Demissão de Carille traz um velho-novo dilema para Pedrinho no Vasco
Escolha para definir treinador no início do ano trouxe presidente a uma realidade dura que deverá ser novamente encarada

A passagem de Fábio Carille pelo comando do Vasco foi encerrada em um cenário próximo do que se esperava quando o treinador desembarcou em São Januário cercado de muita desconfiança pelo seu torcedor.
Após o Cruzmaltino não conseguir acordo com outros técnicos no mercado, o presidente Pedrinho surpreendeu ao escolher Carille, seu primeiro treinador desde que assumiu o clube. Um nome muito diferente do perfil admirado pelo ex-jogador quando se destacava como comentarista do Sportv nos últimos anos.
O legado de Carille de consertar e organizar sistemas defensivos não foi visto em São Januário e a falta de repertório ofensivo e controle de jogo também ajudaram a minar um trabalho que pouco evoluiu. Mesmo nas vitórias, não convenceu o seu torcedor.
O treinador foi demitido neste domingo (27), após a derrota por 1 a 0 para o Cruzeiro, em Uberlândia. Curiosamente, a demissão veio após uma partida em que o Vasco criou as melhores chances e parou em uma boa atuação de Cássio.
Para explicar a saída de Carille, o presidente do Vasco afirmou que a decisão foi até demorada, mas que tomou tempo para que não parecesse uma medida de autoproteção.

Postura ríspida
Nas coletivas de imprensa, a comunicação do experiente treinador por vezes ríspida e confrontadora com seu próprio torcedor também só piorou o clima.
— Vai apoiar só na vitória? Vem e apoia porque a gente está trabalhando muito sério aqui com os atletas. É muito fácil apoiar só quando está ganhando — disse após a vitória sobre o Santos na primeira rodada do Brasileirão.
No início de trabalho, Carille até teve motivos para justificar os problemas em campo. A diretoria cometeu erros na montagem do elenco e entregou peças à comissão técnica em meio ao andamento das competições. A falta de reforços foi contornada por Carille, que optou por não cobrar publicamente o presidente.
O treinador demorou a receber jogadores, em especial, para o ataque e precisou fazer improvisos até a chegada do português Nuno Moreira, do argentino Benjamin Garré e do angolano Loide Augusto apenas no início de março.
Na coletiva em que anunciou a demissão de Carille, o presidente reconheceu que realmente demorou para oferecer peças importantes para o técnico.
- - ↓ Continua após o recado ↓ - -
O dilema de Pedrinho

As versões do Pedrinho comentarista esportivo e do Pedrinho presidente do Vasco expõem diferenças significativas que trazem à tona as dificuldades de presidir um clube com problemas dentro e fora de campo.
As análises assertivas e inteligentes nos programas televisivos ganharam fãs e fizeram o ex-meia ser considerado o melhor comentarista esportivo. A saída dos estúdios colocou à prova a sua visão de futebol.
A escolha para definir um treinador no início do ano trouxe o ex-jogador a uma realidade dura em que não conseguiu os nomes que preferia por salários altos ou recusas, fazendo com que optasse por um perfil distante do que admira.
Com o cargo vago de técnico, Pedrinho terá de lidar com um velho e novo dilema pela frente. Fernando Diniz, o técnico que mais divide opiniões no futebol brasileiro, está livre no mercado e é adorado pelo presidente cruzmaltino.

Caso Diniz acerte sua segunda passagem no Vasco, Pedrinho promoverá um choque de ideias e terá de lidar com uma mudança brusca na proposta de jogo com um elenco distante do que o estilo do treinador demanda.
Se Diniz não for o nome escolhido, o presidente precisará novamente voltar ao mercado e escolher o novo nome, precisando novamente adaptar seus gostos e preferências em meio à realidade.
Ainda durante a coletiva em que demitiu Carille, Pedrinho ressaltou a sua visão de futebol, mas que não necessariamente é algo que ele possa encontrar no mercado.
— Quando você chega a uma decisão dessa, você pensa em duas coisas: o que acredita de futebol e o que é ofertado no mercado. Estabelecer controle de jogo e ficar mais perto de fazer gol do que tomar, além da pressão na saída de bola, é algo que eu gostaria. Mas daí a conseguir isso no mercado é uma coisa muito diferente — afirmou.
O próximo técnico terá um elenco capaz de fazer um Brasileirão seguro e que pode competir na Copa do Brasil e Sul-Americana, mas precisará organizar a casa, em especial, a melhora do sistema defensivo, a evolução de jogadores que estão em baixa, como o meia Paulinho, e a oferta de uma proposta de jogo que não dependa tanto de cruzamentos para o artilheiro Pablo Vegetti.