Chamberlain reclama do silêncio do Liverpool e explica por que recusou Arábia Saudita
Novo jogador do Besiktas, Chamberlain não gostou da maneira como o Liverpool conduziu sua saída, sem avisá-lo com antecedência
Alex Oxlade-Chamberlain chegou a ficar preocupado. A fama de um jogador que se machuca muito pegou e afetou o interesse em seu futebol quando o contrato com o Liverpool acabou. Acertou com o Besiktas, da Turquia, apesar de propostas da Arábia Saudita, por vários motivos. O primeiro foi ficar mais próximo da família. O segundo, recuperar o tempo perdido após uma passagem de altos e baixos por Anfield.
Os altos foram bem altos. Não apenas porque fez parte de um time brilhante que conquistou todos os títulos, mas também porque, antes de romper os ligamentos cruzados do joelho na semifinal da Champions League contra a Roma, claramente o divisor de águas da sua carreira, estava mostrando mais do que se esperava quando era um ponta promissor do Arsenal. E isso atuando como um meia completo no coração do time de Jürgen Klopp.
A lesão mudou tudo. Perdeu praticamente toda a temporada seguinte, limitado a um observador do título da Champions League, embora tenha ficado no banco de reservas na final contra o Tottenham em Madri. Quando retornou, ainda participou de 30 rodadas da campanha vitoriosa na Premier League, 17 como titular. Mas perdeu embalo e espaço no time, atrapalhado por outros problemas físicos.
Após jogar apenas 29 vezes por todas as competições em 2021/22, sabia que seria difícil convencer a cúpula do Liverpool a renovar o seu contrato, que entrava no último ano. E nem teve chance de fazer isso. Uma chance de verdade. Sofreu uma lesão muscular na pré-temporada e retornou apenas depois da Copa do Mundo. Chegou a ter uma sequência em janeiro, mas foi exilado depois de começar jogando em duas pesadas derrotas para Brentford (3 a 1) e Brighton (3 a 0).
Não que tenha sido sua culpa. Foi uma temporada estranha para o Liverpool. E ele entende que Klopp tenha preferido dar oportunidade para jogadores mais jovens. Jogadores que tinham um futuro no clube.
– Eu estava ganhando um pouco de momento em janeiro, marquei contra o Brentford fora de casa, e aí tivemos um resultado ruim contra o Brighton e foi isso para mim. Foi tudo que eu tive. Eu fiquei fora do time na maior parte do restante da temporada, treinando com o time, mas nos dias de jogos treinando sozinho. Continuei em frente, baixei a cabeça e fiz tudo para garantir que estivesse pronto, mas no fim das contas, o técnico preferiu uma direção diferente que estava fora do meu controle.
– Alguns dos jogadores mais jovens ganharam oportunidades, preparando-os para os próximos anos, o que eu entendo. Eu acho que você só quer que isso seja comunicado para você porque você começa a ficar meio louco. O que mais eu posso fazer aqui? E nunca foi realmente descartado que eu não receberia um novo contrato – disse, em entrevista ao The Athletic.
Por que o silêncio?
Chamberlain adorou sua passagem pelo Liverpool. Tem elogios aos jogadores e ao técnico Jürgen Klopp. Sabe que a história talvez fosse diferente sem aquela séria lesão. O único rancor que guarda é que gostaria que o clube tivesse sido mais franco sobre a sua situação. Disse que ficou sabendo que estava na lista de dispensas, ao lado de Roberto Firmino, James Milner e Naby Keita, instantes antes da publicação do comunicado oficial.
– Nunca foi dito. Eu obviamente entendi a situação. Me disseram antes de publicarem o comunicado. ‘Para você ficar sabendo, estamos publicando isso sobre você, Milly, Bobby e Naby indo embora'. E eu fiquei, tipo, ‘oh, ok, obrigado'. Mas não houve nada oficial em nenhum momento antes disso. Foi apenas que… o silêncio foi suficiente para saber qual era a situação. Você espera que certas coisas sejam ditas, boas ou ruins, é assim que funciona o jogo. A falta de comunicação foi um pouco… surpreendente – disse.
– Eu e Klopp tivemos uma boa relação. Não houve nenhuma briga. Eu entendo que, como treinador, não é fácil navegar as necessidades de todos os jogadores, mas quando eu estava jogando, eu definitivamente gostava mais dele do que quando estava no banco – diz, dando risada – Quanto mais eu pratico o esporte, mais eu entendo que você é apenas uma entidade no grande esquema de um negócio.
– Haverá muitos outros depois de nós e houve muitos antes, pessoas que tiveram grandes experiências. Eu tive grandes, grandes momentos no Liverpool. Não posso dizer nada de ruim sobre minha passagem por lá. Eu não diria nem que terminou mal. No fim do dia, o clube é maior que qualquer jogador. Às vezes tem coisas mais importantes – completou.
