegada na seleção acontecesse e que a “inspirou a seguir seus sonhos”. Ao site da Fifa, Smith também declarou que Marta é outra grande referência e ela “amava ver os vídeos da brasileira o tempo todo”. Também citou Messi, Neymar e “jogadores com muita criatividade”.

Aos 11 anos, Sophia Smith passou a treinar no Real Colorado, clube de referência em sua região. Já o grande passo aconteceu na universidade, em Stanford. Smith já era reconhecida como um grande talento desde o Ensino Médio, mas elevou o sarrafo no futebol universitário. Sua primeira temporada com Stanford aconteceu em 2018, com bons números. Já em 2019, a atacante liderou a conquista da NCAA. Estava pronta para o nível mais alto. Auxiliava também a fama que construía nas seleções de base. Smith atuou no Mundial Sub-17 de 2016 e no Mundial Sub-20 de 2018.

O prêmio das mãos do pai

Sophia Smith entrou no draft em 2020. Foi a primeira escolha geral, contratada pelo Portland Thorns. Tornou-se aquilo que se chama de “franchise player” nos Estados Unidos: a craque que lidera uma franquia. Por causa da pandemia, sua estreia na NWSL só aconteceu efetivamente em 2021. O Portland Thorns teve a melhor campanha da temporada regular e levou o título da copa nacional, mas sem abocanhar o principal troféu. Já em 2022, a NWSL ficou com o time do Oregon, campeão pela primeira vez em cinco anos. Smith ganhou o prêmio de MVP mesmo num time com a lendária Christine Sinclair, sua companheira de ataque.

Sophia Smith se mostrava pronta para se tornar protagonista na seleção dos Estados Unidos. Sua estreia aconteceu ainda em 2020 e a atacante se tornou a primeira jogadora nascida nos anos 2000 a atuar pela seleção. Conquistou seus primeiros títulos na SheBelieves Cup, bem como contribuiu no troféu do Campeonato Feminino da Concacaf. Vinha em grande forma para a Copa do Mundo, algo comprovado logo em sua estreia.

A movimentação de Smith impressionou na partida contra o Vietnã. A atacante foi muito participativa e também efetiva. Aproveitou o grande passe de Alex Morgan para fazer o primeiro gol, foi oportunista no segundo, criou a jogada para Lindsey Horan anotar o terceiro. Finalizou cinco vezes, criou três chances para as companheiras, acertou seis dribles. O prêmio de melhor em campo não poderia estar em melhores mãos. E mais bonita ainda foi a entrega, feita por seu pai.

— Foi muito divertido. Era uma atmosfera muito boa. Estamos felizes com o resultado e empolgadas para o próximo jogo, porque sei que temos muito mais para dar. Estou interessada em ganhar a Copa. Estou confiante. Acredito muito nesse time. Vejo essas jogadoras todos os dias. — declarou Smith, na saída de campo.

Com tamanha vontade e também se divertindo, não se duvida do talento. Nesta estreia, a novata já sobrou.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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