Sofrimento à italiana: Itália arrancou uma vitória dramática contra a Áustria na prorrogação
Depois de primeira fase brilhante, Itália sofreu para fazer os gols, precisou da prorrogação e, mesmo assim, viveu um drama até o último minuto para vencer por 2 a 1 e vai às quartas de final

Roberto Mancini disse que a Itália do catenaccio não seria vista com ele e realmente não foi. A primeira fase da Itália do treinador na Euro 2020 foi muito diferente do que normalmente é. Foram três vitórias, com ótimas atuações, e um favoritismo que cresceu ao longo dos jogos. Diante da Áustria, um time que sofreu para se classificar, a Azzurra era imensamente favorita. Mas o jogo é jogado, como diz o ditado, e foi preciso sofrer como aquela velha Itália para sair com uma vitória por 2 a 1, com todos os gols marcados na prorrogação, para avançar as quartas de final.
A Áustria fez um grande jogo, muito melhor do que o esperado. Conseguiu fazer a Itália sofrer como ainda não tinha acontecido nesta Euro. Mesmo assim, não conseguiu superar este time bem montado por Mancini, que venceu ao seu estilo, com um jogo trabalhado, ofensivo e que arrancou, ainda que na marra, na prorrogação, uma vitória dramática, sofrida, suada, mas muito comemorada.
Como os times foram a campo
Sem Giorgio Chiellini, machucado, Roberto Mancini optou por Francesco Acerbi no time titular. A braçadeira de capitão para o braço de Leonardo Bonucci, o outro zagueiro. Na lateral direita, Giovanni Di Lorenzo foi novamente o escolhido, já que Alessandro Florenzi segue machucado.
A maior dúvida era no meio-campo. As ótimas atuações de Manuel Locatelli suscitaram dúvidas se o jogador seria mantido no time, depois do retorno de Marco Verrati na rodada passada. Mancini preferiu manter o seu time ideal, que ainda não tinha jogado: Jorginho, Nicolò Barella e Marco Verratti. No ataque, o técnico manteve o time que jogou os dois primeiros jogos, com Domenico Berardi, Ciro Immobile e Lorenzo Insigne.
Na Áustria, Christoph Baumgartner era dúvida, depois de ter marcado o gol da vitória austríaca contra a Ucrânia e ter saído, machucado. Mas ele se recuperou e foi titular como um meia aberto pelo lado esquerdo. Marko Arnautovic foi novamente escolhido para ser titular no ataque. Marcel Sabitzer, um dos principais jogadores do time, foi colocado como meia atrás do atacante Arnautovic. O único desfalque era Valentino Lazaro, um reserva.
David Alaba foi novamente escalado como lateral esquerdo, como tinha acontecido no jogo contra a Ucrânia. Ele tinha jogado como zagueiro nos dois primeiros jogos da Áustria. Foi pela lateral que ele mostrou ser mais perigoso.
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Primeiro tempo
Como era esperado, a Itália começou o jogo indo mais para o ataque e buscando encontrar os espaços. Os italianos empurraram os austríacos para trás nos minutos iniciais e tentaram fazer valer a sua qualidade em campo.
O primeiro chute perigoso foi com Lorenzo Insigne. Atuando pela ponta esquerda, ele recebeu e chutou colocado, mas o goleiro Daniel Bachmann fez uma boa defesa em uma finalização que não foi muito forte.
Aos 16 minutos, a Itália chegou perigosamente pela esquerda com Leonardo Spinazzola, que cruzou da esquerda, a bola chegou a Nicolò Barella, que finalizou de trivela, exigindo uma defesa atenta do goleiro Bachmann.
A Áustria conseguiu ameaçar aos 17 minutos. Sabitzer fez um belo lançamento nas costas da defesa, a bola pingou, sobrou para o atacante e, sozinho em meio a defensores italianos, ele chutou forte, por cima do gol.
O jogo caiu de ritmo, mas era a Itália quem mais ameaçava. Aos 32 minutos, Ciro Immobile chutou de fora da área, bonito, e a bola tocou na junção da trave com o travessão. Um lance perigosíssimo do centroavante italiano.
No fim, o jogo foi para o intervalo com o zero dominando o placar. Os italianos foram melhores no primeiro tempo, mas sem conseguir balanças as redes. Foi assim também contra a Turquia, na estreia da Eurocopa, quando os italianos venceram por 3 a 0 no segundo tempo.
Áustria volta melhor
Nos primeiros minutos do segundo tempo, a Áustria levou perigo. Logo no começo do segundo tempo, aos três minutos, Leonardo Bonucci errou no corte, Arnautovic teve a bola, puxou para a esquerda, mas acabou ficando com pouco ângulo e finalizou mal.
