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A reformulação continua: além de Firmino, Milner, Keita e Ox deixarão o Liverpool

Apesar da recuperação das últimas semanas, o próximo mercado de transferências deve trazer um rearranjo mais dramático ao time de Jürgen Klopp

Quando um treinador começa a passar dos oito anos no comando de um clube ambicioso, montar um grande time não é o bastante. Precisa pensar no próximo. O primeiro de Jürgen Klopp foi se despedaçando pouco a pouco: primeiro, coadjuvantes, como Adam Lallana, Dejan Lovren e Georgio Wijnaldum. A última janela de verão foi mais sísmica porque quebrou o histórico trio de ataque quando Sadio Mané se transferiu ao Bayern de Munique. E nesta quarta-feira, um grande passo para a reformulação do Liverpool foi dado com a confirmação das saídas de James Milner, Alex Oxlade-Chamberlain e Naby Keita, além de Roberto Firmino.

O processo geralmente anda em etapas, e nem sempre é fácil saber qual o momento certo para a ruptura. A campanha de 2020/21 do Liverpool parecia um fim de ciclo, mas havia tantos atenuantes (portões fechados, calendário mais apertado, muitas lesões, sentimento de dever cumprido após quebrar o jejum do Campeonato Inglês), que a espinha dorsal foi mantida e, na campanha seguinte, quase entregou um resultado sem precedentes, com as conquistas das copas inglesas e os vice-campeonatos da Premier League e da Champions League. Mas, apesar da ótima recuperação nas últimas semanas, a atual temporada não deixou dúvidas de que chegou a hora de um rearranjo mais dramático.

Porque de certa forma ele já começou. Paralelamente a algumas saídas, sangue novo foi injetado no elenco, com as contratações de Luis Díaz, Ibrahima Konaté, Darwin Núñez e Cody Gakpo, além de Diogo Jota, um pouco mais para trás. A diferença é que o próximo mercado deve trazer uma reformulação mais ampla, com um foco claro no meio-campo, o setor onde a maioria desses jogadores que serão dispensados costuma atuar e também o que parece mais envelhecido e fragilizado no momento.

Firmino é evidentemente o nome mais importante da lista. A despedida que a torcida do Liverpool já iniciou na última segunda-feira, mesmo em um jogo fora de casa, sugere a avalanche de emoções que será a sua partida final em Anfield, no próximo sábado, contra o Aston Villa – se ele tiver condições de entrar em campo porque está machucado há cerca de um mês. De qualquer maneira, a sua musiquinha, um pedido expresso de Jürgen Klopp em 2019, será a atração principal da cerimônia porque ele está entre os maiores ídolos da história dos Reds.

O brasileiro chegou antes de Klopp, em um mercado no qual o nome mais forte era Christian Benteke. Nos primeiros jogos com Brendan Rodgers, foi usado pelos lados para dar espaço ao ex-centroavante do Aston Villa e durante alguns meses a torcida ficou se perguntando se havia sido um bom negócio. Tudo mudou com a chegada do alemão, um especialista em Bundesliga que o havia acompanhado de perto no Hoffenheim. Firmino se transformou em um centroavante completo e altruísta que não se importava em ser efetivamente o armador para que Mané e Salah acumulassem números. Sempre entregou tudo durante os jogos, foi uma peça central em todo o esquema de pressão e, talvez um pouco menos importante, tem um sorriso hiper-carismático.

O pacote completo fez com que caísse nas graças da torcida. Desde o título da Premier League em 2019/20, porém, o seu futebol caiu de rendimento, e as lesões se tornaram mais frequentes. Havia a possibilidade de ser vendido no começo da temporada, a última chance de fazer algum dinheiro com ele, mas, por serviços prestados, o Liverpool preferiu lhe dar total liberdade para que decidisse o seu futuro. Fez uma proposta de renovação e também se antecipou contratando Gakpo em janeiro. Klopp sempre disse que queria que o “coração e a alma” do seu time permanecesse. Em março, Firmino comunicou aos chefes que queria viver novas aventuras e sairá de graça ao fim do seu contrato.

