Eliminatórias da Copa

O Uruguai não perde a contundência nas Eliminatórias e doutrina também a Bolívia

O Uruguai dominou totalmente o encontro com a Bolívia no Centenário, com dois gols de Darwin Núñez e ótima apresentação de Pellistri

Dá gosto de ver o Uruguai nestas Eliminatórias. A pegada de sempre da Celeste se une com a intensidade pedida por Marcelo Bielsa. É um time ainda assim equilibrado, sem que a mentalidade ofensiva culmine em imprudência. E, depois das grandes vitórias sobre Brasil e Argentina, a torcida charrua pôde aplaudir seus jogadores num confortável triunfo no Estádio Centenário. A Bolívia era o frágil adversário da vez. O Uruguai cumpriu seu favoritismo com os 3 a 0 na contagem, em que teve amplo domínio do início ao fim, com um placar até barato pela diferença entre os times. O resultado foi construído desde o primeiro tempo, com grande papel de Facundo Pellistri para gerar os melhores lances e também de Rodrigo Bentancur para organizar seu time. Darwin Núñez, mais uma vez destrutivo, anotou dois. Já do outro lado, a emoção dos bolivianos ficou para a despedida de Marcelo Moreno, em seu último compromisso pela seleção.

Marcelo Bielsa mantinha o Uruguai no 4-3-3, mas com mudanças pontuais em relação à vitória sobre a Argentina. Sergio Rochet era o goleiro, com a defesa formada por Ronald Araújo, José María Giménez, Sebastián Cáceres e Matías Viña. Rodrigo Bentancur ocupava o meio, ao lado de Federico Valverde e Nicolás de la Cruz. Facundo Pellistri e Cristian Olivera apoiavam Darwin Núñez na frente. Manuel Ugarte e Mathias Olivera eram ausências por acúmulo de cartões, enquanto Maxi Araujo se lesionou. Mais uma vez, Luis Suárez se limitava ao banco de reservas. Já na Bolívia, Antonio Carlos Zago tinha seu grande destaque em Marcelo Moreno, na última dança como lenda de seu país. La Verde mudava quatro jogadores em relação à vitória sobre o Peru, com um meio-campo robusto, ainda liderado por Ramiro Vaca e Leonel Justiniano.

Uruguai sobra já no primeiro tempo

A Bolívia tentou adiantar sua marcação durante os primeiros minutos de partida, o que não fez muito efeito. Não demorou para o Uruguai distribuir as cartas e começar a martelar a meta de La Verde. O primeiro aviso pintou com Rodrigo Bentancur, num tiro de longe. Ronald Araújo assustou demais numa cabeçada que passou ao lado da trave, após escanteio. Na sequência, Darwin Núñez tentou um toque que passou por todo mundo e também assustou ao sair ao lado da trave. Os charruas giravam a bola e ocupavam os flancos com competência. Faltava apenas um capricho um pouquinho maior nas finalizações. Valverde também lamentou uma batida para fora, com espaço na área aos 14, após ótimo cruzamento de Pellistri.

Estava claro como o gol do Uruguai era uma questão de tempo. Saiu aos 15 minutos, numa senhora jogada da Celeste. A qualidade no lance começou com Ronald Araújo, que ganhou a bola na defesa e escapou do adversário na velocidade. Acertou então um passe com curva, que saiu do alcance da defesa e abriu o jogo com Pellistri, tendo uma avenida pela frente na direita. Muito ativo na partida, o ponta também foi um excelente garçom, com um passe cirúrgico na linha de fundo. Darwin Núñez apareceu para resolver e finalizou de primeira, sem chances de defesa a Guillermo Viscarra. A partir de então, os charruas poderiam administrar um pouco mais a posse sem tantas finalizações, mas sem perder a ofensividade.