Logo depois, aos quatro minutos, os italianos reclamaram de uma falta em Jorginho que não foi marcada e, na sequência, Di Lorenzo deu um carrinho que o árbitro marcou. Os italianos reclamaram tanto que, além de Di Lorenzo, que recebeu o amarelo pela falta, Barella também foi amarelado pela reclamação. Na cobrança, Alaba mandou por cima da barreira, mas a bola saiu por cima.
A Áustria conseguia dificultar o meio-campo da Itália e ainda tentava levar perigo. Foi assim que Sabitzer, em um contra-ataque, finalizou de fora da área fez Gianluigi Donnarumma se esticar para defender. Na cobrança de escanteio, mais uma bola alçada com perigo, que acabaria, depois do rebote, caindo nos pés de Arnautovic finalizar, mas desta vez Dnonarumma defendeu com tranquilidade.
Áustria marca… Em impedimento
Aos 19 minutos, a Áustria marcou o seu gol. Cruzamento da direita, Alaba aparece na área, toca de cabeça para Arnautovic, que cabeceia e a bola raspa no travessão e entra. O camisa 7 saiu comemorando e provocando com muitos impropérios e mandando a torcida falar menos. Depois da checagem no VAR, o gol foi anulado. Eram 22 minutos da segunda etapa.
Aproveitando o momento, Sabitzer aproveitou outra bola de fora da área, em uma roubada de bola no meio-campo, e chutou com perigo. O momento austríaco era melhor na partida e dava sustos na torcida italiana, que era ampla maioria entre os presentes em Wembley.
Itália muda depois do susto
Antes até do gol anulado da Áustria, Roberto Mancini já preparava duas mudanças. Elas aconteceram aos 23 minutos. Com problemas no meioo-campo, o treinador trocou logo dois jogadores do setor: sacou Verratti e Barella e colocou Manuel Locatelli e Matteo Pessina. Os dois tinham feito bons jogos na fase de grupos: o primeiro foi titular nos dois primeiros jogos, o segundo foi titular no último jogo da fase de grupos contra Gales e fez o gol da vitória por 1 a 0.
Logo nos primeiros minutos em campo, Locatelli , bem ao seu estilo, apareceu no ataque como elemento surpresa e chutou de fora da área, mas acabou não acertando o alvo. Apesar desse bom sinal inicial, a Itália continuava sofrendo para chegar ao ataque. Os austríacos se defendiam bem e pareciam bem armados para travar o jogo italiano. Os dois lados do ataque italiano estavam bem fechados pela Áustria. Nem Insigne, nem Berardi conseguiam receber com liberdade.
Uma rara chance apareceu aos 37 minutos. Depois de rondar a área austríaca por alguns minutos, Spinazzola chegou à linha de fundo, fez o cruzamento e Berardi, no lado direito, fez uma linda pose para dar um voleio, mas errou espetacularmente. Ele deixaria o campo logo depois.
Mancini mexeu em mais dois jogadores aos 39 minutos. Berardi deixou o campo para a entrada de Federico Chiesa. Ciro Immobile, sem conseguir fazer muito no jogo, foi substituído por Andrea Belotti. Era mais uma tentativa de resolver um jogo que estava truncado e evitar a prorrogação.
O jogo parecia destinado à prorrogação. Os italianos foram para cima nos minutos finais para tentar resolver o jogo, mas eram os austríacos que estavam comemorando o empate sem gols.
Foi só aos 44 minutos que o técnico da seleção austríaca, Franco Foda, mudou a equipe. Tirou Christoph Baumgartner, muito cansado em campo, e colocou Alessandro Schöpf. Parecia já uma substituição pensando na prorrogação.
Os italianos sentiam o peso do nervosismo de não resolverem o jogo e de não conseguirem que seu jogo fluísse, como em outros jogos. Os austríacos conseguiram, com um bom jogo, travar o jogo italiano e os jogadores pareciam sentir. Foi constante termos discussões em campo entre os italianos, se cobrando. Os austríacos, por sua vez, pareciam bastante dentro do jogo, cientes do que estavam fazendo e de que o jogo estava melhor para eles.
Nos acréscimos, a Itália conseguiu uma falta fora da área depois de uma tabela de Jorginho com Pessina. Insigne, o camisa 10, foi para a cobrança. A torcida italiana estava tensa, porque o time, amplo favorito no jogo, não conseguia o gol. As expressões nos torcedores italianos refletiam o que se via em campo: muita tensão por parte da Azzurra.
Quando o árbitro apitou o fim do jogo, os austríacos pareciam cansados, mas muito animados. Os italianos também sentiam o cansaço, mas havia um tom de desânimo. Até por isso, o capitão Giorgio Chiellini, de fora do jogo por lesão, desceu ao gramado para participar da conversa antes do início da prorrogação. Historicamente, a Itália é a seleção que mais vezes jogou prorrogações na história das grandes competições, com 18.
