A volta de Oriol Romeu também é retrato das limitações do Barça no mercado
Oriol Romeu retorna ao Barcelona depois de 12 anos: é um bom volante na marcação, mas longe de constar como primeira opção do clube no mercado após a saída de Busquets
Uma das principais tarefas do Barcelona no mercado de transferências era encontrar um substituto para Sergio Busquets. O adeus do veterano deixava uma lacuna imensurável na cabeça de área dos blaugranas e o clube desejava um nome de peso para substituí-lo. A princípio, Joshua Kimmich surgiu como sonho de consumo, mas inalcançável. Martín Zubimendi era uma promessa para o setor e não quis deixar a Real Sociedad. Mesmo o negócio acessível com Marcelo Brozovic se esfumaçou diante da oferta da Arábia Saudita. Então, o Barça recorre a um antigo canterano para assumir a posição: Oriol Romeu, que volta para o Camp Nou depois de 12 anos.
Oriol Romeu se tornou um negócio bem barato ao Barcelona, por todas as circunstâncias. O meio-campista estava no Girona desde a última temporada e certamente não teve dúvidas quando recebeu o convite de Xavi. Os blaugranas pagarão €4,5 milhões pelo volante, em contrato assinado por três temporadas. O Girona tentou fazer jogo duro e exigia o pagamento da cláusula de rescisão, de €9 milhões, mas o desejo do jogador pesou. Xavi participou diretamente das tratativas com o atleta, que é seu conhecido desde as categorias de base. Existe um laço com La Masía que serve inclusive para exaltar o retorno. Entretanto, tal movimento demonstra como a situação do Barça no mercado é limitada.
Os problemas do Barcelona no mercado
Os problemas financeiros do Barcelona não são novos. O clube se viu sufocado por suas dívidas nas últimas temporadas e precisou apertar os cintos. Durante o último ano, as famigeradas “alavancas econômicas” ainda permitiram movimentações acima do que se imaginava para os blaugranas. Entretanto, os recursos não são os mesmos atualmente. Segundo a Cadena Cope, o Barça precisaria reduzir sua folha salarial em €60 milhões para inscrever novos jogadores. Tal situação teria sido agravada justamente depois que uma das empresas que comprou o setor de mídia do clube atrasou seus pagamentos.
O Barcelona, em teoria, deveria vender peças para melhorar o cenário. Por enquanto, o mercado está morno para os blaugranas nesse sentido. Sergio Busquets e Jordi Alba foram os principais destaques que saíram, sem custos ao fim do contrato. Enquanto isso, o dinheiro de venda que entrou se limitou a atletas que já estavam fora dos planos faz tempo, como Antoine Griezmann e Francisco Trincão. Peças consideradas descartáveis dentro do elenco ainda não encontraram um novo destino.
Em consequência, o Barcelona não consegue fazer negócios tão incisivos no mercado de transferências. Oriol Romeu é o primeiro reforço que chega com um gasto direto dos blaugranas. Os outros dois contratados vieram sem custos na transação. Ilkay Gündogan chegou do Manchester City ao final de seu contrato, assim como Iñigo Martínez assinou ao término do seu vínculo com o Athletic Bilbao. A compra de Vitor Roque, embora anunciada, entrará nos balanços dos catalães na próxima temporada. Tanto Gündogan quanto Martínez possuem cláusulas contratuais que permitem a ambos saírem de graça se não forem inscritos em La Liga.
Como foi o início de Oriol Romeu no Barça
Se Oriol Romeu não é exatamente a primeira opção do Barcelona para o meio-campo, não significa que deva ser menosprezado. O volante pode não ter atingido aquilo que prometia na carreira, mas teve uma trajetória digna. Nascido em 1991, o prata da casa fez parte da geração do Barcelona B que conquistou o acesso à segunda divisão em 2009/10, sob as ordens de Luis Enrique. Compunha uma faixa central qualificada ao lado de Thiago Alcântara e Sergi Roberto, em equipes que ainda reuniam figuras como Marc Bartra, Nolito e Jonathan Soriano. O bom desempenho nas divisões de acesso credenciava os garotos na transição rumo ao time principal.
