Um fim de semana com racismo, violência e censura
Foi um fim de semana particularmente lamentável para o futebol. Não por causa de gols perdidos, passes errados ou partidas ruins. As piores faces do ser humano foram escancaradas nas arquibancadas de estádios ao redor de Uruguai, Espanha, Holanda, Itália, França e Inglaterra, em atos de racismo, censura e violência.
O primeiro incidente foi no sábado. Na terceira divisão do futebol inglês, um torcedor maluco invadiu o gramado do County Ground e tentou socar o goleiro do Leyton Orient. Ninguém se machucou porque o rapaz é muito ruim de jab. O presidente do Swindon Town, mandante da partida, prometeu banir o agressor dos estádios e rever toda a sua política de fiscalização dos entornos do gramado.
Um pouco depois, o Milan passou por outro vexame e apenas empatou com o Genoa, em casa. A reação natural dos ultras do time vermelho e preto foi impedir o elenco de sair do San Siro. A situação só foi resolvida quando Kaká e Christian Abbiati, os dois jogadores mais experientes do time, foram conversar com eles e apaziguar os ânimos.
O domingo foi ainda mais atribulado. O Campeonato Holandês viu dois gols de pênalti de Lucas Piazon para o Vitesse. O segundo, marcado pelo árbitro Danny Makkelie, foi tão controverso que a torcida do Go Ahead Eagles perdeu a cabeça. Soltou fogos de artifício no gramado e o invadiu. O apitador precisou se esconder nos vestiários por dez minutos até que as coisas ficassem mais calmas.
Então, eis que a França resolveu entrar na confusão. Idiotas do Saint Etiénne arrancaram os assentos do estádio Allianz Arena e os arremessaram nos torcedores do anfitrião Nice – que se machucaram, claro. Um espertão da torcida visitante quase caiu das arquibancadas e aumentou a tragédia, mas se pendurou na barra e foi resgatado pelos colegas de crime.
O presidente da liga francesa Frédéric Thiriez ficou bastante irritado, também perdeu a cabeça, mas é muito mais civilizado, então apenas colocou a boca no trombone. “Basta. Alguns cretinos que se passam por torcedores não percebem que estão arruinando a imagem do futebol. Vou me reunir com o ministro do Interior e discutir a viagem dos torcedores para jogos fora de casa. Se não conseguirmos resolver o problema, isso vai acabar com o fim de viagens para partidas fora de casa, o que ninguém quer”, afirmou.
No outro lado do Canal da Mancha, no KC Stadium, a torcida do Hull City – essa pacífica – levou uma faixa para protestar contra a mudança de nome que o presidente do clube está propondo. Os fiscais, então, foram até a arquibancada e tentaram arrancá-la à força, com violência, em um atitude que flerta com a censura.
Por fim, se não estávamos satisfeitos com a ignorância do final de semana, torcedores do Betis ficaram revoltados com a expulsão do zagueiro brasileiro Paulão no dérbi de Sevilha e soltaram ofensas racistas para o jogador do seu próprio clube. E também imitaram macacos.
O clássico uruguaio entre Nacional e Peñarol foi uma festa bonita das duas torcidas até alguns carboneros resolverem brigar entre si e causar a paralisação da partida no Estádio Centenário.
Foi um fim de semana para esquecer no futebol? Não. Foram dois dias que deveriam fazer as autoridades dos governos e das federações dos países sentarem em torno de uma mesa de reuniões e decidirem o que fazer para controlar a torcida. Porque as punições que as entidades que administram o futebol vêm aplicando claramente estão sendo tão eficiente quanto subir a Cordilheira dos Andes de patinete. Custa pegar as imagens, identificar os criminosos e simplesmente colocá-los na cadeia?