Copa do Mundo

Europeus ameaçam desfiliação da Fifa se Copa a cada dois anos for aprovada

Mais de 12 países manifestaram à Uefa a vontade de se desfiliar da Fifa se proposta for aprovada

Mais de uma dúzia de associações nacionais consideram a opção de se desfiliar da Fifa como último recurso contra a medida de uma Copa do Mundo a cada dois anos, como quer a entidade. A informação foi dada por duas pessoas envolvidas nas conversas à agência AP. Seria uma medida considerada como último recurso, caso a decisão da maioria das associações seja de aprovar a maior frequência da principal competição de seleções do planeta.

A Copa do Mundo a cada dois anos tem objetivos econômicos e também políticos para a Fifa. Várias partes interessadas já se manifestaram de forma contrária. A Uefa é contrária à realização da Copa do Mundo a cada dois anos. O tom do presidente, Aleksander Ceferin, é de ameaça, dizendo que a Europa não irá compactuar com isso. A Conmebol seguiu a Uefa e também se manifestou contrária à ideia.

Gianni Infantino, presidente da Fifa, tem trabalhado nos bastidores para tentar ganhar aprovação para a ideia. A Uefa, por sua vez, tem ouvido reclamações de federações. Foi nesse contexto que a entidade que dirige o futebol europeu ouviu que mais de 12 associações estão dispostas a se desfiliarem da Fifa se a proposta for aprovada.

É possível ser membro da Uefa e não ser membro da Fifa. Impede a participação em torneios da Fifa, mas não em torneios da Uefa. Gibraltar foi aprovada como nação para participar de torneios da Uefa três anos antes de ser aprovada na Fifa. Os clubes e seleções dos países poderiam continuar disputando torneios europeus organizados pela Uefa.

“Se a maioria na Fifa decidir adotar uma proposta das Copas do Mundo [a cada dois anos], as associações de futebol nórdicas irão precisar considerar outras ações e cenários que estejam mais próximos de nossos valores fundamentais do que a proposta atual da Fifa representa”, disse um comunicado conjunto das associações de futebol da Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia, Islândia e Ilhas Faroe.

A mudança de uma Copa a cada dois anos mexeria fortemente no calendário internacional. Significaria que todos os anos haveria um torneio internacional. Em anos pares, a Copa. Em anos ímpares, torneios continentais, como Eurocopa, Copa América, Copa da Ásia, Copa Ouro, Copa Africana de Nações e Copa das Nações da Oceania.

Um dos nomes que serve como embaixador – e porta-voz – da Fifa para a ideia é Arsène Wenger. Um dos pontos que ele tenta usar para ganhar apoiadores para a proposta é que as janelas de jogos internacionais, que conhecemos como data Fifa no Brasil, seriam uma vez ao ano, entre outubro e novembro, para as competições eliminatórias.

Infantino defende que Copa a cada dois anos é necessária para atrair jovens

Um dos argumentos que Gianni Infantino usou em uma reunião privada com dirigentes da Europa foi que o futebol precisa atrair os jovens. Ter uma Copa do Mundo a cada dois anos, para o presidente da Fifa, faria com que o interesse pelo esporte aumentasse.

“Eu acredito que o inimigo do futebol não é a Copa do Mundo ou a Fifa, mas outras atividades que os jovens estão buscando hoje”, disse Infantino, em uma reunião com representantes das associações europeias, segundo relata a AP. “E precisamos ver o quanto de forma conjunta e juntos podemos fazê-los ficar interessados no futebol. E queremos isso, no que me cabe, fazer juntos como sempre fizemos nos últimos anos”.

A Fifa está em uma disputa com a EA Sports, em que tudo indica que a parceria irá acabar. São 28 anos desde a criação da primeira edição da franquia que se tornou a mais famosa do futebol mundial, FIFA International Soccer, de 1993. Primeiro, foi a EA Sports que indicou que “explorava a possibilidade de mudar o nome da franquia”, até como medida para não precisar pagar mais os direitos de licenciamento do nome. A Fifa confirmou o novo posicionamento e disse que o fim da exclusividade faria bem ao futebol. Parece claro que o divórcio é iminente – a Fifa perderia, assim, uma receita que é relevante.

“Acredito que ainda podemos encontrar modos de desenvolver mais o futebol”, disse Infantino na reunião com europeus. “A Copa do Mundo é enorme. É uma grande, grande competição que todos se beneficiam da Copa do Mundo e precisamos ser muito cuidadosos com o que fazemos com a Copa do Mundo”. Nós concordamos, Infantino, mas aumentar a frequência dela não é benéfico.

Na reunião, dirigentes da Finlândia, Itália, Alemanha, Portugal, Romênia, Escócia, Espanha e Suíça disseram a Infantino que querem continuar jogando a Copa a cada quatro anos. Eles citaram o impacto no bem-estar dos jogadores, além de prejudicar também o futebol feminino e as competições de clubes.

“Nós não iremos adiante, no que depender de mim, com qualquer proposta se alguém se sentir prejudicado”, afirmou ainda Infantino aos líderes europeus. Porém, o presidente da Fifa ressaltou que não é só a opinião da Uefa, e de seus membros, que conta para a Fifa. “Não podemos moldar as novas propostas baseadas em opiniões que recebemos da Europa. Temos que respeitar as opiniões de todo mundo”.

Uma proposta que surgiu veio de Tiago Craveiro, secretário-geral da federação portuguesa de futebol. Ela propôs que a Fifa explore a possibilidade de não permitir que seleções joguem a Copa em edições consecutivas. “Também acolho a ideia de Thiago de dizer, bem, precisamos de mais participação e talvez haja uma maneira de fazer isso tendo duas Copas do Mundo, mas não com os mesmos times participando”, afirmou Infantino.

“Eu não sei. Isso é algo que o pessoal técnico vai estudar, mas certamente é algo que temos que investigar. E o fato de querermos ter mais jogos para mais times, jogos mais significativos para mais times em todo o mundo, isso é algo que tem que fazer parte da nossa reflexão”, disse ainda Infantino.

Segundo o relato da AP, nenhum país se manifestou a favor da proposta de Copa a cada dois anos. Infantino foi secretário-geral da Uefa na época da presidência de Michel Platini, que era o candidato mais forte a substituir Joseph Blatter até a explosão do escândalo Fifagate. O atual presidente da Fifa já disse, em 2018, que não traiu o ex-chefe no processo. Platini, de 66 anos, tem planos de voltar ao futebol e diz que foi injustiçado, porque jamais foi acusado, foi apenas testemunha. Platini fez críticas fortes ao ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, a quem chamou de “a pessoa mais egoísta que já conheci na vida”.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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