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Os sete momentos marcantes da queda e do renascimento da Internazionale desde a Tríplice Coroa

Não foi um processo linear, mas, entre trocas de donos, de técnicos e de centroavantes, a Internazionale voltou, pelo menos nesta temporada, ao topo da Europa

Treze anos atrás, a Internazionale estava no topo do mundo. Havia conquistado os três principais títulos da temporada europeia, exatamente o feito que o Manchester City buscará no próximo sábado em Istambul. E de lá, despencou. Foram anos relegada ao segundo plano, enquanto tentava lidar com crises no futebol (e na economia) da Itália e mudanças nas estruturas de propriedade. Enquanto tentava renovar um time que envelhecia, encontrar novos ídolos e os técnicos certos. Esse processo demorou bastante. Não foi linear. Houve percalços e não é que chega novamente à final da Champions League com os pés cravados no primeiro patamar da Europa. Mas fez o bastante para ter uma chance e a aproveitou. Uma mentalidade, aliás, que terá que levar para o estádio Olímpico Atatürk caso queira sonhar com o tetracampeonato. A seguir, apresentamos alguns dos momentos marcantes dessa história, da queda à reconstrução.

A temporada da ruptura

Materazzi e Mourinho se abraçando no Bernabéu (Foto: Reprodução)

José Mourinho deixou a Internazionale assim que a temporada terminou. Apenas isso seria uma quebra abrupta. O português foi chamado para ressuscitar a aura do Real Madrid na Champions League e sabia que ia embora no dia da final da Champions League, coincidentemente, disputada no Santiago Bernabéu. Uma das cenas daquela conquista foi o abraço emocionado com Marco Materazzi após a vitória sobre o Bayern de Munique. Esse não era o único problema. O elenco estava envelhecido. Cinco jogadores que foram bastante utilizados nas conquistas da Tríplice Coroa tinham mais de 30 anos: Diego Milito, Dejan Stankovic, Lúcio, Walter Samuel e Javier Zanetti. Outros dois, Materazzi e Iván Córdoba, ganharam vários minutos também. Um segundo contingente, com Maicon, Cambiasso, Cristian Chivu, Samuel Eto’o e Júlio César, estavam próximos. O único jogador com menos de 24 anos que realmente jogou naquela temporada foi Mario Balotelli, que seria vendido para o Manchester City.

O único reforço mais graúdo, porém, foi Jonathan Biabiany, do Parma. Ele foi repassado à Sampdoria em janeiro em troca de Giampaolo Pazzini. Na janela de inverno, também houve um bom investimento por Andrea Ranocchia, além do empréstimo de Yuto Nagatomo, que depois seria comprado em definitivo. Àquela altura o primeiro escolhido para substituir Mourinho já havia sido demitido. Rafa Benítez saiu brigado com os donos do Liverpool, mas ainda era um nome forte, após duas finais europeias, um título e um vice-campeonato inglês em Anfield. Ele perdeu a Supercopa da Europa para o Atlético de Madrid e chegou à pausa do Campeonato Italiano com resultados fracos: apenas seis vitórias em 15 rodadas, a dez pontos da liderança. Leonardo foi seu substituto, uma escolha… ousada, dado o seu histórico com o rival Milan. O brasileiro conseguiu emplacar uma certa volta por cima. Pelo menos chegou às quartas de final da Champions League após despachar o Bayern de Munique. Mas parou no Schalke 04, levando 5 a 2 no San Siro. Conquistou a Copa da Itália e, no fim, ficou a apenas seis pontos do campeão na Serie A.

A ruptura veio na temporada seguinte. O contrato de Leonardo foi rescindindo “em termos amigáveis” para que ele se tornasse diretor esportivo do Paris Saint-Germain. Uma escolha óbvia era André Villas-Boas, que na época era o mais próximo de um novo José Mourinho que alguém conseguiu ser. Ele havia feito parte da equipe técnica do português na Internazionale e saiu para fazer pelo Porto uma temporada parecida com a que colocou Mourinho no mapa. No entanto, foi o Chelsea quem pagou sua milionária cláusula de rescisão. Massimo Moratti recebeu um não de Marcelo Bielsa, que havia se comprometido com o Athletic Bilbao, e decidiu apostar em Gian Piero Gasperini, que havia levado o Genoa ao quinto lugar dois anos antes. O técnico que mais tarde revolucionaria a história da Atalanta havia sido demitido na temporada seguinte por maus resultados e provavelmente não estava pronto para um clube do tamanho da Inter. Mas talvez merecesse um pouco mais do que três rodadas de paciência. Diria em 2023 que foi mandado embora por insistir em um esquema com três zagueiros.

