Brasil

Além do óbvio, quem não pode ser ignorado na primeira convocação de Dorival Júnior

Lino, Savinho, Douglas Luiz e mais: brasileiros com poucas oportunidades na Seleção brilham na Europa - momento de Dorival dar uma chance a eles

Após ser anunciado em janeiro como substituto do técnico interino Fernando Diniz, Dorival Júnior fará, nesta sexta-feira (1), às 13h30 (horário de Brasília), a primeira convocação como comandante da Seleção Brasileira. Ao invés de 23, a lista terá 26 jogadores para atuarem em amistosos contra Inglaterra, dia 23 de março, em Wembley, e Espanha, três dias depois, no Estádio Santiago Bernabéu.

Por ser a lista inaugural do treinador de 61 anos, há muita expectativa e curiosidade sobre os nomes que estarão presentes. Fugindo dos convocados mais óbvios e sempre presentes, a Trivela reuniu alguns jogadores, com pouca ou nenhuma chance no selecionado brasileiro até o momento, que não podem ser esquecidos por Dorival Júnior.

Savinho

Hoje, ao abrir a tabela de La Liga, você verá o Girona na segunda colocação, à frente de Barcelona e Atlético de Madrid, dupla de poder aquisitivo muito maior. Parte do Grupo City, o time catalão tem um trabalho bem consolidado pelo técnico Míchel, que tem potencializado muitos jogadores. Um deles é o ponta Sávio, cria da base do Atlético-MG, que é o responsável por dar amplitude pelo lado esquerdo do campo para extrair o que tem de melhor do jogador: a velocidade e o drible.

Aos 19 anos, o jovem, que será do Manchester City na próxima temporada, soma nove gols e sete assistências em 30 jogos na temporada. Mas muito além da participação em gols, ele tem um papel essencial no desafogo do Girona quando enfrenta defesas bem fechadas. Nas 26 rodadas do Campeonato Espanhol, o brasileiro soma média de 2,6 dribles por jogo, empatado com Nico Williams e menos apenas que o compatriota Vinicius Júnior (3.2).

Apesar de atuar preferencialmente pela esquerda nesta temporada, teve momentos pela direita e, na Seleção Brasileira, poderia entrar para ser reserva de Vini Jr ou Rodrygo.

Vale citar que o jovem nunca atuou com o time principal do Brasil, mas já passou pelas categorias sub-16, 17, 18 e 20.

Murillo

A zaga é, definitivamente, uma local onde o Brasil ostenta uma grande geração de defensores. Alguns deles são Robert Renan, Lucas Beraldo, Natan e, o mais testado na Europa, Murillo, ex-Corinthians. O jovem defensor de 21 anos, mesmo no Nottingham Forest, um time frágil da Inglaterra, impressionou no seu início, principalmente pela qualidade na condução da bola e lançamentos – está entre os 20 jogadores que mais acertam bolas longas na Premier League. Teve até momentos que saiu driblando e enfileirando adversários.

Mas tudo isso acaba ofuscado pelo time reativo que atua e, muitas vezes, nem consegue ter muita participação com a bola porque o Forest soma, em média, apenas 40.5% de posse de bola.

Por seu time ser normalmente bombardeado por ataques adversários, Murillo liderou, pelo menos até o fim de janeiro, o número de cortes (100) e ações defensivas (157) entre as cinco grandes ligas da Europa desde sua estreia, em outubro do ano passado. Os dados são do SofaScore.

Murillo faz bom início no Nottingham Forest – apesar de fragilidade do time (Foto: Icon Sport)

Douglas Luiz

Nenhum meio-campista da melhor liga do mundo, a Premier League, marcou mais gols nesta temporada do que Douglas Luiz. São nove tentos pelo campeonato (10 na temporada), além de quatro assistências (sete no total). Isso que o brasileiro, várias vezes, exerceu a função de “camisa cinco”, o volante mais recuado. Mesmo assim, recebe liberdade do técnico Unai Emery e vai ao ataque aparecer como elenco surpresa dentro da área.

Ele soma um alto número de jogos na temporada (37) e tem média em campo de 79 minutos – ou seja, joga bastante e se lesiona pouco, mesmo em uma função que o correr de área a área.

Douglas não é necessariamente um nome muito fora da caixa, mas, mesmo jogando em alto nível na Inglaterra há muito tempo, soma pouquíssimos minutos pela Seleção. São apenas 10 jogos com a Amarelinha, sendo só três como titular. Com Diniz, atuou 20 minutos, divididos em duas partidas.