O segundo nome da lista é James Milner. O vice-capitão chegou no mesmo mercado de Firmino, sem taxa de transferência, após uma passagem competente pelo Manchester City. Era um momento de crise de liderança no Liverpool, que havia se despedido de Steven Gerrard e reinvestido muito mal o dinheiro da venda de Luis Suárez. Milner contribuiu para instaurar uma mentalidade vencedora no vestiário, durante muito tempo como um dos poucos no elenco que havia conquistado alguma coisa. Em campo, teve uma campanha especial na Champions League de 2017/18, batendo o recorde de assistências em uma única edição da competição na era moderna.

E sempre foi pau para toda obra. Precisava quebrar o galho na lateral esquerda? Opa. Na lateral direita? Bora. Em todas as posições, raramente nas ofensivas, Milner esteve lá tomando a decisão certa e sendo uma base de sustentação para o resto do time. Aos 37 anos, sua influência no gramado diminuiu. Embora tenha feito 41 jogos nesta temporada, poucos foram como titulares ou com mais de 10 ou 15 minutos. Se quiser, ainda terá uma etapa final da sua carreira como esse ancião sábio para passar experiência aos mais jovens. Seria perfeito para ajudar a garotada do Brighton, por exemplo, um dos clubes interessados em seus serviços. Também está ligado ao Burnley, do ex-companheiro Vincent Kompany, ou a um retorno ao Leeds, no qual estreou na Premier League em 2002.

A história dos outros dois é a do que poderia ter sido. Oxlade-Chamberlain foi contratado do Arsenal, em 2017, por um valor bem alto na época, e teve primeiros meses muito promissores. Parecia que seria um coringa importante, capaz de jogar no meio-campo e no ataque, mas sofreu uma séria lesão no joelho na semifinal da Champions League contra a Roma e nunca passou de alguns sinais de recuperação. Até conseguiu ser uma peça de rotação no título da Premier League. Os últimos três anos foram de poucos jogos. Desde fevereiro, esteve em campo por pouco mais de meia hora com a camisa do Liverpool.

Naby Keita foi a grande contratação que não deu certo em toda a era Klopp. Era tão bem avaliado que o clube aceitou fechar a transferência com o RB Leipzig um ano antes do meio-campista chegar. O valor de aproximadamente € 60 milhões ainda o coloca entre os reforços mais caros da história do Liverpool. Ele tem 28 anos, e a ideia era justamente que fosse um elo de ligação entre os dois períodos porque deveria estar no auge neste momento, entre os donos do meio-campo. O excesso de problemas físicos impediu que tivesse uma sequência relevante. Todos os momentos em que deu vislumbres daquele jogador dinâmico da Bundesliga foram seguidos por períodos no departamento médico. Em cinco anos, nunca passou de 25 jogos ou 1.400 minutos (15 partidas completas) em uma edição da Premier League. Não joga desde fevereiro.

A saída desses quatro jogadores abrirá muito espaço na folha salarial para novos reforços. O problema é que também estão saindo quase € 150 milhões em investimentos, sem nenhuma compensação financeira. Se dá para apontar uma falha na política de transferências do Liverpool, é esta: o clube raramente consegue fazer grandes vendas. Coutinho foi a exceção, e Mané gerou € 32 milhões, um valor baixíssimo para o jogador que se tornou. É uma escolha, que tem seu prós (continuidade, menos rotatividade, o máximo retorno esportivo possível), mas, na hora de fazer grandes compras, acaba pesando para um clube que é rico, mas não tanto quanto alguns adversários e ainda tenta gastar dentro dos seus próprios recursos.

Aos fãs da numerologia, a próxima temporada do Liverpool será um prato cheio. As camisas 7, 8 e 9, além da 10, ainda vaga desde a saída de Mané, estarão à disposição. Os principais nomes na indústria de rumores relacionados aos Reds neste momento são Alexis Mac Allister, do Brighton, Mason Mount, do Chelsea, e Ryan Gravenberch, do Bayern de Munique. Como Klopp e companhia preencherão esses números icônicos determinará bastante do sucesso dos próximos anos.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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