A Internazionale também perdeu Samuel Eto’o, vendido ao Anzhi, e Goran Pandev. A reposição do camaronês seria Diego Forlán. O uruguaio foi barato e vinha de uma boa passagem pelo Atlético de Madrid, mas chegou na descendente: fez apenas 20 jogos e dois gols antes de sair para o Internacional. Pelo segundo mercado seguido, a Inter não fez grandes investimentos. Aquela espinha dorsal experiente estava dois anos mais velha e alguns nomes importantes haviam saído, sem reposições à altura. Depois da juventude, Moratti foi com a experiência. Claudio Ranieri até conseguiu resultados melhores, mas caiu em março, após cinco derrotas em seis jogos pela Serie A. Andrea Stramaccioni foi promovido interinamente para terminar a temporada. Conseguiu algumas vitórias, ganhou um clássico contra o Milan que atrapalhou a busca do rival pelo bicampeonato e seria efetivado. Moratti acreditava em seu potencial, e ele foi atrapalhado por muitas lesões, mas a temporada seguinte, em nono lugar, seria a pior desde 1993/94. Mas o grande problema havia sido a sexta posição em 2011/12. Pela primeira vez em dez anos, a Internazionale não disputaria a Champions League. Para um clube que já estava em contenção de despesas, a perda de receitas seria brutal. E uma vez fora dela, voltar é muito difícil.

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O adeus de Massimo Moratti

Thohir homenageia Moratti: camisa comemorativa pelos 18 anos à frente da Inter (Foto: AP)

Massimo Moratti assumiu a presidência da Internazionale em 1995. Ele havia acompanhado o pai Angelo comandar o grande sucesso da década de sessenta, e o clube não havia brilhado tanto assim durante o boom do futebol italiano nos anos oitenta e noventa. O magnata do petróleo investiu pesado em nomes como Ronaldo Fenômeno e Christian Vieri, mas durante quase uma década seu único troféu importante foi mais uma Copa da Uefa. Era tido como impulsivo, apaixonado, com propensão a demitir técnicos. Um torcedor no volante. Precisou de um minuto, mas conseguiu se tornar o zelador do período mais vitorioso da história da Inter, com o pentacampeonato italiano, o primeiro título europeu desde a década de sessenta e a histórica Tríplice Coroa com Mourinho. Mas, como uma vez disse o filósofo, o mundo mudou.

Quando a década virou, os clubes sentiam a crise econômica da Itália. A Internazionale conseguiu surfar acima dos outros nessas dificuldades, mas a conquista da Champions League foi surpreendente e evitou que o país perdesse a quarta vaga na competição europeia. Quer dizer, apenas adiou um pouco, para 2011/12. Os estádios estavam defasados e geravam poucas receitas – problema que persiste. Uma das principais marcas do futebol italiano, a Juventus, havia sido manchada por um escândalo e teve que passar pela segunda divisão. Outras duas muito importantes, Fiorentina e Napoli, precisaram recomeçar após entrarem em falência. Enquanto clubes como Chelsea, Manchester City e Paris Saint-Germain recebiam pesados investimentos estrangeiros, e a maioria da Premier League abria suas portas para capital externo, as estruturas do futebol italiano ainda eram muito locais.

Moratti talvez tenha percebido que não tinha mais bala para competir nesse nível. Silvio Berlusconi o faria alguns anos depois. Ou talvez estivesse apenas cansado demais para conduzir a renovação profunda que a Internazionale claramente precisava. Em outubro de 2013, vendeu 70% das suas ações para o indonésio Erick Thohir por € 250 milhões. Pela avaliação da Forbes, aquela venda tornava a Inter o 14º clube mais valioso do mundo. Moratti seguiu como presidente honorário, ainda com influência nas decisões, e a torcida esperava para ver qual seria o novo nível de investimento. E quem sonhou com Chelsea e Manchester City se decepcionou. Antes da venda, a Inter havia feito compras de cerca de € 10 milhões para tentar formar uma nova espinha dorsal. Trouxe Samir Handanovic, Fredy Guarín, Mateo Kovacic, Rodrigo Palacio e Álvaro Pereira. Também foi o último clube grande a apostar em Antonio Cassano.

