A CBF pariu o futebol interino e mostra que continua sem rumos para a Seleção Brasileira
Abandonada pelos dirigentes, sem rumo, direção, Seleção Brasileira é desbotada publicamente em sequência de marcas negativas
A camisa cinco vezes campeã mundial está sendo desbotada em público pelo comando interino de futebol da CBF. Interino não é apenas aquele que ocupa um cargo temporariamente, é aquele que atua com pensamento e atos de interinidade, sem estofo, sem liderança. Presidente da CBF, alguém que gosta de dizer que entende de futebol, Ednaldo Rodrigues efetivou a interinidade no comando do futebol nacional. Não se sabe quem é ou quem será o treinador definitivo da Seleção. Enquanto isso, os técnicos interinos colecionam marcas negativas. A gestão da Seleção Brasileira lembra em muito a do VAR nacional: é caótica.
Antes de qualquer análise mais abrangente sobre o momento do futebol brasileiro e de sua maior representante, a seleção, é preciso um exercício de humildade. Reconhecer que o Brasil não é mais o melhor, deixou de ser a referência. Somente partindo dessa premissa poderá ser feito o diagnóstico preciso. Os craques que pareciam brotar incessantemente são cada vez mais raros. Várias vezes foram eles e não os sistemas e estratégias que venceram os jogos.
Há, sim, muitos equívocos nas escolhas de Fernando Diniz enquanto treinador da Seleção. Ele parece mais preocupado em provar uma tese, justificar uma ideia. A própria escolha de Diniz como treinador da Seleção é algo que carece de embasamento. Principalmente se ele está mesmo fazendo sala para Carlo Ancelotti, que faz um futebol muito diferente.
Em um jogo estranho, marcado por terríveis acontecimentos extracampo protagonizados por selvagens das arquibancadas, novamente o Brasil foi um time sem ideia, pouco criativo, que luta ainda desnorteado e sem tempo para implantar a tese do treinador. Apressado, nervoso, o Brasil não entendeu que os campeões mundiais não queriam jogo. Pilhado em excesso, o time brasileiro caiu feito patinho na catimba proposta por De Paul.
Ainda que em termos de sistema o Brasil tenha utilizado uma distribuição de 4-4-2 na maior parte do tempo, com apenas Rodrygo e Gabriel Jesus mais à frente, nunca soube ocupar estrategicamente o meio-campo. Mesmo com Messi vagando sem intensidade. O Brasil não soube propor o ritmo diferente a partir do meio, não teve cadência. De nada adianta ter duzentos atacantes se ninguém prepara a jogada. Mesmo assim, houve duas chances que poderiam ter mudado a história. Mas chance perdida não altera o placar. O que altera o placar, no caso do Brasil, é bola na área. Cinco gols seguidos em bolas cruzadas para a área. Um ponto ganho em 12 disputados. Por mais que a ideia seja diferente, bacana, há coisas do cotidiano dos treinamentos e jogos que precisam ser trabalhadas. Posicionamento em bola parada é das mais importantes.
As mudanças são quase sempre inócuas e geram mais perguntas que respostas. Entrar com Veiga aberto pela esquerda para cruzar bola para a área para Endrick, que não é alto? Raphinha é jogador para fazer diferença na seleção? Joelinton é? Temos condições de jogar em alto nível de competição sem Neymar, Vini e Casemiro?
A terceira derrota seguida para a Argentina no Maracanã esteve longe de ser um grande jogo. O Brasil não foi amassado pelo rival, tampouco o amassou. Foi um jogo tenso, catimbado e que se decidiu num lance individual, de atenção e posicionamento.
Para o torcedor fica quase impossível decifrar o que é a Seleção Brasileira atual. Essa conta é da CBF e não do treinador. CBF que é incapaz de organizar o jogo na forma correta de gerir o posicionamento de torcedores dentro de um estádio, semanas após intensas e absurdas pancadarias entre brasileiros e argentinos antes da decisão da Libertadores. A competência que falta para organizar locais para torcedores e controlar multidões também se verifica no que se faz com a seleção cinco vezes campeã do mundo.