Região Norte quebra tabu de 19 anos na Série B e sonha com maior representação no futebol brasileiro
A Trivela conversou com os presidentes de Amazonas, Paysandu e Remo e mostra como os três clubes do Norte chegam para a brigar pelo acesso para a Série A

A Série B do Campeonato Brasileiro começa nesta sexta-feira (4) com dois confrontos envolvendo clubes do Norte do Brasil: o Amazonas visita o Goiás e o Paysandu recebe o Athletico-PR. E estes não são os únicos times da região na competição.
Pela primeira vez em 19 anos, três clubes nortistas estão na segunda divisão do futebol nacional: Amazonas, Paysandu e Remo.
Em meio às dificuldades, muitas vezes impostas por questões geográficas, sociais e do desenvolvimento do futebol brasileiro, o trio divide o desejo de uma maior visibilidade para o futebol do Norte e o sonho de representarem a região amazônica na elite do futebol brasileiro.
A Trivela esteve em Belém e conversou com os presidentes de Paysandu e Remo, além de também ter falado com o mandatário do Amazonas sobre o atual momento do futebol da região, o planejamento para a disputa da Série B e os desafios para o desenvolvimento do futebol local.
Há 19 anos…
Amazonas, Paysandu e Remo vão repetir o que não acontecia na Série B há 19 anos. Em 2006, a região Norte também teve três representantes. Além de Paysandu e Remo, o São Raimundo-AM também disputou aquela competição. Dessa vez, Paysandu e Amazonas já estavam na Série B, enquanto o Remo conseguiu o acesso para a segunda divisão na última Série C, representando o Norte.
Na conversa com os três dirigentes nortistas, o sentimento de orgulho era comum, superando qualquer rivalidade, principalmente entre Paysandu e Remo. Mas o principal ponto que convergia era o desejo de mais visibilidade para o futebol da região.
— Fico muito feliz com a ascensão do futebol nortista junto ao cenário nacional. A gente sempre é mal visto pelo pessoal lá de baixo. Até entendo em parte, tem o problema de logística, não tem voo direto, a distância é muito grande. Mas superamos todas essas adversidades e conseguimos no Pará ter dois clubes na Série B. E no Amazonas, onde vem crescendo muito o futebol, tem mais um. Acho que com isso a gente passa a ser olhado com outros olhos pelos concorrentes — afirmou o presidente do Remo, Antônio Carlos Teixeira, à Trivela.
— Importante o futebol do Norte voltar a ser protagonista de campeonatos brasileiros. Não é fácil, tem outros clubes brigando pelo mesmo interesse também, mas a gente entende que chegou a hora da gente poder voltar a ser protagonista — disse Roger Aguilera, presidente do Paysandu.