Os gastos não explodiram com Thorir. As únicas compras de dois dígitos nos primeiros anos foram Mauro Icardi e Hernanes. A situação financeira deixada pela gestão anterior não era boa, e o Fair Play Financeiro começou a bater à porta. Investimentos maiores vieram apenas em 2015, mas ainda nada tão vultuoso, e, em campo, a recuperação foi apenas marginal. Seu período como acionista majoritário pareceu apenas uma transição. Em 2016, o grupo chinês Suning comprou aproximadamente 70% dos papéis. Thorir seguiu com cerca de 30%. Os problemas financeiros não desapareceram. Ainda é um clube que precisa contar moedinhas em comparação com outras potências europeias, mas pelo menos conseguiu acompanhar a inflação do mercado de transferências. E depois de 21 anos, Moratti deixou de vez a Internazionale.

Aposentadoria de Javier Zanetti

Javier Zanetti despediu-se da Internazionale

Um período de domínio como o que a Internazionale teve inevitavelmente cria ídolos e, se a temporada 2013/14 marcou o fim de uma era nos bastidores, com Massimo Moratti cedendo o controle para Erik Thohir, isso também aconteceu dentro de campo. Javier Zanetti havia chegado ao clube no mesmo ano em que Moratti virou presidente. E, apesar do dirigente ter permanecido em um cargo honorário, na prática os dois saíram quase ao mesmo tempo – o que é notável porque um deles tinha que correr, o outro, não. Zanetti dedicou duas décadas da sua vida à Internazionale. Foi o capitão da Tríplice Coroa, um exemplo de liderança, empenho e profissionalismo. A sua aposentadoria, em maio de 2014, foi o ponto final definitivo da segunda era dourada da Internazionale. Até porque, ao lado do jogador que mais vezes vestiu a camisa azul e preta na história, despediram-se Esteban Cambiasso, Walter Samuel e Diego Milito, outras bandeiras do time vitorioso de Roberto Mancini e José Mourinho. A Inter perdeu uma quantidade inestimável de memória institucional da noite para o dia. E precisaria começar a construir uma nova.

A era Mauro Icardi

Mauro Icardi, da Inter, lamenta

Tudo bem. Seis anos talvez não sejam uma era, mas, diga o que quiser sobre Mauro Icardi, ele marcou esse período da história da Internazionale, para o bem e para o mal. Para o bem, segurou a barra durante momentos difíceis e de poucas alegrias. Para o mal, foi uma inesgotável fonte de polêmicas e especulações, sempre parecendo estar com um pé no lado errado da porta. Contratado da Sampdoria em 2013, ele se tornou um dos melhores centroavantes do mundo e parecia fazer hora extra em um clube que não conseguia se classificar à Champions League de jeito nenhum, e a sua empresária/esposa soube utilizar esse sentimento como poder de barganha.

Natural de Rosario, Icardi fez as categorias de base no Barcelona que, naquela época, ainda carregavam a fama de ser uma formadora de craques. Mas decidiu sair para a Sampdoria porque acreditava que o estilo de jogo dos catalães não combinava com suas características. Ele tinha razão. Icardi não é um atacante que dá muitos toques na bola, mas um finalizador nato, centroavante de bom posicionamento e oportunismo. Fez uma temporada competente na Serie A, com 10 gols em 31 rodadas, antes de ser contratado pela Internazionale, que vivia uma época de vagas magras e precisava de um centroavante, por mais que Rodrigo Palacio estivesse sendo eficiente.

Começou a primeira temporada na reserva, mas desabrochou na segunda metade da Serie A. Em 2014/15, transformou-se um atacante capaz de marcar 20 vezes em uma das maiores ligas do mundo e manteve mais ou menos essa média pelos três anos seguintes. Em 2017/18, fez 29 gols e foi artilheiro do Campeonato Italiano, ao lado de Ciro Immobile. O protagonismo ascendente dentro de campo o levou a receber a braçadeira de capitão, que era de Andrea Ranocchia, aos 22 anos, com apenas duas temporadas de serviços prestados à Internazionale. Nem a sua liderança e nem os seus gols conseguiram impulsionar o clube de volta à Champions League em um primeiro momento.