Aos 25 anos, o volante seria uma ótima opção para primeiro ou segundo homem de meio-campo, que ainda tem a “sombra” de Casemiro, em momento de baixa na carreira.

Assim como Savinho, Douglas Luiz fez parte do conglomerado do City, mas não obteve visto para trabalhar na Inglaterra pelo Manchester quando chegou do Vasco, em 2017, e teve que ser emprestado ao Girona.

João Gomes

Nem tanto pela temporada em geral, mais pelo que apresenta desde o fim de dezembro do ano passado, João Gomes pede passagem para chegar à Seleção Brasileira. O jovem se tornou um pilar do meio do Wolverhampton – como era no Flamengo em 2022. Atuando na frente de um trio de zaga, o meio-campista percorre o campo todo, combate e é um ladrão de bolas nato. Na temporada 2023/24, nenhum brasileiro sub-23 teve mais desarmes que ele (84 em 26 jogos, média de 3.2), segundo o SofaScore.

Antes um tanto tímido no apoio ao ataque, passou a pisar mais no campo adversário e soma dois gols e uma assistência nas últimas quatro rodadas do Campeonato Inglês.

Gomes foi convocado pela primeira (e única) vez por Ramon Menezes, em março do ano passado, para o amistoso contra Marrocos, mas viu a derrota por 2 a 1 do banco de reservas.

João Gomes marcou dois gols contra o Tottenham (Foto: Icon Sport)

Samuel Lino

Ao ter a oportunidade de, finalmente, vestir a camisa do Atlético de Madrid, Samuel Lino saiu do “anonimato” do público brasileiro para os holofotes por conta de seu ótimo 23/24. Apesar de ter passado pela base do Flamengo, o ala/ponta de 24 anos nunca brilhou no Brasil e teve que sair do Gil Vicente para Espanha para ganhar as atenções. A chance de vestir a camisa vermelha e branca veio apenas no ano passado porque, quando chegou aos Colchoneros em 2022, foi emprestado ao Valencia.

Ao retornar ao Metropolitano, ganhou a vaga na ala esquerda do esquema 3-5-2 de Diego Simeone e não saiu mais – muito mais do que isso, se tornou peça fundamental e de característica rara no elenco.

Não são muitos jogadores do Atleti que tem a capacidade de mano a mano e velocidade que tem Lino. O brasileiro, sempre bem aberto pela esquerda, marcou seis gols e distribuiu cinco assistências, bons números para um atleta que ainda tem a obrigação defensiva de recompor em uma linha de cinco defensores.

Lino nunca foi convocado para o Brasil, nem na base. Dorival deve olhar para o jovem como um atacante, não um lateral – até porque raramente jogou em linha de quatro. No entanto, é outro nome para o lado esquerdo, como Savinho, Gabriel Martinelli (este, em temporada irregular) e Vini Jr, o que pode atrapalhar sua presença na lista.

Lucas Paquetá

Junto de Douglas Luiz, o meia Lucas Paquetá é o melhor brasileiro da atual edição do Campeonato Inglês. Decisivo, ele faz andar um West Ham irregular sob comando de David Moyes. Cria do Flamengo, o jogador que já passou por Milan e Lyon é a referência técnica dos Hammers, quem os jogadores procuram nos momentos de dificuldade – e Paquetá se sai muito bem nesse cenário. Seja para achar um passe ou infiltrar na área com a defesa adversária fechada, ou colocar velocidade para puxar um contra-ataque, o meia cumpre muito bem sua função. São 28 partidas na temporada, com cinco gols e seis assistências.

Uma lesão recente tirou o brasileiro por mais de um mês dos gramados, mas já retornou ao combate na última segunda-feira (26). No período, o West Ham não venceu nenhuma das sete partidas sem Lucas. Quando ele voltou, vitória por 4 a 1 frente ao Brentford.

Em um cenário normal, ele seria uma opção certa para ser convocado, mas a investigação da Federação Inglesa que apura se Paquetá participou de um esquema de apostas esportivas o afastou da seleção. Dorival Júnior afirmou, à TNT, que nem o clube julgou o meia como a CBF fez e deve convocá-lo.

— Nem o próprio clube dele o puniu como nós fizemos. Emitimos um veredicto sobre algo que nem sequer aconteceu. A cada momento, ele demonstra a idoneidade e legalidade das situações. Tudo o que tem sido questionado, ele apresenta as provas necessárias para mostrar que não ocorreu da forma como foi colocada. Não temos motivos para penalizá-lo dessa maneira, e o clube também não o fez, não temos esse direito — afirmou Dorival.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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