Fomos campeões: A Juventus que desbravou a Copa da Uefa em 1977
Mesmo perdendo em Bilbao, a Velha Senhora conquistou seu primeiro troféu continental
O ano de 1977 pode não ser exatamente o mais célebre para o futebol italiano, que vivia uma transição até a era dourada de craques internacionais na década de 1980, mas para a Juventus, aquela primavera ficará para sempre marcada como o primeiro triunfo europeu da equipe turinense.
Não foi no principal torneio continental, mas a Copa da Uefa de 1976-77 teve dois pontos bastante interessantes para os juventinos. Desde a largada, sabia-se que a caminhada seria difícil, mas o time de Giovanni Trapattoni (que ainda era apenas um treinador promissor) ganhou força depois de duelos complicados diante de ingleses nas duas primeiras fases. Além do avanço europeu, a Juve caprichou na Serie A e foi campeã italiana com apenas duas derrotas. Essa facilidade não se viu no continente: até despontar como favorita, a Juve bateu Manchester City e Manchester United perdendo fora e ganhando em casa, para reverter o agregado.
Foram testes bastante relevantes para os bianconeri, que derrubaram mais tranquilamente o Shakhtar, nas oitavas de final, e posteriormente Magdeburg e AEK até alcançarem a final da copa. Um fator curioso do elenco de Trapattoni era o fato de contar apenas com atletas italianos, algo que jamais se repetiu na Copa da Uefa, tampouco na Liga dos Campeões ou na Recopa/atual Conference League. Dentre os atletas destacados do time juventino, estavam Dino Zoff, Gaetano Scirea, Marco Tardelli, Claudio Gentile, Franco Causio, Roberto Boninsegna e um mágico Roberto Bettega, conhecido por ser grisalho desde a juventude.
A mescla dos mais experientes com integrantes da equipe que seria campeã mundial em 1982 fez muito bem aos planos de Trapattoni. Era uma Juventus muito técnica e que cresceu mentalmente a cada fase. Do outro lado, o Athletic não tinha vida fácil (Ujpest, Basel, Milan, Barcelona e Molenbeek) e também vivia as vésperas de um período glorioso para o clube, que ao lado da Real Sociedad dominaria a Espanha na primeira metade da década de 80. Acima de tudo, o duelo marcava o encontro entre duas escolas que pensavam e se estruturavam bem para o futuro.
A hora da verdade
A tendência se manteve para a Juve. Forte em casa e mais frágil como visitante, o time italiano começou a resolver sua vida em Turim. Diante de 54 mil pessoas no estádio Comunale, a Velha Senhora precisou de pouco tempo para definir o placar: aos 15 minutos, Tardelli fez o único gol da noite e permitiu que Trapattoni pudesse propor um jogo mais defensivo no País Basco, duas semanas depois. A atuação foi elogiável, com muitas chances criadas e amplo domínio das ações. O Athletic conseguiu reduzir os danos e levou para casa um cenário de desvantagem mínima, facilmente reversível.
Em 18 de maio de 1977, o San Mamés ficou abarrotado para presenciar a primeira chance de ouro na Europa para o time da casa. Treinado por Koldo Aguirre, o gigante basco depositava nos atacantes Dani, José Churruca e José Amorrortu suas esperanças para a virada. Os Leões só não esperavam que Bettega aparecesse para abrir o placar no minuto 7, tornando a tarefa ainda mais complicada. De peixinho, o atacante surgiu por entre a zaga basca e testou para balançar as redes em belo cruzamento de Tardelli no miolo da área. Dali em diante, o Athletic precisava de três gols para se sagrar campeão dentro de seus domínios. Nada que parecesse impossível para uma equipe vertical como a de Aguirre.
A resposta veio aos 11′, sem muita demora. Em outra bola na área, Javier Irureta completou um chute torto de José Rojo e balançou as redes. Tomado pela empolgação, o time da casa seguiu martelando e fez a defesa juventina trabalhar intensamente. A tensão e o empate se mantiveram por grande parte do encontro. Até o fim da segunda etapa, as esperanças leoninas permaneceram vivas.
O abafa do Athletic esbarrava na linha defensiva italiana, nos braços de Zoff ou mesmo no azar de seus atacantes. A bola só resolveu entrar quando, em lance de escanteio, no minuto 78, Carlos Ruiz subiu mais alto que todos na área e testou firme para bater Zoff. A parcial de 2 a 1 não servia para muita coisa além de alimentar o orgulho dos locais. A opção por cruzamentos e chuveirinhos não funcionou para furar a barreira bianconera outra vez. O bombardeio não mudou o resultado e premiou a equipe que, mesmo retraída, conseguiu marcar fora de casa. Não fosse a cabeçada de Bettega, a taça teria ficado em San Mamés. O destino foi o salão nobre dos visitantes, inaugurando o setor de conquistas internacionais da Juve. Posteriormente, essa ala ganharia outras brilhantes pratarias.