Oriol Romeu, no entanto, mal teve chances no Barcelona. Foram apenas duas partidas sob as ordens de Pep Guardiola, ambas na vitoriosa temporada de 2010/11. Pesou bem mais o interesse do Chelsea, que pagou €4,6 milhões para tirar o jovem do Camp Nou em agosto de 2011. Em Stamford Bridge, Oriol Romeu fez parte da equipe dos Blues que conquistou a Champions League. Disputou três partidas na campanha de 2011/12, todos na fase de grupos, e ficou no banco durante a decisão contra o Bayern de Munique. Entretanto, num novo ambiente para se adaptar, o espanhol também não emplacou. Perdeu espaço gradativamente e ficou apenas duas temporadas em Londres, com 33 partidas disputadas.
Após empréstimos, Oriol Romeu chamou atenção da Premier League
Depois disso, Oriol Romeu teve dois empréstimos seguidos. Não deixou saudades no Valencia e se saiu melhor no Stuttgart, em 2014/15. Com isso, atraiu interesse do Southampton e acabou comprado por €7 milhões. Transformou-se num dos jogadores mais regulares dos Saints na Premier League. Foram sete temporadas consecutivas em St. Mary's, com mais de 250 partidas disputadas. Pode não ter se tornado um jogador reconhecido mundialmente, mas a estabilidade dos alvirrubros na primeira divisão correspondia ao seu trabalho. Marcou o seu nome. Saiu apenas quando decidiu retornar à Catalunha.
O Girona fez um ótimo negócio quando contratou Oriol Romeu na temporada passada, por €5,5 milhões. O volante seria uma clara liderança para a equipe e apresentava um alto nível para se destacar em La Liga. Foi o que aconteceu. Os alvirrubros fizeram uma boa campanha, em que brigaram até a reta final do campeonato pelas vagas nas copas europeias. Romeu parecia pronto para se tornar referência do clube por alguns anos. Isso até que o Barcelona abrisse uma porta que parecia fechada há tempos.
A culer comes back home. pic.twitter.com/anvoeSZukx
— FC Barcelona (@FCBarcelona) July 19, 2023
Como o Barcelona pode montar o meio-campo com Oriol Romeu
Oriol Romeu em teoria é o substituto de Busquets e a opção mais defensiva à disposição do Barcelona no meio-campo, mas isso não o garante como titular absoluto. Xavi pode montar também uma faixa central mais leve, com jogadores de melhor passe numa função mais recuada. Frenkie de Jong e Ilkay Gündogan podem funcionar neste sentido, mas sem a mesma pegada de Romeu. A diferença do novo reforço é que ele é um especialista e se encaixa mais naquilo que oferecia Busquets.
Oriol Romeu não é muito o jogador que se apresenta no ataque, mas pode ser um diferencial no jogo aéreo. Outro predicado do volante é a precisão para iniciar a construção de jogo, com eficiência nos passes. Não vai oferecer assistências diretas, mas pode facilitar a transição da equipe. Além disso, apresenta ótimos números defensivos. Durante seu auge na Premier League, teve ótimas médias de desarmes. É um bom marcador para proteger a intermediária e pressionar a construção dos oponentes.
Se não é o sonho de consumo do Barcelona, Oriol Romeu pode ser um jogador funcional. Não será necessariamente alguém virtuoso com o “selo de La Masía”, como o clube pretende vender, mas conseguirá carregar o piano quando necessário. O momento dos blaugranas é de manter os pés no chão e um negócio como o de Romeu deveria ter sido visado inclusive de primeira. Será um atleta que conhece o clube e que pode auxiliar no florescimento de novas promessas, inclusive Pedri e Gavi. Diante das atuais limitações, é nesses garotos que o Barça deveria apostar mais firmemente suas fichas.