Inter de Milão tem muito do que se orgulhar: futebol vai além do resultado, é a jornada até lá
Chegar à final foi inesperado e a derrota dói mais por parecer acessível, mas a jornada até lá tem que servir para ser repetida até chegar ao topo

A missão da Inter de Milão era das mais complicadas possíveis. Enfrentar o Manchester City no seu auge, aprimorado por um fenômeno como Erling Haaland, em uma final de Champions League. O time tinha a seu favor uma grande organização, uma defesa sólida e alguns jogadores em ótima fase. Com uma boa estratégia, a Internazionale conseguiu minimizar o jogo do Manchester City. Por outro, tinha que criar e aproveitar as chances. As chances foram criadas, mas não foram aproveitadas. Veio a derrota por 1 a 0, em um dos poucos lances que o Manchester City teve uma chance clara. A derrota é dolorida, mas a Inter deixou muitos motivos para se orgulhar.
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Em um primeiro momento, os jogadores vão sentir o gosto amargo da decepção. Ter chegado tão perto, ter feito um jogo bom, tão eficiente, mas não aproveitar e acabar derrotado é algo que certamente vai doer. Até porque diante do imenso favoritismo do City, a sensação que ficou é que a Inter poderia ter saído de campo como campeã. Essa sensação de tão perto e tão longe ao mesmo tempo costuma ser muito cruel.
As derrotas nunca são esquecidas, mas podem ser usadas para crescer ainda mais, como aconteceu com o próprio Manchester City. As feridas da derrota servem para construir a partir disso e ir além. A chegada da Inter na final foi improvável, porque o time não estava entre os favoritos. Conquistou essa trajetória ao sobreviver em um grupo terrível, às custas do Barcelona. Daí em diante, construiu o caminho, com alguma dose de sorte. Mas definitivamente não foi só a sorte que sorriu. O time é incrivelmente competitivo nesses duelos eliminatórios e isso não é de agora. É uma característica do trabalho de Simone Inzaghi.
Simone Inzaghi, aliás, é um capítulo à parte. A temporada parecia embicar para baixo nos primeiros meses do ano, quando já estava claro que o Napoli seria campeão e a Inter caiu seguidamente até parecer ficar arriscado até de ficar fora do G4 e não se classificar à Champions League. Foi a própria competição europeia que ajudou o time a ganhar um embalo que precisava inclusive para a sua competição interna.
A classificação diante do Porto, de maneira duríssima, nas oitavas de final, depois contra o Benfica, nas quartas, superando o favoritismo dos portugueses, fez com que o time renascesse e terminasse de modo um pouco mais tranquilo na Serie A, com uma boa sequência de resultados. Chegou até a final já com a sensação que tinha salvado a temporada com a vaga na Champions e o título da Copa da Itália. A final da Champions era uma forma de tentar escrever a história, novamente improvável. E o fato de não ter conseguido, mas ter chegado perto, deixa a sensação que o time fez um bom trabalho.
A dedicação que os jogadores mostraram em campo foi notável. O time conseguiu uma atuação que minimizou demais os riscos causados por um Manchester City que tem sido quase imparável. Conseguiu criar chances, conseguiu dar sustos no adversário. Jogadores como Nicolò Barella, Alessandro Bastoni, Denzel Dumfries, Federico Dimarco e Francesco Acerbi fizeram um jogo muito bom. Se não impecável, ainda muito bom. Lukaku, Dimarco e principalmente Lautaro Martínez lamentarão as chances perdidas.
Para a Inter, a campanha não pode e nem deve ser esquecida. A questão é construir a partir disso, para que a chegada à final não seja mais uma surpresa. São alguns estágios: é preciso estar na Champions League todo ano e chegar nas fases mais avançadas com constância. Com isso, deixará de ser surpresa aparecer em uma semifinal, uma final e, eventualmente, até ser campeão. O normal é mais perder do que ganhar Champions League, mas é só a constância que tornará possível voltar a estar na final. Chegando sempre nas quartas, eventualmente uma semifinal, uma hora acontece chegar em uma final novamente e ganhar o título.
Futebol é muito mais constância do que mágica. Por alguns anos durante esse período desde o título de 2010, a Inter sequer esteve na principal competição do continente. Vencer o título seria surpreendente e bastante adiantado em relação ao patamar que o clube está no momento. Tem se consolidado na Champions e passou pela segunda vez ao mata-mata. Precisa fazer mais vezes. O projeto esportivo não está nem totalmente claro ainda, com os donos do clube ainda buscando um rumo mais claro, como outros, como o próprio Manchester City, já têm (mas com a diferença de não ter o cheque em branco e a leniência das autoridades por possíveis violações financeiras, mas isso é outro capítulo).
A base construída da Inter é sólida. O trabalho de Inzaghi, que lá por março parecia fadado a terminar quando a temporada fosse encerrada, agora parece ter ganhado um pouco mais de força. Será preciso continuar melhorando e há sempre o risco de alguns dos superclubes se interessar pelo seu jogador e pagar valores exorbitantes por eles, como foi com Lukaku, dois anos atrás. Sempre será preciso se remontar enquanto o clube não for visto como destino das principais estrelas, como já foi, há muitos anos.
O que a torcida da Inter viu em Istambul foi um time que batalhou em todas as frentes que conseguiu, que trabalhou duro, que fez o melhor time da Europa sofrer e vencer pela contagem mínima, em um jogo bastante equilibrado. Não é pouca coisa. Manter esse nível já será um grande desafio, mas um que o clube, na sua direção até o campo, passando pela comissão técnica, precisa abraçar e trabalhar para isso.
Futebol é mais do que o resultado, é sobre a jornada até lá. A Inter pode se orgulhar do caminho que fez. É esse sentimento que o torcedor espera: que o time entregue o que puder para chegar o mais longe possível. Na maioria das vezes, não chegará ao máximo. Mas quanto mais frequentemente você chega ali, maior a chance de conseguir.