Fomos Campeões

Fomos Campeões: O primeiro Parma que estourou na Europa

Campanha abriu as portas para período glorioso dos gialloblù no continente

O ano de 1993 ficou marcado no futebol como a afirmação de uma grande empresa de laticínios enquanto patrocinadora. Afinal, dois dos times mais importantes para o projeto da Parmalat tiveram enorme êxito esportivo. Mas não é do alviverde redimido de 17 anos de fila que falaremos hoje, e sim da matriz: o emergente Parma que conquistou seu primeiro troféu continental, via Recopa Uefa.

Se você ainda não sabe, refrescamos sua memória: a Recopa consistia em ter times campeões de Copas domésticas e que portanto, tinha no Parma o mérito de disputar a competição por ter sido vencedor da Coppa Italia em 1991-92, derrotando a Juventus em uma memorável virada no agregado, após perder a ida por 1 a 0 (gol de Roberto Baggio) e reverter o placar em casa, no Ennio Tardini, por 2 a 0 (gols de Alessandro Melli e Marco Osio). 

A expectativa em torno do time crociati só crescia, haja vista que o projeto ambicioso da Parmalat apostava suas fichas no trabalho do treinador Nevio Scala e não poupava recursos para fazer do elenco um competidor forte. Embora o primeiro passo fosse disputar títulos dentro da Itália, o Parma levava as disputas continentais muito a sério, o que lhe rendeu muito dinheiro e projeção.

Na espinha dorsal do Parma de Scala estavam os defensores Lorenzo Minotti (arte), Antonio Benarrivo, Georges Grün e Luigi Apolloni, o meia Osio e os atacantes Tomas Brolin e Melli. Muitos desses jogadores estiveram na Copa do Mundo de 1994 por suas respectivas seleções. Mais tarde, Scala receberia reforços expressivos como Faustino Asprilla, Taffarel e Gianfranco Zola. Desses três, apenas Asprilla já estava integrado na disputa da Recopa. 

Assim sendo, o estreante Parma, que anos antes ainda tentava sair da Serie B, teve um caminho modesto até a decisão. Foram quatro adversários no caminho até a decisão: Ujpest, Boavista, Sparta Praga e Atlético de Madrid. Para um torneio de terceiro escalão, até que as coisas foram bem complicadas. Tanto que o agregado de todos os duelos foi bastante apertado, nunca por mais de dois gols de vantagem, sobretudo contra o Atlético, em que a vaga na final foi resolvida com um gol fora. Graças a um show de Asprilla, que marcou duas vezes no Vicente Calderón, os italianos puderam perder em seus domínios por 1 a 0 sem que fossem castigados com a eliminação ou uma prorrogação.

Hora de crescer

Em 12 de maio de 1993, a Recopa utilizou o histórico palco de Wembley, em Londres, para conhecer seu novo campeão. Do outro lado da chave, vinha o belga Royal Antwerp, que chegava bem menos prestigiado e com histórico de sofrimento em todas as fases. O destaque da equipe era o atacante veterano Alexandre Czerniatynski, que já estava nos momentos finais de sua longa carreira, iniciada em 1977 no Charleroi.

A questão parecia estar encaminhando para uma resolução muito cedo no jogo. Melhor em campo, o Parma não perdeu tempo e tentou amassar o adversário com velocidade e cruzamentos para Melli dentro da área. Aos 10 minutos, uma bola escorada na cozinha belga sobrou para Minotti, que de um ângulo difícil emendou um chute bebetesco no alto da meta de Stevan Stojanovic. O Antwerp não se intimidou e empatou dois minutos depois, contando com uma falha na saída do meia Daniele Zoratto para armar um contragolpe. Czerniatynski segurou a bola e acionou Francis Severeyns dentro da área para tocar por cima de Marco Ballotta, igualando o marcador. 

A tensão tomou conta e só cessou no minuto 30, quando outro grande momento crociati mudou os rumos da partida. Engessado na criação até então, o Parma contou com a inteligência de Osio para atrair a marcação e fazer um passe esplendoroso por cima, para Melli. O centroavante leu bem a jogada e subiu para cabecear e marcar o segundo gol dos italianos. Ainda no primeiro tempo, o Parma teve um gol legal anulado: Stefano Cuoghi acionou Melli no meio da área e o goleador pegou de primeira para acertar o canto da rede, mas a arbitragem entendeu erroneamente como impedimento a sua posição, invalidando o que seria o golpe de misericórdia no Antwerp.

Dominante e tranquilo para administrar as ações, o Parma seguiu bem e aguardando o apito final. Restando seis minutos para o título, veio a consagração: Grün recebeu no círculo central e aprontou um de seus famosos lançamentos, achando um espaço enorme na defesa belga. A bola caiu nos pés de Cuoghi, que pisou na área, viu Stojanovic saindo e cutucou por cima, definindo com classe a primeira taça dos gialloblù na Europa. O jogo teve contornos históricos não apenas por isso, mas porque o velho Wembley teve naquele dia sua última final europeia de clubes. Em 2000, o local foi fechado para demolição e a construção de um novo estádio, que foi inaugurado apenas em 2007.

O Parma abria as portas da Europa com a conquista. Meses mais tarde, levantou a Supercopa contra o Milan e, ainda mais fortalecido com estrelas internacionais, alcançaria dois títulos da Copa Uefa em 1995 (contra a Juventus) e em 1999, diante do Marseille. Esse legado de potência continental, ainda que em segundo nível, só foi possível graças à campanha quase impecável na Recopa de 1993. Com gols memoráveis como o de Minotti, os anos 1990 no Ennio Tardini foram sem precedentes. Recorte de um tempo em que o clube era endinheirado e bem administrado, ao contrário das gestões que arrasaram um dos times mais legais dos últimos 30 anos na Itália.

Foto de Felipe Portes

Felipe Portes

Felipe Portes é zagueiro ocasional, cruyffista irremediável e desenhista em Instagram.com/draw.portes
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