A Bolívia conseguiu conter a sangria nos minutos seguintes, mas sem qualquer escape no ataque. Marcelo Moreno se via totalmente isolado. O Uruguai buscava alguns cruzamentos, mas sem o mesmo ritmo de finalizações. Foram minutos mais tranquilos para a Celeste, em que bastava trocar passes no campo de ataque para enclausurar La Verde. E o segundo gol veio antes do intervalo, aos 39, numa cortesia dos bolivianos. Após a cobrança de escanteio, o goleiro Viscarra saiu errado para o soco. A bola espirrou no corpo de Gabriel Villamil e rendeu um gol contra bisonho. De la Cruz também merecia elogios por tentar algo diferente. Aos 43, chegou a emendar uma bicicleta para fora. O placar era magro para o tamanho da superioridade charrua.

Darwin marca e Moreno se despede

O segundo tempo recomeçou nas mãos do Uruguai. E no ritmo de Pellistri, que causava um salseiro a cada arrancada. O atacante voltou a causar furor aos quatro minutos. Entregou a De la Cruz na área, mas o caminho estava congestionado e a bola desviou para fora. A Celeste teria dez minutos de claro domínio, mas se acomodou e permitiu que a Bolívia ganhasse o meio-campo. La Verde passou a se aventurar mais na frente e Ramiro Vaca até viu um chute ser travado no meio da área. O momento favorável dos andinos, porém, não durou mais que um par de minutos. Logo a posse voltaria aos uruguaios.

Neste momento, o Uruguai demorava demais para finalizar seus lances. Conseguia aparecer nos arredores da área, mas sem a contundência necessária. Na hora de arrematar, a Bolívia conseguia trancar a área. Bielsa também não indicava pressa nas substituições. Zago mexeu antes, aos 20, com Diego Bejarano e Carmelo Algarañaz em campo. E no momento em que os charruas faziam suas primeiras movimentações no banco, a Celeste guardou o terceiro gol aos 26. Foi uma jogada muito fácil: Valverde cruzou com muita categoria pela direita, para dois entrarem livres no segundo pau. De la Cruz aparou de cabeça e Darwin Núñez guardou mais um, com uma testada solitária na pequena área.

O próprio Darwin saiu muito aplaudido na sequência, para um abraço forte na entrada de Luis Suárez. De la Cruz também deu lugar a Arrascaeta. O Uruguai voltava a se acender, enquanto a Bolívia parecia desanimar. Não fosse Viscarra, num milagre no mano a mano com Olivera, o quarto tento teria saído aos 28. Pellistri também saiu para os aplausos, com 32 minutos, substituído por Facundo Torres. Neste momento, os veteranos queriam jogo, com boas combinações entre Arrascaeta e Suárez.

Uma bonita cena aconteceu aos 40 minutos, quando Marcelo Moreno foi substituído. Era o fim de sua história na seleção, líder em jogos e gols. O centroavante estava visivelmente emocionado em sua última partida por La Verde, às lágrimas. Abraçou diferentes companheiros e também adversários, cumprimentado inclusive por Suárez. Jair Reinoso e Jaime Arrascaita foram novidades na Bolívia, enquanto Bentancur e Olivera deram espaço a Felipe Carballo e Agustín Canobbio no Uruguai. A esta altura, os minutos finais eram mero protocolo. Ramiro Vaca até assustou numa cobrança de falta por cima, na última tentativa dos bolivianos em busca do gol de honra. Já Suárez ficou a centímetros do seu nos acréscimos, numa pancada que chacoalhou o travessão. Os charruas fecharam a noite com 69% de posse e 18 finalizações, contra só quatro dos andinos. Doutrinação.

A situação na tabela

O Uruguai ocupa a vice-liderança das Eliminatórias Sul-Americanas. A Celeste chega aos 13 pontos, dois a menos que a Argentina no topo da tabela. Já a Bolívia fica na vice-lanterna, mas ainda na briga pelo sétimo lugar. La Verde permanece com três pontos, a dois pontos da zona de repescagem. Os próximos jogos acontecem apenas em setembro de 2024. Os uruguaios recebem o Paraguai e visitam a Venezuela. Já os bolivianos recebem a Venezuela e visitam o Chile.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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