Itália marca na prorrogação
O primeiro lance da prorrogação foi da Itália. Belotti recebeu dentro da área, fez o pivô para a direita e tocou para Chiesa. O atacante da Juventus chegou chutando, mas não foi muito forte, e nem muito no canto, o que permitiu ao goleiro fazer uma boa defesa.
Só que no lance seguinte, não teve jeito. Com cinco minutos do primeiro tempo, Spinazzola apareceu no ataque, inverteu para o lado direito, onde estava Chiesa. Ele dominou de cabeça com alguma dificuldade, mas fez um corte bonito em Konrad Laimer e finalizou cruzado e marcou: 1 a 0 para a Itália. Foi o primeiro gol da história da Itália em prorrogações em Eurocopas. Neste recorte, só tinha tomado um gol: o gol de ouro de Trezeguet que deu o título à França, em 2000.
Imediatamente, Franco Foda mudou o time. Sacou Marko Arnautovic, muito degastado fisicamente, e entrou o centroavante Sasa Kalajdzic. O centroavante, alto, era uma opção no jogo aéreo. E foi para ele que os austríacos miraram quando cruzaram na área.
Mais confiante e com mais espaço, a Itália passou a ser perigosa. Belotti teve uma grande chance em contra-ataque, mas demorou a se decidir o que fazer e sofreu a falta. Mas logo antes do fim do primeiro tempo da prorrogação, a Itália ampliou.
Com a bola no campo de ataque, os italianos trabalharam a jogada, tocaram a bola perto da área da Áustria. Insigne, pela esquerda, cruzou para a área e o zagueiro Acerbi, que tinha ido ao ataque pela cobrança da falta, dominou de costas, fez o pivô, caiu e, mesmo no chão, conseguiu ajeitar para Matteo Pessina, que chutou forte, cruzado, e estufou a rede: 2 a 0 Itália.
Áustria diminui e pressiona até o final
O segundo tempo da prorrogação começou já quente. A Áustria fez mais duas mudanças. Michael Gregoritsch entrou no lugar de Xaver Schlager. Entrou também Louis Schaub no lugar de Florian Grillitsch. E foi Schaub que, de fora da área, soltou uma bomba, no cantginho, e exigiu uma boa defesa de Donnarumma. A Itália seguia sem sofrer gols. Mancini fez mais uma substituição na Itália. Tirou Lorenzo Insigne e colocou Bryan Cristante, meio-campista, dando também mais fôlego ao time.
A Áustria levou muito perigo em uma bola alçada na área que Sabitzer dominou na segunda trave e tentou finalizar duas vezes, na segunda com alguma liberdade, mas mandou por cima do gol. Os austríacos não tinham mais nada a perder, então passam a ir com tudo, com ligação direta, e tentava levar perigo.
Foi assim, em uma bola longa, que Kalajdzic ajeitou de cabeça para Schaub finalizar de primeira, mas a bola desviou e saiu, por cima do gol. O técnico da seleção austríaca seguia tentando e colocou em campo mais jogadores para tentar o abafa no fim. E foi assim que o time conseguiu descontar.
Na cobrança de escanteio de Schaub, Kalajdzic mergulhou de peixinho na primeira trave nop escanteio e venceu a defesa quase imbatível dos italianos: 2 a 1 no placar, com 114 minutos. Restavam seis para a busca desenfreada de um gol salvador para levar a disputa para os pênaltis.
Foram 1159 minutos sem sofrer gols da Itália, mas a marca foi destruída pelos austríacos. O último gol sofrido pela Itália tinha sido no dia 14 de outubro de 2020, em um jogo contra a Holanda, pela Liga das Nações, que terminou em 1 a 1. O gol tinha sido de Donny van de Beek.
O gol deu entusiasmo aos austríacos, que foram como loucos para o ataque. Bolas diretas para o ataque e tentativas que levaram perigo. E foi assim até o fim, com os italianos com o coração na mão, os austríacos brigando muito, mas não houve mais gols.
Com o apito final de jogo, a Itália comemorou como ainda não tinha comemorado nesta Euro, com uma vitória tão difícil quanto sofrida. Os italianos sobrevivem ao primeiro desafio eliminatório e vão para Munique. A Azzurra espera o vencedor de Bélgica e Portugal, que se enfrentam neste domingo em Sevilha. As quartas de final serão disputadas na próxima sexta-feira, dia 2 de julho.
Os austríacos voltam para casa, mas podem sair orgulhosos. Chegaram ao mata-mata da Euro pela primeira vez e conseguiram complicar muito o jogo para a equipe que mais tinha jogado bola até aqui na Euro. Não é pouco para quem não chegava em fases eliminatórias há tanto tempo como a Áustria.