E ele era imaturo demais para ser capitão de um emblema tão importante. Evidência número 1: lançou uma autobiografia com apenas 23 anos. Nela, achou que pegaria bem se esclarecesse a história de um jogo contra o Sassuolo, em fevereiro de 2015, quando foi à torcida jogar a sua camisa e a recebeu de volta acompanhada de xingamentos. Em sua versão, o presente era para uma criança, que teria tido o uniforme arrancado de suas mãos por um chefe dos ultras da Inter. “Foi quando eu comecei a insultá-lo”, escreveu. “No vestiário, fui aclamado como um herói porque ninguém havia enfrentado desse jeito um dos líderes da torcida”.

Em resposta, a torcida que ocupa Curva Nord de San Siro emitiu um comunicado dizendo que Icardi inventou a criança. Lembrou que ele ameaçou chamar “100 criminosos da Argentina” e cobrou que o “PALHAÇO”, em caixa alta mesmo, perdesse a braçadeira de capitão. Icardi tentou colocar panos quentes. Jogou um texto no Instagram, confirmou a frase dos assassinos, sabe-se lá por quê, e admitiu que se tivesse cérebro não correria o risco de ofender a Curva Nord. Não deu muito certo. No jogo seguinte, contra o Cagliari, os torcedores levaram uma faixa educada em que ele era descrito como “um vil pedaço de merda”. Debaixo de vaias, Icardi ainda perdeu um pênalti, e a Inter perdeu de virada.

Embora Javier Zanetti, agora membro da diretoria, tenha dado razão à torcida, Icardi não perdeu a braçadeira de capitão. Pelo menos não por aquela confusão. Aconteceria alguns anos depois, em fevereiro de 2019, em meio a uma disputa de renovação de contrato. O jogador alegou uma lesão para ficar fora das partidas, divergindo do departamento médico. Retornaria apenas em abril e ajudou com a classificação à Champions League. Para a temporada seguinte, a Internazionale contratou Romelu Lukaku e trouxe Antonio Conte, que deixou claro que não contava com ele. Percebendo que havia perdido poder de barganha, Icardi mudou o tom e de repente queria ficar de qualquer jeito. Chegou a entrar com um processo por discriminação para não precisar mais treinar separadamente.

O imbróglio foi resolvido pelo Paris Saint-Germain, que apareceu com uma proposta de empréstimo e depois ainda pagou algumas dezenas de milhões de euros. Se não foi o lucro que a Inter imaginava nos melhores momentos do centroavante, pelo menos foi alguma coisa. E ele não era mais tão essencial também. Não apenas pela chegada de Lukaku, mas por causa de outro jovem atacante argentino que já estava no elenco.

A chegada de Lautaro Martínez

Lukaku e Lautaro Martínez, da Inter (Inter.it)

Lautaro Martínez estava arrebentando pelo Racing. Chegou a ser considerado para a Copa do Mundo de 2018, pelos gols que marcava no Campeonato Argentino e na Libertadores. Estava entre os jogadores sul-americanos mais cobiçados, com especulações de Atlético de Madrid e Real Madrid e um interesse mais sólido do Borussia Dortmund. No fim, foi bom para a Internazionale que Diego Milito, herói da Tríplice Coroa, fizesse parte da cúpula de futebol da Academia. “Eu falei muito com Diego Milito, que me explicou o que significa vestir a camisa nerazzurri e o quão importante o clube é. Ele fez história com essas cores, agora cabe a mim ir bem”, disse. A dupla argentina que poderia formar com Mauro Icardi era de fazer qualquer um salivar, mas a parceria durou apenas um ano – e eles nem jogaram juntos tantas vezes assim.

A dobradinha marcante que ele acabaria formando seria com Romelu Lukaku durante a reconquista do Campeonato Italiano. Sua média de gols até agora é ligeiramente inferior à de Icardi, mas ele consegue entregá-los sem tanta novela. É mais versátil também, com capacidade de sair da área e atuar mais naturalmente com outro centroavante. De qualquer maneira, acertar um reforço como foi Icardi, apesar dos problemas, é especial. Dois é um acontecimento. Com o vai e volta de Lukaku, Lautaro Martínez se firmou como o principal jogador da Internazionale e o seu desenvolvimento permitiu que ela fizesse dinheiro com o seu antecessor, ainda mantendo um atacante de primeira linha para as ambições que finalmente haviam retornado ao alcance dos seus dedos.

