Brasil

São Paulo responde ao tabu com a leveza de um time que sabe o quer

A diferença entre os times atuais é notada de longe, até por alguém que tenha passado janeiro pescando, torrando no sol e estirado na areia da praia

A grande atração dos times da elite na primeira fase do Campeonato Paulista é que logo aqui, nas primeiras semanas do ano, nem passou ainda o Carnaval, já vai haver um e outro clássico que no fim das contas é o que motiva o torcedor a se cegar para o momento da temporada, a posição na tabela ou a importância dos pontos em disputa. Um Majestoso é um Majestoso, um tabu é um tabu, não importa que pela competição menos importante do ano, em tempos de ajustes para a longa maratona.

Parecia tanto que o São Paulo venceria pela primeira vez no bairro de Itaquera que alguém poderia dizer que é nesses dias que o Corinthians, tal qual os gigantes longe da melhor fase, tiraria um placar gritado pela arquibancada, escapando do distintivo no peito. Por um instante até pareceu, mas não deu. O jogo se desenhou decidido ainda antes do intervalo, e o lado tricolor venceu por 2 a 1 para pela primeira sair assim, ganhador, do estádio rival, dez anos e 18 jogos depois. Houve um susto no fim, no gol de estrela de Arthur para descontar, para lembrarmos do tamanho dos grandes jogos. Mas só.

A diferença entre os times atuais é notada de longe, até por alguém que tenha passado janeiro pescando, torrando no sol e estirado na areia da praia, longe das notícias e da bola. O São Paulo tem o desenho campeão da Copa do Brasil, com Pablo Maia e Alisson sustentando bem, Lucas e Rato abertos achando jogadas por dentro – que lançamento deste último para abrir o placar –, Luciano conduzindo os jogos grandes na bola e na milonga de sempre, e um fazedor de gols que é o extremo oposto na comparação com o adversário. Calleri precisou de uma jogada para tirar Félix Torres para qualquer coisa e guardar, enquanto Yuri Alberto, que se esforçou, é verdade, não encontra a confiança há meses.

E se a tendência já era dar São Paulo, o árbitro de vídeo fez questão de encontrar aquelas expulsões de VAR brasileiríssimo, o caçador de contatos. O zagueiro Caetano cortou e aproveitou para dar uma chegada em Luciano, mas nada que justificasse uma confirmação de agressão para influenciar a partida neste nível. Tem quem goste. A torcida corintiana comemorou, pensando ser um vermelho do lado de lá. O comentário geral vai ser que o defensor “não precisava disso”. A autoridade do jogo pelo videoteipe, com a aceitação praticamente geral de quem vive o futebol.

O técnico Thiago Carpini falou na véspera que a seca de vitórias na Zona Leste não era problema deste elenco, mas é nítido que os são-paulinos sabiam que, com um jogo minimamente razoável, poderiam vencer. Deu tempo de poupar três titulares para o segundo tempo, Alisson, Rafinha e Lucas Moura, e ainda dar mais tempo a Luiz Gustavo, que marcou mais um e cuja presença de área já garantiu dois gols nos dois últimos jogos. Pode ser útil de zagueiro, de primeiro e até de segundo volante, e parece bem inteiro, de cabeça e perna fresca, para fazer um grande ano no retorno ao Brasil. Olho nele.

Sobre o Corinthians, o jogo já foi claro o bastante. Quando o visitante foi de Ferreirinha e Nikão, o local estreou Kayke, autor do gol do título da Copinha na semana passada, e depois tentou com os também garotos Arthur e Ryan. O elenco de Mano Menezes já não é uma maravilha, o clube ainda vive semanas constrangedoras nos bastidores e a opção na virada do ano foi de abrir mão de quem podia ser uma referência técnica, como Renato Augusto ou Giuliano. Restou só a molecada no banco. Dois gols e três derrotas em quatro jogos é o retrato de uma equipe que é hoje, no máximo, meio de tabela, se muito, no Paulistão. Para encontrar uma boa notícia, teve um valente Raniele, o que o técnico ironizou outro dia, correndo e jogando bastante.

O São Paulo, que nada tem a ver com isso, vai animado e sem se desgastar muito para a Supercopa do domingo, em Belo Horizonte, contra o Palmeiras. Vale uma taça de início de caminho, um prêmio pelos títulos passados, uma partida que em tese não deveria causar grandes traumas a quem perde… Mas não está na nossa cultura dar tempo para contextos. Bater o campeão brasileiro, dois clássicos numa semana, pode sacramentar a lua de mel da torcida que vem feliz da vida desde a Copa do Brasil, em setembro. Jogo bom para o Mineirão, de valor supervalorizado, sim, mas grandioso como qualquer mínima copa em disputa no Brasil, o país do futebol forjado em sala de troféu. Chega bem, e leve, o lado tricolor, um time que sabe o que quer e finalmente comemorou no gramado alvinegro.

Foto de Paulo Junior

Paulo JuniorColaborador

Paulo Junior é jornalista e documentarista, nascido em São Bernardo do Campo (SP) em 1988. Tem trabalhos publicados em diversas redações brasileiras – ESPN, BBC, Central3, CNN, Goal, UOL –, e colabora com a Trivela, em texto ou no podcast, desde 2015. Nas redes sociais: @paulo__junior__.
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