Interesse da CBF em Dorival pega São Paulo de surpresa e causa (muita) preocupação sobre futuro em 2024
Possível saída de Dorival para comandar a Seleção seria um golpe difícil de assimilar no planejamento do São Paulo
O São Paulo encerrou o 2023 em que conquistou o título inédito da Copa do Brasil sob um misto de tranquilidade e esperança para 2024. Após chegar mudar os rumos da temporada, Dorival Júnior conduzia desde o inicio o planejamento para este ano… Mas tudo isso ruiu em apenas quatro dias. O interesse do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, de ter o treinador no comando definitivo da Seleção pegou o clube de surpresa e causou uma onda de preocupação sobre o futuro do Tricolor em 2024.
Ednaldo Rodrigues voltou ao comando da CBF na última quinta-feira (4), após uma liminar concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes suspender uma decisão anterior do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), que havia deposto o mandatário do cargo. Em um de seus primeiros atos, o mandatário fez contato com o presidente do São Paulo, Julio Casares, e com Dorival Júnior para manifestar o seu desejo de contar com o treinador na seleção brasileira.
Até o momento, não há proposta formalizada pelo técnico. O contato de Ednaldo Rodrigues pegou o São Paulo desprevenido, mas Casares reiterou a sua posição de contar com Dorival para comandar a equipe ao longo de toda a temporada.
O treinador, por sua vez, mantém a postura que sempre adotou em outros momentos em que viu seu nome ser atrelado à Seleção. Dorival se sente lisonjeado com o interesse, mas seguirá a rotina de trabalhos no CT da Barra Funda para planejar a temporada de 2024. Ao menos, até que chegue, de fato, uma proposta oficial para comandar a Seleção.
Interesse da CBF preocupa o São Paulo
Apesar de uma rotina de aparente normalidade, a procura da CBF por Dorival preocupa (e muito) o São Paulo. Isso, porque o treinador é considerado essencial para o planejamento do clube em 2024. Muitas das expectativas do Tricolor para a temporada em que volta a disputar a Libertadores estão depositadas na permanência do técnico, que tem contrato com o clube até o final do ano.
Não é exagero dizer que o planejamento do São Paulo para esta temporada é todo desenhado ao redor de Dorival. O treinador participa de todas as tomadas de decisões. Desde as contratações dos três reforços para 2024 – Erick, Luiz Gustavo e Bobadilla – até as muitas saídas do elenco. O Tricolor já liberou 11 atletas e prepara ainda mais despedidas, todas com aval do treinador.
Além disso, muito da tranquilidade do clube para buscar apenas reforços pontuais em 2024 está depositado na permanência do treinador por tudo o que ele fez em 2023. O clube entende que inicia a temporada com um time titular pronto – salvo as saídas de Beraldo e Caio Paulista – e com um padrão de jogo bem definido para dar sequência ao sucesso do ano passado.
Além disso, a relação do técnico com jogadores, diretoria e demais funcionários do CT da Barra Funda também pesa muito. Dorival chegou para mudar o ambiente de trabalhos do clube. O técnico se apega muito e cuida bastante do lado humano. Esta mudança foi essencial para remobilizar um elenco desacreditado e transformá-lo em um elenco campeão em 2024.
Por tudo isso, o São Paulo não medirá esforços para garantir a permanência de Dorival ao menos até o fim do contrato. Ao mesmo tempo, o clube sabe que será muito difícil segurar o treinador caso a proposta da CBF, de fato, chegue para ele assumir a Seleção. Dorival já admitiu em muitas entrevistas que o seu sonho é treinar a seleção brasileira.
– O que for para acontecer, que aconteça. Nunca forcei situação, nunca fiz assim um esboço do que seria a um ano, dois anos. Nunca me preparei para uma situação, uns falam que planejamento é fundamental, eu nunca fiz isso, sempre tive a confiança que Deus me colocaria nos momentos corretos. Sempre foi assim, não vai ser diferente. Caso venha que acontecer alguma coisa na frente, será por merecimento. Torço para que o presidente possa escolher o melhor nome possível, e gostaria que continuasse um profissional brasileiro, que vejo capacitados para servir a seleção. Que tenham tranquilidade para escolher meu nome. Fico feliz de estar sendo lembrado em uma situação dessa – disse o treinador em abril, quando seu nome foi lembrado para o cargo.
Crise política pode pesar na decisão
Um ponto que pode servir de trunfo ao São Paulo pela permanência de Dorival é a severa crise institucional que abala CBF desde que Ednaldo Rodrigues foi deposto, em dezembro. O presidente está de volta ao cargo após uma decisão liminar do STF. Não há garantia de que ele irá permanecer até o fim de seu mandato, ou que este cenário que tanto mudou nos últimos tempos não volte a passar por mudanças.
Além disso, a CBF vê muitas articulações políticas serem feitas desde o imbróglio na Justiça. A decisão revogada pelo STF previa a realização de eleições ainda no mês de janeiro. A decisão de Gilmar Mendes interrompe qualquer tratativa neste sentido.
Mas o fato é que dois pré-candidatos já se lançaram para concorrer à presidência, mesmo diante de toda a incerteza sobre o nebuloso futuro da entidade. São eles: Reinaldo Bastos Carneiro, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), e de Flávio Zveiter, advogado ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Ambos correm para angariar apoios de federações e clubes para o pleito.
Bastos Carneiro, aliás, é opositor de Ednaldo Rodrigues e conta inclusive com o apoio de Julio Casares no pleito. No lançamento da pré-candidatura, ele contou com o apoio de oito federações e 30 clubes das Séries A e B, inclusive o São Paulo.