De volta à Champions League

A Inter se classifica à Champions League (Foto: Getty Images)

A recuperação da Internazionale não foi linear. Depois da trágica temporada com Stramaccioni, tentou Walter Mazzari. A ideia não era ruim, pelo trabalho que ele havia feito à frente do Napoli, que precisou se reconstruir após a falência. Não deu certo. Ele melhorou a posição na tabela, mas o seu quinto lugar foi a 18 pontos da zona de classificação à Champions League. Foi demitido em novembro da temporada seguinte, com apenas 19 vitórias em 49 jogos e um aproveitamento de 51,7%. Foi a hora em que a Inter parou de inventar e trouxe de volta o primeiro técnico do pentacampeonato, que havia deixado o Manchester City. Roberto Mancini não conseguiu resgatar a campanha além de um oitavo lugar, mas, no ano seguinte, foi quarto colocado. Teria se classificado à Champions League se a Itália ainda tivesse quatro vagas. Mas não tinha, e mais uma vez a principal competição europeia de clubes escapou da Internazionale.

Ainda assim, era uma plataforma sobre a qual construir. Mas divergências com os novos donos majoritários, agora o grupo Suning, levaram o trabalho a ser interrompido. Em uma entrevista um ano depois, Mancini disse que “as condições para trabalhar em conjunto não estavam mais lá” e que os “donos chegaram de outro continente e não sabem muito sobre futebol italiano”. Eles não se esforçaram demais para provar que Mancini estava errado ao substituí-lo por Frank de Boer. O holandês até tinha as credenciais porque fez um bom trabalho no Ajax, mas ganhou apenas quatro das 11 primeiras rodadas da Serie A e saiu no começo de novembro. O tempo provaria que a exceção na sua carreira foi o período em Amsterdã. A Inter apostou em Stefano Pioli, que havia sido terceiro colocado com a Lazio. Ele até encaixou uma recuperação promissora entre dezembro e janeiro e chegou a encostar no G4. Mas terminou com oito rodadas sem vencer.

A boa notícia para 2017/18 é que a Serie A voltaria a ter quatro classificados à Champions League. Foi mais um mercado de investimento alto também, com as contratações de Milan Skriniar, Matías Vecino e Roberto Gagliardini, além de um jovem João Cancelo, emprestado pelo Valencia. O elenco foi dado nas mãos de outro careca, o campeão da última temporada do Campeonato Italiano. Luciano Spalletti tinha uma carreira sólida. Foi duas vezes campeão da Copa Itália em sua primeira passagem pela Roma e conseguiu ser vice-campeão na segunda (brigando com Francesco Totti). Entre os dois trabalhos, foi bicampeão russo pelo Zenit. Experiente. E de personalidade forte.

A Internazionale começou o Campeonato Italiano voando. Ganhou 12 das 15 primeiras rodadas e contou com um excelente Mauro Icardi, que marcou 16 vezes nesse período. Os problemas, porém, apareceram rápido. O empate por 0 a 0 com a Juventus em 9 de dezembro foi o final da primeira sequência e o começo da segunda, de oito rodadas sem vitória. A equipe continuou rondando o G4, mas Spalletti não recebeu os reforços que queria na janela de inverno e colocou a boca no trombone depois de empatar por 0 a 0 com o Napoli. “Tivemos um período horrível, realmente feio, com alguns jogos terríveis. Em geral, nós não jogamos um grande futebol nesta temporada porque eu não acho que tenhamos essa qualidade que as pessoas parecem pensar que temos. Eu trabalho com esse time todos os dias e eu acho que simplesmente há uma falta de qualidade. O Napoli tem qualidade. Nós não temos muito”, disse, em março.

Faltavam dez rodadas, e a Inter ainda estava na briga. A regularidade nunca foi retomada, e uma derrota na penúltima partida, para o Sassuolo, parecia ter colocado tudo a perder. Bastava que a Lazio vencesse o Crotone para garantir vaga na Champions League. Mas empatou por 2 a 2. Em uma péssima notícias para quem não gosta de pontos corridos, o último fim de semana previa um confronto direto entre os dois concorrentes. Após o empate no San Siro pelo primeiro turno, a Internazionale precisava vencer para igualar a pontuação da Lazio e ficar à frente no critério de desempate – na Itália, confronto direto.