Para o Amazonas, apesar de já estar no seu segundo ano de Série B, o momento é ainda mais especial. Por décadas na sombra do futebol paraense, o clube tem nos rivais regionais um espelho para tentar brilhar nacionalmente.
— O Pará sempre teve clubes na Série B, já teve Série A. Queremos chegar no mesmo nível. Hoje é importante ter não só equipes do Pará, mas também do Amazonas, para tentar trazer não só holofotes, mas também investimentos para podermos manter o clube na Série B ou, quem sabe, o acesso — completou Wesley Couto, presidente do Amazonas, à Trivela.
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Quantos quilômetros os times do Norte viajam na Série B?
Uma das principais dificuldades encontradas pelos clubes da Norte na disputa da Série B é a logística. Além da distância para outras regiões do país, Belém e Manaus têm poucas opções de voos diretos para outras capitais do Brasil.
Até mesmo a distância entre Manaus e Belém não é de se desconsiderar. Apesar de estarem na mesma região, as maiores capitais da região amazônica estão a mais de 1.200 quilômetros de distância uma da outra.
Veja quanto os clubes do Norte vão viajar nesta Série B*
- Amazonas: 89.192 km
- Paysandu e Remo: 79.858 km
Para comparação, o Athletico-PR, por exemplo, adversário do Paysandu nesta sexta-feira (4), às 21h (horário de Brasília), no Mangueirão, só vai percorrer 38.598 km para disputar a Série B deste ano.
— A logística já tá inserida no nosso planejamento. Ano passado nós percorremos 92 mil quilômetros para fazer a Série B. É importante fazer a logística corretamente porque isso influência dentro de campo, no resultado — disse Wesley Couto.
— Podemos ter uma viagem de 7 horas, mas com translado, conexão, etc, uma viagem dessa pode durar 15 horas. Além da distância percorrida, temos também o desgaste da viagem, da espera na conexão, deslocamento de ônibus — acrescentou o dirigente do Amazonas.
A maior distância que Amazonas, Paysandu e Remo irão percorrer será para enfrentar o Criciúma. O clube amazonense vai viajar 3.059 km até a cidade catarinense, enquanto os times de Belém viajam 3.029 km. Estas distâncias são próximas as que um clube de Lisboa, em Portugal, percorreria para enfrentar um time da Turquia em Istambul.
— Enquanto um clube vem e joga uma vez aqui, nós vamos sair 18 vezes. O mais perto daqui é Manaus. Nos outros não têm voo de direto, sempre com conexão, dificulta muito. Estamos procurando montar uma estrutura que a gente possa dar condições de fazer uma viagem boa, com logística boa, para que a gente possa disputar de igual para igual — reforçou Tonhão, do Remo.
Como Amazonas, Paysandu e Remo chegam para a Série B
Com menos de seis anos de fundação, o Amazonas teve uma ascensão meteórica no futebol brasileiro e já está no seu segundo ano seguido na Série B do Campeonato Brasileiro. Além disso, conquistou, na última terça-feira (1º), o seu segundo título Amazonense, ao bater o tradicional Nacional na final. O treinador do Amazonas é Eduardo Barros, ex-auxiliar de Fernando Diniz.
Como parte de uma estratégia para atrair visibilidade para o clube, o Amazonas aposta na contratação de “medalhões” nos últimos anos. Jogadores como Dentinho, Ibson e Jô passaram pelo clube. Atualmente, o time amazonense em no seu elenco os experientes William Barbio, Henrique Almeida e Sassá, que foi o herói do título da Série C em 2023. Em breve, a diretoria quer mudar o perfil de contratações para o futuro do Amazonas.
E os planos do Amazonas são ousados desde a sua fundação, em 2019. O planejamento inicial do clube era já estar na Série A. A rota precisou ser recalculada, mas o objetivo segue o mesmo: colocar o Amazonas na elite do futebol brasileiro.
— Está dentro do planejamento ainda. Recalculamos por mais um ou dois anos. Isso foi muito por conta da pandemia, retardou nosso planejamento. Mas nada que não se possa corrigir. Sabemos que o Estado e a população têm potencial para ter um clube na Série A. Pode se tornar sustentável por conta da demanda reprimida — ressaltou Wesley Couto.

Paysandu e Remo apostam em estruturação fora de campo
Se o Amazonas já foi campeão estadual em 2025, Paysandu e Remo só decidirão o Paraense em maio. Como o estadual ficou quase duas semanas paralisado em meio a um imbróglio judicial, os dois Re-Pas da final irão acontecer com a Série B já em andamento.
Enquanto isso, tanto Remo como Paysandu apostam na estruturação dos clubes fora de campo para o futuro dos clubes. Recentemente, o Remo, que já vem realizando a troca do gramado do Estádio Baenão, também apresentou o projeto do novo CT do clube. Mas o foco da diretoria azulina em 2025 será o lado financeiro. Tudo isso, é claro, pensando no futuro e sonhando com o acesso para a Série A para melhorar as condições financeiras do clube.
— O clube ainda vive uma situação em que a gente não pode ter um luxo, algo maior. Mas, para o que era, já estamos bem na frente. Conseguimos sanear dívidas trabalhistas. Nas cíveis, vamos aplicar o mesmo método que aplicamos na Justiça do Trabalho, vamos centralizar as dívidas e programar os pagamentos. Vamos fazer o mesmo nas dívidas tributárias, que nos preocupam um pouco mais, porque nos impedem de ter algumas certidões para buscar novos investimentos. É o foco que a gente vai ter em 2025, equacionar esses débitos tributários para buscar outros movimentos — revelou Tonhão.
— Um acesso seria a cereja do bolo. Toda essa falta de estrutura que a gente tem seria suprida com um acesso para a Série A — projetou o presidente do Remo.

Do outro lado de Belém, o Paysandu também aposta na organização fora de campo para alçar voos mais altos no futebol brasileiro. Para Roger Aguilera, o acesso para a Série A também poderia encurtar este processo pelo qual o clube tem passado. O Paysandu, em 2005, foi o último clube da região a disputar a primeira divisão do futebol nacional.
— Precisamos continuar organizando os processos do clube. Estamos avançando todo ano nisso. Sistemas, processos, investimentos na área da saúde e fisiologia, isso não para no futebol. Aumentamos o orçamento no futebol. E entendo que, subindo para a Série A, vamos triplicar o orçamento, o que organicamente levaria muito mais tempo — afirmou o presidente do Paysandu.
— O Paysandu é 100% viável, a dívida do clube em cima do faturamento é muito baixa. Com um ano na série A, a gente consegue organizar todo o clube e zerar as finanças — projetou o presidente do Papão.
