Em uma típica novela de fim de janela, Barcelona consegue um bom atacante com Aubameyang
De viagem a Barcelona, volta a Londres, falta de dinheiro até a assinatura: Barcelona viveu uma novela para levar Aubameyang ao Camp Nou

O último dia de janela de transferências costuma ser cheio de idas e vindas, com o desespero batendo à porta dos clubes que vivem momentos ruins. Foi em uma novela típica de um fechamento de mercado que o Barcelona acertou a contratação de Pierre-Emerick Aubameyang, atacante de 32 anos, em uma transferência definitiva vindo do Arsenal, ainda que a confirmação só tenha chegada dois dias depois. Não pagou os custos de transferência, já que Auba rescindiu com os Gunners, e assinou contrato até 2025 com o clube, com uma cláusula de liberação em 2023 e cláusula de rescisão de € 100 milhões.
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Tudo isso porque Aubameyang queria muito ir para o Barcelona. Queria tanto que ele foi pessoalmente até a Catalunha, foi visto no aeroporto e tudo indicava que o negócio estava encaminhado. Depois se descobriu que na verdade ele viajou por conta própria – o seu pai tem uma casa na região. Teve que retornar a Londres e foi avisado pelo Arsenal que o clube não pagaria parte do seu salário se ele quisesse ir para o Barcelona. Havia um impasse.
O Barcelona não tinha dinheiro para pagar o salário de Aubameyang, ao menos o que ele ganhava no Arsenal, algo em torno de € 1,6 milhão por mês, ou algo em torno de € 20 milhões por ano. Um salário altíssimo para os padrões atuais do clube, que já está no limite. Já era sabido que seria necessária uma redução enorme de salários para acertar com os blaugranas. Com tantos problemas para o acerto, o negócio foi dado como perdido.
Horas depois, porém, as coisas mudaram. O presidente do Barcelona, Joan Laporta, disse com todas as letras que o negócio para contratar Aubameyang ainda estava de pé e que o clube não desistiria até o fim do prazo – ou seja, o fim do dia de 31 de janeiro. Subitamente, o negócio estava vivo. Não demorou para que houvesse atualizações.
Aubameyang sabia que teria que fazer grandes concessões para se transferir, o que significava, necessariamente, uma redução salarial importante, mas tinha ao seu lado a vontade do clube de contar com ele. Segundo informações do Guardian, o jogador receberá no Barcelona menos da metade do que recebia no Arsenal: salários de £ 2,1 milhões até o final desta temporada, sendo que no Arsenal o atacante receberia £ 6 milhões.
Arsenal e Barcelona entraram em um acordo poucas horas depois: o jogador rescindiria sem contrato com os Gunners para rumar aos catalães. Por que o Arsenal deixaria o jogador sair sem custos tendo contrato por mais 18 meses, até junho de 2023? Bom, porque isso significaria uma economia estimada de £ 25 milhões em salários e, além disso, havia um clima que não parecia permitir que ele retornasse.
Aubameyang não joga pelo Arsenal desde o dia 6 de dezembro, se apresentou à seleção do Gabão para a Copa Africana de Nações e ele perdeu a braçadeira de capitão por questões disciplinares. O seu retorno enfraqueceria Mikel Arteta e a opção foi deixá-lo sair. O que faltou foi conseguir alguém para o seu lugar.
Experiência e versatilidade
Nascido em Laval, na França, Pierre-Emerick Aubameyang tem tripla nacionalidade: francês, espanhol e gabonês, sendo que defende a seleção desta última. Ainda nas categorias de base, passou por Rouen e Bastia antes de chegar ao Milan.
Nunca conseguiu se firmar no time principal e acabou emprestado ao Dijon, em 2008. Foi emprestado novamente na temporada seguinte, desta vez ao Lille, em 2009 e isso se repetiu com o Monaco, na temporada seguinte, e o Saint-Étienne um ano depois. Foram Les Lerts que apostaram no jogador e o contrataram em definitivo pagando pouco, € 1,8 milhão.
Auba ficaria pouco tempo nos verdes franceses e a valorização foi rápida. Depois de um ano de empréstimo vindo do Milan e outro ano já como jogador do Saint-Étienne, o Borussia Dortmundo bateu à porta. Em 2013, rumou para a Bundesliga e se tornou jogador dos aurinegros por € 13 milhões. Deixou o Saint-Etienne com 41 gols marcados em 97 jogos.
Na Alemanha, Auba se reinventou. O ponta veloz teve que se tornar um artilheiro quando o Dortmund perdeu Robert Lewandowsi para o Bayern de Munique e ele foi muito bem: se tornou um concorrente de peso pela artilharia do Campeonato Alemão, inclusive foi o artilheiro na temporada 2016/17, com 31 gols. No total, foram 213 jogos e 141 gols marcados pelo clube.
Em janeiro de 2018, depois de ser especulado em muitos clubes, acertou a sua transferência para o Arsenal por € 63,75 milhões (ou £ 60 milhões). Da sua chegada até fevereiro de 2020, ninguém fez mais gols na Premier League que o gabonês. Não por acaso ele terminou como artilheiro da liga na temporada 2018/19, a sua primeira inteira no clube.
Conquistou a Copa da Inglaterra, em 2019/20, sendo um jogador fundamental, com gols decisivos. Sua queda de rendimento, porém, veio depois disso, somado a episódios de indisciplina que culminaram na perda da braçadeira de capitão, afastamento e, por fim, sua saída do clube. No Arsenal, foram 163 jogos e 93 gols marcados.
O que dá para esperar de Aubameyang?
A queda de rendimento de Aubameyang foi grande, mas ainda assim, Aubameyang teve grandes momentos pelo Arsenal. O Barcelona ganha um jogador que, quando está em forma, tem velocidade, versatilidade e sabe marcar gols. Em um time que circula muito a bola como é o do técnico Xavi, Auba pode ser útil para se movimentar, receber a bola e finalizar de diferentes partes do campo. Mas tudo isso, porém, depende de algo que não vimos no Arsenal nos últimos meses: estar não só fisicamente bem, mas mentalmente bem, concentrado e dedicado.
Sem dúvida Aubameyang é uma melhora considerando que algumas vezes Xavi tem colocado o atacante Luuk de Jong no time. Aubameyang é um jogador melhor no geral, pode acrescentar mais ao jogo e ao time. É um jogador que ajuda o time a finalizar mais, não só por ter precisão, mas porque se movimenta para receber e é veloz. É um jogador que pode acrescentar ao jogo por vezes pouco objetivo do Barcelona, que sente falta de alguém mais incisivo. Nesse sentido, tanto Auba quanto Adama Traoré, outra contratação desta janela de inverno, podem contribuir, com o gabonês sendo um artilheiro.
E agora, Arsenal?
Do ponto de vista do Arsenal, é uma economia importante por um jogador que não vem mais rendendo, já que os salários são muito altos. Ainda assim, há um problema: faltará um atacante. E a situação em termos futuros também é preocupante: os dois atacantes que ficam, Eddie Nketiah e Alex Lacazette, só tem contrato até o final desta temporada.
É claro que a saída de Aubameyang pode fazer com que uma proposta de renovação soe mais atraente para Lacazette agora. De qualquer forma, o Arsenal fica sem um atacante e terminará a janela com um jogador da posição a menos do que tinha no começo. O ano começou com o Arsenal sonhando com Dusan Vlahovic, mas no fim, só perderá Aubameyang. Ainda que a saída de Aubameyang não seja um problema por si, a falta de uma reposição pode ser um problema.