Eliminatórias da Copa

Derrota histórica do Brasil para a Colômbia passa muito mais pela CBF do que por Diniz

Sim, Diniz cometeu erros de leitura, mas os erros da CBF fora de campo são os principais culpados do atual desempenho do Brasil, que viveu derrota histórica diante da Colômbia

A análise mais fácil e oportunista para a derrota do Brasil diante da Colômbia, a primeira na história das Eliminatórias da Copa do Mundo, aponta o dedo condenador para o técnico Fernando Diniz. Sim, ele cometeu diversos erros de leitura durante o jogo, avaliou mal a estratégia, mas existe uma questão maior. Quem é, de fato, o treinador da seleção brasileira? De fato, qual é a linha de trabalho da CBF para seu principal produto? Tudo que acontece dentro de campo está ligado a isso.

A camisa mais importante do futebol mundial vem sendo submetida a uma humilhação sem precedentes nos bastidores. A novela sobre a contratação – ou não – do italiano Carlo Ancelotti beira o inacreditável. Pior que isso é a contradição explícita nos métodos. Diniz e Ancelotti são água e óleo quando o assunto é pensamento de futebol.

A CBF tem o dever de esclarecer imediatamente a situação. Em respeito, principalmente, a Diniz. Ou ele sabe exatamente para qual serviço foi contratado e aceitou sabendo que vai esquentar o lugar para Ancelotti?

CBF à parte, o que foi destaque em Colômbia x Brasil?

Sobre o jogo, sou daqueles que acham que não existe show de rock sem baterista e time de vôlei sem levantador. Portanto, não acredito em time de futebol que não tenha meio-campo. No rock, você pode até engolir uma ou duas canções no formato acústico, uma percussão leve etc. Mais do que isso é bocejo e gente indo para o bar comprar cerveja. A bateria pulsando o ritmo é que segura o show.

No vôlei, escalar um time com os seis melhores atacantes do mundo não garante nada sem alguém que levante as bolas, faça as fintas e determine se vai de bola rápida ou jogo pesado nas pontas. O Brasil de Diniz, enquanto teve Rodrygo, em campo competiu pela condução do ritmo no meio. Assim que ele saiu, a salsa se impôs sobre o samba. Porque havia bons ritmistas de salsa no meio-campo colombiano, e o brasileiro não tinha quem soubesse tocar um bom samba.

Muita gente define como coragem o ato de montar a seleção num 4-2-4. Superpopulação no ataque – mas sem levantador. A Colômbia teve na maior parte do tempo cinco jogadores no setor em que o ritmo do jogo é determinado. Quando Rodrygo saiu, a leitura do jogo pedia a entrada de Raphael Veiga. Ele poderia jogar bem ou mal, mas era o que o campo gritava.

Quando um repórter pergunta sobre os gols sofridos pelo Brasil após a saída de Rodrygo, ele não está culpando a ausência de Rodrygo pelos gols sofridos em cruzamentos para a área. Ele está apontando para o fato de que a Colômbia teve o domínio territorial que aprisionou a defesa brasileira à sua grande área, ofereceu o território para o avanço do time colombiano e possibilitou que os cruzamentos acontecessem.

Não é só o Brasil que perde: adversários também têm seus méritos

Não é só o Brasil que perde. Os adversários também ganham. Alguém que faça o jogo que fez após ter os pais sequestrados, como Luís Díaz, tem que ser aplaudido. James Rodriguez se arrasta em campo jogando pelo São Paulo. Ontem, desfilou pelo meio sem ser incomodado, porque o time brasileiro, com apenas dois atletas no setor, oferecia uma fazenda para a Colômbia plantar café por ali.

O Brasil enfrentará a Argentina após uma sequência de três jogos muito ruins. O menos ruim talvez tenha sido o da derrota para a Colômbia. Porque no primeiro tempo o Brasil teve Rodrygo e Martinelli jogando bem. Mas em todos os tempos não teve laterais e há um bom tempo entra em pânico com qualquer bola cruzada sobre a área.

A coragem de Diniz está na aposta pela renovação algo radical, não na escalação de um punhado de atacantes quando o time está perdendo. Isso é desespero, e qualquer um de nós faria o mesmo, deste jornalista até o presidente do Banco Central.

Ganhe ou perca da Argentina, mesmo em quinto lugar nas Eliminatórias, o Brasil fatalmente estará na Copa de 2026. Existem adversários muito fracos a serem batidos em partidas no território nacional.

A pergunta mais importante deve ser respondida pelo presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues: afinal, quem é, de fato, o treinador da seleção brasileira de futebol?

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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