Como superação de herói da Inter de Milão na Champions gerou ‘efeito dominó’
Acerbi, 37 anos, foi primordial na ida da Internazionale à final e busca título inédito para coroar mudança de vida

A Internazionale entra em campo neste sábado (31) para buscar seu quarto título de Champions League graças, em boa parte, a um fenômeno que pode ser chamado de “efeito dominó”.
Esse termo é usado para descrever a sequência de ações ocasionadas a partir de um evento, como várias peças de dominó caindo uma após a outra depois de impulso inicial. No caso da Inter de Milão nesta temporada no torneio europeu, a peça principal desse jogo é Francesco Acerbi.
Câncer muda perspectiva para Acerbi, da Inter de Milão
O zagueiro de 37 anos fez o gol que empatou a partida diante do Barcelona na semifinal da Champions no San Siro nos acréscimos do segundo tempo e levou a disputa para a prorrogação, onde Frattesi marcou e garantiu a vitória Nerazzurri por 7 a 6 no agregado.
Sem o tento de Acerbi, provavelmente não haveria prorrogação, e talvez o time de Simone Inzaghi nem estaria na final. Antes dessas duas ações, porém, foi preciso um pontapé inicial. E isso remonta a uma história de superação extremamente forte que começou em 2013.

Acerbi foi diagnosticado com câncer nos testículos em julho daquele ano, enquanto estava no Sassuolo, e precisou passar por cirurgia de emergência. O tumor tinha sido removido no procedimento, mas a doença voltou alguns meses depois e o obrigou a se afastar dos gramados para fazer quimioterapia.
O câncer não interferiu na rotina, como ele relembrou ao “Guardian”. As sessões de quimio ocorriam pela manhã, o descanso era na parte da tarde e, à noite, balada. Às vezes, ficava nas festas até o amanhecer do dia seguinte.
Cerca de um ano depois do diagnóstico, sentiu um medo sem precedentes e buscou ajuda profissional. “De repente, comecei a pensar em todas as preocupações que causei, nas oportunidades desperdiçadas nas noites em que saí para dançar. Eu estava com medo da minha própria sombra. Comecei a consultar um terapeuta e me ajudou muito”, disse ele ao jornal em 2021.
Revelado no Pavia, o zagueiro defendeu também Reggina, Genoa e Chievo Verona antes de se transferir ao Milan em julho de 2012.
— Eu usava a camisa 13 de Alessandro Nesta, mas eu ia a festas em vez de treinar. Eu costumava beber de tudo e estava considerando seriamente me aposentar do futebol. O câncer salvou minha vida. Eu agradeço a Deus por isso.
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A virada de jogo
Acerbi decidiu mudar o estilo de vida depois do temor. Ficou determinado a não consumir bebidas alcóolicas, adaptou a alimentação e optou por treinos regulares e noites em casa, não mais em baladas. Em 2014/15, retornou gradualmente aos gramados pelo Sassuolo e fez 32 jogos.
A crescente se intensificou nas temporadas seguintes até que, em julho de 2018, ele trocou o Neroverdi pela Lazio. O zagueiro confirmou a volta por cima ao entrar em campo 149 jogos consecutivos entre outubro de 2015 e janeiro de 2019, sem suspensões e sem sofrer com problemas físicos ou de saúde. O italiano quase alcançou o recorde do lateral Javier Zanetti, que fez 162 duelos ininterruptos.
Foram quatro anos nos Biancocelestis antes do empréstimo à Internazionale. A transferência aos Nerazzurris se tornou definitiva em 2023 e dá frutos positivos até hoje. Um deles é o gol nos acréscimos sobre o Barça no fatídico dia 6 de maio, que poderia não ter acontecido se o defensor não jogasse na Lazio, que, por sua vez, talvez não o contratasse se ele não tivesse se destacado no Sassuolo.
O bom desempenho ao longo dos cinco anos no Neroverdi foi diretamente condicionado à virada que o câncer lhe causou. O próprio Acerbi reconheceu isso. “Há um tempo, eu pensava que jogaria 15 anos no Milan em alto nível”, disse ele em entrevista ao “Gazzetta dello Sport” em 2023.
— Hoje eu digo que não. Sem o câncer, eu teria me aposentado aos 28 anos. Talvez eu estivesse na Série B (italiana), no Cittadella, mas com o câncer, minha vida de verdade começou. Me deu uma segunda chance.
Assim, a mudança de vida de Acerbi iniciou o “efeito dominó” que fez dele um dos heróis da classificação da Inter de Milão à decisão da Champions 2024/25. O jogador ainda pode adicionar a essa história de superação o título inédito na carreira.
Para isso, a Internazionale precisa vencer o Paris Saint-Germain (PSG) neste sábado, às 16h (de Brasília), na Allianz Arena, em Munique, na Alemanha. A igualdade no placar ao término dos 90 minutos leva a partida para a prorrogação e, se o empate persistir, pênaltis.