Ceferin critica dirigentes que querem ressuscitar a Superliga: “Eles vivem em um mundo paralelo”
Presidente da Uefa disse que a ideia é sem sentido e de “projeto não muito inteligente”, em meio a rumores que Juventus, Real Madrid e Barcelona ainda querem reviver a Superliga
Em um momento que dirigentes querem reviver a ideia de uma Superliga Europeia, o presidente da Uefa, Aleksander Ceferin, voltou a criticar o que ele chamou de “uma ideia sem sentido” e um “projeto não muito inteligente”. Ele ainda comentou sobre os problemas que o futebol tem enfrentado com a pandemia e agora com a guerra da Ucrânia, além dessa tentativa de cisão da Superliga Europeia.
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“Não é futebol, mas falemos disso de qualquer forma. Estou cansado desse projeto de não-futebol. A primeira vez eles lançaram no meio de uma pandemia, agora durante a guerra. Eles vivem em um mundo paralelo. Enquanto trabalhamos para salvar os jogadores nessa situação, eles querem relançar este projeto”, disse Ceferin no Business of Football Summit, promovido pelo Financial Times, em Londres.
“Eles podem pagar qualquer uma para dizer que é um bom projeto, mas segue sendo uma ideia sem sentido. Entre outras coisas, um dos executivos que agora voltou a pressionar por esse projeto me ligou para pedir desculpas, mas agora vai em frente”, continuou o presidente da Uefa.
“Para eles, os torcedores são consumidores e para nós torcedores são torcedores. Além do mais, o interessante é que eles criticam a Uefa e a ECA, mas um deles foi presidente da ECA [ele se refere especificamente a Andrea Agnelli, presidente da Juventus, que se tornou seu desafeto] e uma semana antes do lançamento da Superliga ele elogiou o atual sistema. Eles podem jogar suas competições, ninguém os proíbe. Mas se eles querem jogar suas competições, não podem jogar a nossa”.
Ao ser perguntado se a mudança da Champions League anunciada em abril de 2021 a aproxima do que era a Superliga Europeia, Ceferin rechaçou completamente. “Não, é algo completamente diferente. Ainda há coisas a serem esclarecidas, então ainda não há uma decisão final. Qualquer um que compare os dois não é sério”, disse Ceferin.
“Hoje temos 32 times na Champions League, teremos 36, mas ainda temos que definir como serão adicionadas essas quatro vagas”, afirmou o presidente da Uefa. Haverá mais lugares para ligas médias e pequenas. E eu não compararia a situação da Super League com a da Fifa, discutimos com a FIFA todos os dias. A Copa do Mundo a cada dois anos é um projeto que ninguém quer. Discutimos com Infantino e estamos discutindo outras opções, mas tenho certeza que encontraremos uma solução”.
Apenas três clubes continuam vinculados à Superliga Europeia: Real Madrid, Juventus e Barcelona. Os demais roeram a corda, a começar pelos ingleses. É esperado que Andrea Agnelli, presidente da Juventus, fale sobre um novo projeto de Superliga, que teria um formato mais parecido cm a Uefa Nations League, com acessos e descensos baseados apenas na campanha europeia, além de outros oito lugares baseados no desempenho nas ligas nacionais. É por isso que Ceferin foi perguntado sobre o assunto.
Pandemia e guerra na Ucrânia
“Nos últimos dois anos o futebol e a Uefa enfrentaram situações impossíveis de acreditar. A começar pela pandemia, com o deslocamento dos europeus e grande prejuízo financeiro para a Uefa, mas se não tivéssemos transferido os jogos, teria havido uma perda enorme em toda a Europa de mais de € 2 bilhões”, afirmou o dirigente.
“Durante a pandemia, havia situações críticas todos os dias, entre a positividade nos times e os torcedores que não podiam entrar nos estádios. Então, em abril de 2021, a Superliga, em seguida, então concluímos as discussões sobre aquele projeto não tão inteligente e tivemos que lidar com os europeus em 11 países durante a pandemia”.
“Então veio a Copa do Mundo bienal e agora a guerra na ucrânia, a situação mais terrível que poderia acontecer. Não é sobre futebol, mas o futebol está envolvido. Não posso imaginar o que mais pode acontecer. Ninguém esperava que a guerra viesse para a Europa nos nossos dias. Estamos fazendo coisas que não comunicamos”, continuou Ceferin.
“Ficamos no telefone por 48 horas com jogadores e técnicos para ajudá-los a saírem da Ucrânia. Falei com todos os governos, mas ninguém nos garantiu segurança. Junto com a Associação de Futebol Ucraniana e as associações de futebol vizinhas, tivemos que fazer isso. É difícil explicar o quanto essas conversas foram difíceis. É algo maior que o futebol e estou orgulhoso com o que a família do futebol está fazendo, algumas coisas não são públicas, mas continuamos fazendo isso”, contou o dirigente.
“É difícil dizer o que vai acontecer amanhã, mas essa loucura tem que acabar logo. Quão distante a Rússia está de voltar a participar do futebol europeu? Neste momento, é impossível dizer. Nossa decisão era a única correta, veio de forma unânime do Comitê Executivo, mas é impossível dizer o que acontece amanhã. Por agora, estamos esperando a paz chegar”.