E foi um jogaço: eletrizante, nervoso, brigado e bem disputado. A Lazio até foi melhor. Adam Marusic bateu da entrada da área e abriu o placar, com um gol contra de Ivan Perisic, cujo rosto desviou a bola e enganou Handanovic. Milinkovic-Savic acertou a trave, e a Inter pouco conseguia produzir. Precisou da bola parada para empatar com Danilo D’Ambrosio. Em contra-ataque, porém, Felipe Anderson fez 2 a 1 para o time da casa. A Inter tentou pressionar depois do intervalo. A 15 minutos do fim, Simone Inzaghi, ele mesmo, trocou Immobile pelo lateral esquerdo Jordan Lukaku. Logo em seguida, Stefan De Vrij, que já estava acertado com a Inter, deu carrinho em Icardi. O capitão cobrou o pênalti para empatar. No minuto seguinte, Senad Lulic foi expulso e sem demora a Inter passou à frente, com Vecino, em nova jogada de escanteio.

E após seis anos de limbo, a Internazionale estava de volta à Champions League.

A guinada com Antonio Conte

Antonio Conte, técnico da Inter (Marco Alpozzi/La Presse/OneFootball)

A Internazionale ainda precisou sofrer mais alguns anos antes de chegar ao principal jogo do futebol europeu. E se a final da Champions League não chegou com Antonio Conte, famoso por suas campanhas fracas no continente, também não dá para negar a importância que teve em dar a guinada final para que a Internazionale voltasse a ser relevante. Spalletti conseguiu repetir o quarto lugar em sua segunda temporada, mas com novas oscilações e polêmicas com Mauro Icardi, não continuou. Conte, tricampeão pela Juventus, de bom trabalho na seleção italiana e vencedor da Premier League pelo Chelsea, chegou como uma declaração de ambição. Entre mortos e feridos, entregou o que dele se esperava.

Com Conte, o problema costuma ser o como, e o torcedor da Inter teve que se acostumar com críticas públicas aos jogadores e pedidos de reforços. Ele também não durou muito tempo – para variar. Mas recebeu investimentos pesados, como Romelu Lukaku, jogadores experientes que cobravam salários altos, como Diego Godín, Alexis Sánchez e Christian Eriksen. Em sua primeira tentativa, o scudetto escapou por um ponto. Ele ainda chegou na final da Liga Europa. Na segunda, com mais alguns caras cascudos em Arturo Vidal e Aleksandr Kolarov, e muito dinheiro por Achraf Hakimi, a Internazionale conquistou o Campeonato Italiano pela primeira vez desde a temporada da Tríplice Coroa.

Não havia, no entanto, se transformado em um clube super rico e, depois de atender aos desejos do treinador, a Inter teve que começar a conter despesas, o que nunca está nos planos de Conte. Romelu Lukaku também foi vendido e imediatamente houve um pequeno passo para trás. Sendo sincero, o atual time talvez não seja tão bom quanto o campeão italiano. Lukaku retornou, mas não é mais o mesmo. Skriniar, no auge um dos melhores zagueiros do mundo, passou os últimos meses machucado. Quem é melhor? Hakimi ou Denzel Dumfries? A contratação de Simone Inzaghi foi esperta para dar sequência ao trabalho de Conte porque na Lazio ele operava em uma estrutura tática parecida.

E essa é a vantagem de se tornar um clube mais estável, o que, aos trancos e barrancos, a Internazionale conseguiu. Ainda está longe das potências europeias. Foi apenas o 14º faturamento do último estudo da Deloitte, mas os investidores que substituíram Massimo Moratti conseguiram pelo menos colocá-la de volta ao jogo. Reestabelecida no grupo de elite da Serie A, conseguiu uma sequência na Champions League e uma hora as coisas se encaixaram. Enfrentou o Barcelona, ainda se encontrando com seus novos reforços, no momento certo. O sorteio do mata-mata não foi dos mais difíceis, embora tenha que se respeitar as dificuldades impostas por Porto e Benfica, e se provou um time superior ao rival Milan na semifinal. Talvez não seja sustentável. Provavelmente não será candidata ao título na próxima temporada. Mas isso é um problema para o dia seguinte. Basta uma vitória improvável para ser campeã europeia pela quarta vez.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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