Acusado de racismo, Christophe Galtier, ex-técnico do PSG, vai a julgamento na França
Então no Nice, Christophe Galtier teria reclamado ao diretor de futebol da quantidade de negros e muçulmanos, sendo que os detalhes dos depoimentos surpreendentes foram revelados

No dia 15 de dezembro, Christophe Galtier irá a julgamento na França sob acusações de discriminação e assédio moral quando treinava o Nice (2021/22). À época, o treinador teria feito comentários inapropriados sobre jogadores muçulmanos, assim como os forçando a quebrar o jejum do Ramadã, além de descrever dois zagueiros negros como “King Kongs”. Ele nega todas as acusações.
Após três meses de investigação, o Ministério Público de Nice decidiu convocar Galtier ao tribunal para responder à acusação de “assédio moral e discriminação com base no pertencimento ou não pertencimento, verdadeiro ou suposto, a um grupo étnico, a uma nação, uma raça ou uma religião específica. O técnico francês pode ser condenado a três anos de prisão e uma multa de € 45 mil (cerca de R$ 240 mil).
O escândalo começou no início de 2023, quando o jornalista independente e influenciador Romain Molina e a RMC Sport revelaram o conteúdo de um e-mail enviado por Julien Fournier (diretor de futebol do Nice entre agosto de 2019 e julho de 2022) para Dave Brailsford, diretor esportivo da Ineos (empresa dona do clube).
Durante seu relato, Fournier revela que teve uma conversa com Christophe Galtier em seu escritório no dia 9 de agosto de 2021, quando o técnico teria dito que o Nice deveria “levar em conta a realidade da cidade” e não poderia contar com tantos “negros e muçulmanos”. A polêmica explodiu na França e o Ministério Público da cidade abriu uma investigação preliminar no dia 14 de abril, realizando buscas nas instalações do club. e.
O técnico, que passou pelo PSG na temporada 2022/23 e está no Al Duhail, do Catar, desde outubro, disse em interrogatório sob custódia policial que “se ele (Julien Fournier) quisesse destruir o homem que sou, não poderia ter feito melhor. E pago um preço alto por isso”. Todas as informações são do jornal francês L'Equipe.
The Christophe Galtier case is incredibly troubling…
How did someone with such abhorrent racist views not only survive in the game but thrive in it?
— Dougie Critchley (@DougieCritchley) December 5, 2023
Entenda a polêmica envolvendo Christophe Galtier na França
O ex-treinador do Nice não tinha boa relação com Fournier. E isso sustenta parte da defesa de Christophe Galtier, que nega escolher seus jogadores com base em religião ou raça; nega ter exigido a saída de alguns jogadores muçulmanos; nega tê-los forçado a quebrar o jejum durante o Ramadã. Segundo o acusado, tudo isso seria uma tentativa do então dirigente em “prejudicá-lo”, uma espécie de “acerto de contas” e uma “instrumentalização dos jogadores”.
Frédéric Gioria, lenda do Nice e então treinador adjunto, garantiu à polícia que, assim como Julien Fournier, ouviu Galtier declarar sobre a alta quantidade de “negros e muçulmanos” no time. Ele ainda declarou que testemunhou a irritação do técnico quando soube da contração de Billal Brahimi, atacante franco-argelino, em janeiro de 2022:
“Outro muçulmano, eu não quero isso, já chega”, teria dito Christophe Galtier a Gioria.
O ídolo do Nice também disse que ouviu Galtier descrever Youcef Atal e Hicham Boudaoui, ambos argelinos, como “sujos”. Gioria também alega que o treinador francês teria esbravejado: “os piores são os argelinos”. O acusado negou todas as declarações do treinador adjunto.
Hachim Ali Mbaé, ex-analista de vídeo do OGC Nice, declarou aos investigadores que ficou chocado no dia da partida contra o Saint-Éttiene, em setembro de 2021. No intervalo, ao expressar sua estratégia, Christophe Galtier teria apelidado os zagueiros adversários Harold Moukoudi e Mickaël Nadé como os “dois King Kongs”.
Técnico teria forçado jogadores muçulmanos a quebrar o jejum do Ramadã
Um dia antes do início do Ramadã, em 31 de março de 2022, Fournier e Galtier tiveram uma reunião para tratar sobre quais jogadores estavam nos planos para a temporada seguinte. De acordo com o depoimento do ex-diretor de futebol do Nice, o treinador francês listou os nomes de quem gostaria que fossem embora: Atal, Todibo, Boudaoui, entre outros. Quase todos os muçulmanos do elenco. Após uma discussão, o acusado teria dito:
“Julien, você ainda não entende. Não quero mais negros nem árabes”.
Christophe Galtier também nega as acusações, dizendo não entender como deixaria alguns de seus melhores atletas irem embora. Antes do Ramdã, a nutricionista do clube enviou por e-mail ao técnico uma “recapitulação” no qual detalha os “hábitos alimentares e culturais” dos jogadores muçulmanos, indicando aqueles que seguem o Ramadã e outros que estavam dispostos a quebrar o jejum em dias de jogos.
??| @lequipe publishes the details of the accusations against Christophe Galtier after testimony from the players and the management of OGC Nice to the police.
The article reveals that:
Jean-Clair Todibo explained that he was pressured by Christophe Galtier to break his… pic.twitter.com/F5V42J1S0v
— CentreGoals. (@centregoals) December 5, 2023
Caso contrário, os jogadores são incentivados a acordar às 5h, antes do amanhecer, para tomar um farto café da manhã, adequado para a privação de alimentos durante o dia. Ele chegou a fazer uma lista de lesões que podem estar ligadas à falta de água ou nutrição (risco cardíaco, lesão muscular, etc.).
Questionado pela polícia, Jean-Clair Todibo explica que foi pressionado por Galtier para quebrar o jejum do Ramadã. Hicham Boudaoui também disse que sentiu que tinha sofrido “pressão” às vésperas do ritual islâmico. O mesmo vale para Teddy Boulhendi, terceiro goleiro do Nice, que declarou se sentir “obrigado a comer em dias de jogos ou correr o risco de não ser relacionado”. Pablo Rosario, meia holandês, também indicou que sentiu discriminação por ser muçulmano, o que o levou, contrariamente aos seus hábitos, a quebrar o jejum.
Advogados do treinador reagem
“Christophe Galtier está determinado 10 dias antes desta audiência. Ele reserva suas declarações para o tribunal. Ele está finalmente aguardando este debate público e contraditório onde demonstrará que obviamente nunca discriminou ou assediou ninguém. Toda a sua carreira profissional e a sua reputação testemunham a sua personalidade impecável”.