Por que recusou a Arábia Saudita
Chamberlain passou férias estranhas. Geralmente ele sabia para qual cidade voltaria, qual camisa vestiria, quem seriam seus companheiros, quais seriam as ambições para a temporada, mas acertou com o Besiktas apenas em 14 de agosto, a cerca de duas semanas do fechamento da janela de transferências na maior parte das ligas europeias.
A demora o deixou preocupado. E incomodado. Porque parte do problema era o seu histórico de lesões e ele não concorda com as avaliações de que é um jogador que se machuca demais.
– Eu me lembro de quando Danny Welbeck, um bom amigo, saiu do Arsenal. Por muito tempo, ninguém o contratava e eu lembro de pensar ‘O que está acontecendo? Por que ninguém o está contratando de graça?’ E agora estava tendo conversas com clubes e as pessoas estavam questionando se eu consigo jogar por esse time que não é o Liverpool e você pensa ‘espera um pouco, isso é diferente'.
– Se eu estivesse sofrendo lesões musculares o tempo todo, entenderia. Mas em toda minha carreira, eu tive três lesões musculares na coxa em 13 anos. Meu problema é que minhas lesões foram grandes, exigiram cirurgia no joelho. Mas uma vez que voltei delas, foi ok. No fim da temporada passada, as pessoas diziam ‘ah, ele está machucado?’. Mas eu não estava. Eu apenas não estava sendo escalado – explicou.
Uma das possibilidades que apareceram foi jogar na Arábia Saudita. Confessou que, em um primeiro momento, estava cético. Não parecia atrativo jogar em uma liga tão periférica. Mas mudou de opinião à medida em que mais jogadores importantes foram contratados. No fim, decidiu não seguir os passos de ex-companheiros como Firmino, Jordan Henderson e Wijnaldum principalmente por dois motivos.
O primeiro foi a distância. Istambul está a três horas e meia de Londres por avião. Riyadh é mais três horas além disso e, se jogasse pelo Al-Ettifaq, treinado por Steven Gerrard, por exemplo, seriam pelo menos nove horas para voltar para casa ou para a família visitá-lo. O outro motivo foi futebol mesmo.
– Eu conversei com o treinador (Senol Günes, que já renunciou), falamos sobre posições e a principal decisão para mim foi apenas voltar a jogar futebol o mais rápido possível. É um clube grande, não muito longe da minha família e tudo fez sentido para mim. O time terminou em terceiro lugar na última temporada, e talvez nos vejam como zebra, mas eu gosto disso. Eu gosto do desafio de vir para cá, com caras como Eric Bailly e Ante Rebic, e tentar vencer a liga. Você tem que ir para algum lugar em que é querido, onde realmente querem que você venha jogar. E eu sempre senti que queria tentar uma cultura diferente e jogar em uma liga diferente – disse.
A passagem pelo Arsenal
Chamberlain foi formado pelo Southampton, mas apareceu para o futebol com a camisa do Arsenal. Diz que não tem uma memória ruim da sua passagem pelo norte de Londres e ainda admira muito o lendário Arsène Wenger. Mas acredita também que havia um problema de mentalidade nos Gunners, que ele passou a perceber apenas quando passou a viver em um ambiente diferente.
– No Arsenal, sempre entramos nos grandes jogos pensando que seria muito difícil. Essa foi a maior diferença no Liverpool, no qual, mesmo na primeira temporada (2017/18), em que éramos meio que uma zebra, havia esse foco incrível e completo de que não havia mais nada acontecendo além de vencermos o jogo. Eu não sei por que, mas, no Liverpool, apenas sabíamos que venceríamos os grandes jogos.
– Talvez tenha sido isso que faltou no Arsenal. Ganhamos Copas da Inglaterra, mas provavelmente nunca conseguimos o que poderíamos. Tínhamos uma incrível qualidade. Do ponto de vista do futebol, tínhamos tudo que precisávamos. Eu lembro de alguns dos grandes jogos. Sendo goleado pelo Liverpool quando estávamos na liderança e perdendo por 4 a 0 em 20 minutos (em 2014). Perder por 8 a 2 em Old Trafford (em 2011), jogos contra Chelsea e Manchester City. Muitos grandes jogos que não conseguíamos vencer.
– O ano que o Leicester venceu (a Premier League, em 2015/16) foi o mais decepcionante. Estávamos na liderança em janeiro e outros chamados grandes times não foram bem naquele ano. Mas deixamos a peteca cair em jogos que deveríamos ter vencido – encerrou.