Europa

Confesso que gosto da ideia da Superliga

Hoje parece inviável, mas no futuro pode ser que um torneio anual entre grandes clubes do mundo saia do papel.

Leio na Trivela que o assunto Superliga volta à tona. A ideia de um campeonato reunindo os principais clubes de futebol do mundo, e apenas eles, livres da chancela da UEFA e da FIFA.

Esse assunto vira e mexe vem à tona, mesmo que a execução do projeto, nos moldes políticos e econômicos do futebol atual, seja impossível. Jamais a UEFA e a FIFA aceitariam, sem espernear, que, da noite para o dia, surgisse um concorrente com potencial financeiro para abalar seus impérios.

Acontece que o fantasma da Superliga tende a assombrar cada vez mais os atuais proprietários do futebol. Muitos grandes clubes estão sendo adquiridos por poderosos grupos econômicos do Oriente Médio ou empresários norte-americanos. A lógica do negócio esportivo para eles é muito diferente do pensamento tradicional europeu e latino-americano.

A diferença dos sistemas esportivos é fundamental para entender o que existe por trás do desejo de uma Superliga. O modelo americano de esportes é o fechado. Consagrado, estabelecido, vencedor. Nele, não existe acesso e rebaixamento, os clubes são franquias e existem diversas ligas, com destaque óbvio para as principais. A lógica é que o esporte precisa ser viável financeiramente e, para isso, é preciso que os melhores joguem entre eles.

Há um toque do capitalismo selvagem, afinal, os Estados Unidos são a pátria do capitalismo e a terra do marketing esportivo.

Quando um dono de time de beisebol compra um time de futebol, ele não está interessado na cultura do sistema aberto, do acesso e do descenso, da representatividade e da luta do time pequeno para virar médio e do médio para ser grande. Nem com história, tradição, etc. O que ele visa é o lucro em cima do investimento que será feito.

Há aspectos positivos e negativos nos dois sistemas. Nós, das pátrias boleiras, europeias e latino-americanas, temos calafrios quando alguém sugere a adoção do sistema fechado para o futebol. Faz todo o sentido, dentro da nossa cultura. Não faz sentido algum para a cultura norte-americana.

Não vejo como absurda a proposta de uma Superliga de clubes. Talvez até com um formato mundial. Nada imediato, mas projetando algo para dez, 15 anos. Não sabemos como será a evolução tecnológica no ramo de viagens intercontinentais. Os voos supersônicos voltaram à pauta.

Imaginar um City x Flamengo, ou um Palmeiras x Bayern numa quarta-feira, em Manchester e São Paulo, parece sedutor. Quiçá um Galo x Bayern em BH, um Milan x Corinthians em Milão, um Boca x PSG na Bombonera.

Com os olhos da atualidade é totalmente inviável. Não há logística e nem interesse por parte dos gigantes europeus em dividir seu bolo com os times da América e outros continentes. Por mais que UEFA e Conmebol flertem com alguma sinergia, e a FIFA sonhe com seu Super Mundial de clubes bombando, a realidade é impeditiva.

Mas pensemos no futuro. O modelo de negócio atual tem confederações e federações que tentam fazer desesperadamente com que as estrelas que os times contratam a peso de ouro joguem para elas cada vez mais. Na planilha de um dono de time de futebol de alto nível não existe um campo em que ele aceite tranquilamente que de seu bolso sairá um salário astronômico para que seu empregado jogue vários meses pela seleção de seu país. Os negócios não têm fronteiras e nem camisas ou hinos, não custa lembrar.

Entendo que muitos que cheguem até este parágrafo estejam pensando em desistir antes do próximo. “Nori está maluco!”. Acho que não. Permito-me apenas divagar em relação a um mundo em que o esporte está cada vez mais inserido no mercado do entretenimento. No qual tem vantagens indiscutíveis: imprevisibilidade, emoção, reviravoltas e empatia.

O dono do PSG pode provocar o presidente do Barcelona dizendo que a Superliga é uma ideia estúpida. O PSG não é uma marca global estabelecida e capaz de atrair multidões na Ásia e na América. Parece mesmo uma estupidez. Mas com clubes do perfil de Barça, Real Madrid, United, e Bayern, a tentação é grande.

Podem me chamar de maluco, mas eu espero estar vivo para ver um Liverpool x River no Anfield numa quarta e um Inter ou Grêmio contra o Dortmund na quinta em Porto Alegre.

Sou super a favor de uma Liga Mundial um dia, no futuro.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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