Messi não se cansa mesmo e agora faz ser divertido ver futebol dos EUA
Desde que Messi chegou ao futebol dos EUA, me peguei assistindo jogos que nunca esperei -- coisas que só um gênio da bola nos consegue fazer

Em 2005 eu estava no primeiro colegial e às terças e quintas tínhamos aula de tarde após a aula de todo santo dia pela manhã. Vez ou outra, eu e meus amigos jogávamos bola numa quadra que tinha logo em frente ao colégio, como talvez tenha sido naquele 14 de junho. Ou talvez a gente só estivesse na lanchonete atazanando o dono do lugar, mas fato é que foi naquele dia que passou ali na TV algo, ou melhor, alguém que chamou a nossa atenção. A minha, pelo menos, muito. Não sei precisar se era o jogo em si, melhores momentos em algum programa, mas ali foi a primeira vez que eu tive contato com Lionel Messi.
Foi marcante porque eu lembro que fui pra casa e iniciei um save no FM 2005 com o Real Betis. Contratei o então Leo Messi do Barcelona e o George Weah Jr do Milan. Nas férias daquele ano eu fui campeão europeu com a dupla que acabou tendo um destino bem diferente: o filho do lendário George Weah foi dispensado da base do Milan na vida real, se profissionalizou no Wohlen da Suíça e teve como grande destaque da carreira uma passagem pelo PSG B em 2015; já o Messi, ele me faz assistir futebol nos Estados Unidos hoje em dia.
Acompanhar a carreira de Messi foi incrível e assim segue sendo
O jogo em questão que passava na TV naquele dia era um Egito 0 x 2 Argentina pelo Mundial Sub-20 de 2005, que foi disputado na Holanda. Foi a primeira vez que o Messi chamou a minha atenção e a do mundo todo e que começou a ser divertido de acompanhá-lo. Mesmo nos pouquíssimos jogos que disputou no futebol de base com alcance mundial, Lionel Messi fez valer a pena o ingresso ou a audiência da forma que foi possível. Afinal, o show começou na TV de tubo e vai fechando a cortina em telas ultra HD 4k nos celulares, televisores e tablets.
Nesse Mundial Sub-20 de 2005 nós já pudemos ter a amostra do que viria. Depois do gol contra o Egito no segundo jogo, Messi voltaria a marcar mais cinco vezes. Nas oitavas empatou para a Argentina contra a Colômbia em jogo decidido nos acréscimos do segundo tempo em 2 a 1 para a Albiceleste. Já nas quartas de final, Messi fechou o 3 a 1 sobre a Espanha de Juanfran, Cesc Fàbregas, David Silva e Fernando Llorente. Nas semifinais, clássico contra o Brasil — para nosso azar.
Aquela Seleção Brasileira tinha o Bobô no ataque e isso me marcou bastante à época, porque eu achei que ele ia ser bom. Errei feio. Mas o Brasil era bom e tinha, por exemplo, Fábio Santos e Rafinha nas laterais, um Arouca que era excelente na base do Fluminense na volância, além de um ataque que além do glorioso já citado tinha o Rafael Sóbis. Tudo isso com Diego Alves, Filipe Luis e Diegos Souza e Tardelli no banco. Mas tinha um Messi no meio do caminho e a esquerda dele deu o cartão de visitas com menos de dez minutos de jogo. O Brasil empatou com Renato, que prometeu muito no Atlético-MG e não cumpriu tanto assim na vida, e a Argentina fechou com Pablo Zabaleta, que depois foi ser ídolo no Manchester City. E então veio a Nigéria e o Messi fez logo dois gols na vitória por 2 a 1 na final. Era incrível.
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O Messi está nos fazendo gostar de ver futebol dos Estados Unidos
E continua sendo incrível hoje, na MLS. Graças ao Messi eu tenho assistido sim futebol dos Estados Unidos e atestado: não é preconceito não, o nível dos jogos lá não é lá essas coisas. Mas aí que entra o toque de mágica: está sendo interessante por conta dessa passagem dele pelo Inter Miami. Parece society em alguns momentos? Parece, mas e daí? É legal até prospectar até onde esse impacto vai ser realmente interessante pra MLS e pro desenvolvimento do futebol nos Estados Unidos, que a gente ouve falar desde a década de 1990, realmente aconteceu muito, mas tem sempre um passo a ser dado.

Agora, com Messi, a estrutura que o mundo de hoje permite em termos de divulgação e a Copa do Mundo de 2026 chegando, os Estados Unidos parecem ter a chance de ouro de dar esse passo. Afinal, pela primeira vez na história, pessoas de fora da América do Norte pesquisaram sobre Leagues Cup no Google. Muita gente demorou pra entender o regulamento e estranhou quando assistiu o Messi estrear com um golaço da vitória de falta contra o Cruz Azul, no último minuto. Em paralelo com o Mundial Sub-20 de 2005, está sendo divertido acompanhar algo fora do usual por conta do Messi.
Está sendo bastante legal ver essa versão do Messi que faz dois gols e inventa uma comemoração ou que participa de quatro gols em um 4 a 4. Está leve depois de vencer a Copa do Mundo, vai ganhar documentários e provavelmente mais uma Bola de Ouro, está na seleção da Uefa mesmo que tenha migrado seu futebol para a Concacaf e agora fez um monte de gente assinar um streaming exclusivo, do qual inclusive ele ganha uma porcentagem. E tudo isso continuando sendo campeão.
Messi começa a jornada na América do Norte fazendo milagre
Não que esse título da Leagues Cup esteja entre os maiores da carreira do Messi, mas ele tem lá seu significado. Dessa primeira competição, desses primeiros sete jogos, o que fica é a mensagem: não existe não levar a sério para Lionel Messi, não existe time que não melhore muito com Lionel Messi. Básico. Um time que é lanterna e saco de pancadas na MLS. É um nível muito baixo. Quer dizer, era, porque agora eles têm a primeira taça da história, não perdem tem sete jogos e são simplesmente campeões.
Quando Messi fez o anúncio, a chacota era essa lanterninha na liga dos Estados Unidos. O anúncio foi em 7 de junho. A estreia, em 21 de julho. Em 19 de agosto já se tem o veredito: Lionel Messi já transformou o Inter Miami. Sim, o nível é baixo, mas é sempre bom ressaltar que nesse nível baixo, o time no qual ele chegou fechou a liga para ir para a intertemporada como pior time de todos. As adições foram boas, Jordi Alba e Sergio Busquets, mas não é exatamente como se eles estivessem no auge. Sobram, é claro, mas o destaque foi a facilidade que Messi teve desde o minuto um que pisou em campo nos Estados Unidos.
Quando ele pegou a bola para cobrar a falta contra o Cruz Azul, criou aquele tipo de lance histórico: todo mundo sabia que ele ia fazer o gol. E fez. Não demorou, não teve adaptação. Não teve nem tanto glamour, porque o atual estádio do Inter Miami nem permite esse tipo de coisa, apesar de comportar gente como LeBron James. Aliás, esse vai ser outro ponto no mínimo intrigante dessa passagem do Messi pelos Estados Unidos: como vai ser essa relação com o esporte no país onde o esporte é mais entretenimento do que qualquer coisa em comparação ao resto do mundo.
De início, Messi não parece estar levando na brincadeira, mas brinca em campo. Prazer em ver, desde sempre.