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Com Coudet e Felipão, Atlético-MG viveu duas realidades distintas em 2023, nenhuma em seu máximo

Coudet e Felipão tem ideias completamente distintas de futebol, o que fez o Atlético não atingir o seu máximo potencial com nenhum deles no comando

O Atlético-MG iniciou a temporada 2023 com a certeza de que tinha em Eduardo Coudet um treinador e um modelo de jogo para seguir não só neste ano como também nos próximos. Mas as coisas não saíram como o planejado e o clube, ao trocar o comando, optou por Felipão, que tem um pensamento completamente diferente. No fim das contas, o Galo não conseguiu ver o melhor de nenhum dos dois que estiveram à frente do clube.

A passagem de Coudet no Atlético-MG

Coudet chegou ao Atlético ainda no fim de 2022 e recebeu a chance de montar um elenco nos moldes que ele queria. O Galo se entregou ao treinador nesse sentido, pois acreditava que ele seria o comandante por um longo tempo. Com um esquema tático que não utiliza pontas, o Alvinegro se desfez de jogadores como Keno e Ademir, por exemplo, e contratou jogadores de confiança do argentino, como Edenilson e Patrick.

Como tem um estilo de jogo não muito comum para o que estamos acostumados hoje e ainda exige muito fisicamente dos seus jogadores, o time do Atlético começou o ano ainda entrando no padrão de seu treinador. Mas as coisas deram certo, como o título do Mineiro e os avanços na fase preliminar da Libertadores. No entanto, os eixos começaram a se desalinhar na estreia do time na fase de grupos da competição continental, que terminou com derrota em pleno Mineirão e críticas ao treinador, que foi acertado até por copos de cerveja. Na coletiva pós-jogo, Coudet fez um longo desabafo e mostrou seu enorme descontentamento com a diretoria que, segundo ele, prometeu muito mais investimento e não entregou isso.

O desabafo público causou desgaste na relação dos diretores com o treinador, mas ele foi mantido no cargo e conquistou o Campeonato Mineiro no jogo seguinte. Depois, viveu uma fase ruim, com quatro jogos sem vitórias. No entanto, começou a engatar uma grande sequência e retomou a confiança de todos.

Isso até a polêmica eliminação para o Corinthians na Copa do Brasil, em que Coudet escalou time misto, deixando Hulk no banco, por exemplo, o que gerou desgaste principalmente com a torcida atleticana. Chateado com as promessas não cumpridas pela diretoria e as críticas da torcida pela eliminação, Chacho treinou o Galo em mais três partidas e, após empate com o Red Bull Bragantino, surpreendeu anunciando sua saída no vestiário do Mineirão, pegando até o diretor Rodrigo Caetano desprevenido. O argentino deixou o clube justamente no momento que o time dele mais parecia engrenar e chegar no seu melhor nível.

Pontos positivos da passagem de Coudet no Atlético-MG

  • Paulinho como atacante: foi Coudet que optou por utilizar Paulinho como um segundo atacante, ao lado de Hulk, ao invés de usá-lo como ponta, como o esperado. Essa alteração potencializou o jogador, que terminou o ano como artilheiro do time do Brasileirão;
  • Dupla Hulk e Paulinho: com a sua tática de jogar com dois atacantes e opção de colocar Paulinho mais centralizado, Coudet criou a melhor dupla do futebol brasileiro em 2023 com Hulk e Paulinho, que somaram 61 gols no ano;
  • Indicações que deram certo: Coudet chegou a citar que não recebeu jogadores que pediu, principalmente um zagueiro e um lateral-direito. Em compensação, indicou dois atletas para essa posição que o Galo teve condição de buscar e que foram importantes no ano: Mauricio Lemos e Saravia. Além disso, foi dele também a indicação de Battaglia, que virou capitão do time.

Pontos negativos da passagem de Coudet no Atlético-MG

  • Desabafos públicos: Coudet podia ter total razão sobre as reclamações com a diretoria – como ficou praticamente provado em falas de Rodrigo Caetano e Paulinho -, mas ele não expôs isso da melhor forma. Ter desabafo publicamente foi ruim para ele e para o clube, não ajudou ninguém nessa história;
  • Indicações que deram errado: se Coudet tem acertos em indicações, ele também tem erros, assim como qualquer um no meio do futebol. Os jogadores de confiança dele, Edenilson e Patrick, não renderam bem no Galo. Ed até se soltou no fim da temporada e pode ser importante, mas Patrick não se mostrou adaptado em momento algum.

A passagem de Felipão no Atlético-MG

Sem Coudet, o Atlético preferiu apostar na experiência de Felipão, que estava aposentado, mas aceitou o convite do Alvinegro. Como citado, a diferença de estilo de jogo para Coudet é gritante. Em uma metáfora, é como se uma pessoa estivesse acostumada a comer só pão todos os dias da vida e, do nada, tivesse que se acostumar a sobreviver comendo só frutas. É possível? Claro. Mas o processo de readaptação é longo. Galo e Scolari sentiram isso, com o treinador ficando seus nove primeiros jogos sem vencer.

Depois que conseguiu vencer a primeira, Felipão foi aos poucos ajeitando o time e conseguindo uma boa campanha de recuperação, apesar da eliminação precoce na Libertadores. O Atlético de Scolari passou boa parte do tempo sem apresentar um grande futebol, mas foi conseguindo pontos assim mesmo e, no fim da temporada, chegou no seu auge com grandes atuações, encerrando o ano bem, apesar do desastre apresentado na última rodada do Brasileirão.

Pontos positivos da passagem de Felipão no Atlético-MG

  • Melhora defensiva: com Felipão, o Atlético mudou um pouco o seu estilo de jogar e passou a atuar com dois volantes, o que deu mais segurança defensiva. Não à toa, o Galo foi a melhor defesa do Brasileirão;
  • Recuperação de jogadores: se tem uma coisa que Felipão é mestre, é em gerir o grupo. No Atlético, não foi diferente. O treinador conseguiu passar confiança a jogadores que passaram por momentos difíceis e conseguiram dar a volta por cima, como Jemerson, Otávio, Zaracho e até o artilheiro Paulinho. Fora Edenilson, que ele não desistiu e fez jogar bem na reta final.

Pontos negativos da passagem de Felipão no Atlético-MG

  • Futebol pobre: durante o período com Felipão, independente dos resultados, o Atlético demonstrou um futebol muito pobre na maior parte do tempo. O time não jogava tão bem, não tinha brilho, muitas vezes parecia sem vontade e sem gana de vencer ou marcar mais gols em jogos que teve a oportunidade. Os três jogos em que o time atuou muito bem no fim do ano, são a exceção na temporada com o treinador;
  • Desempenho contra times da parte de baixo: uma das grandes reclamações do torcedor do Atlético na temporada foi o desempenho abaixo contra times da parte de baixo da tabela, que estavam lutando contra o rebaixamento. Com Felipão, o Galo jogou muito mal contra esses times e perdeu muitos pontos que fizeram falta no final. Os próprios jogadores falaram sobre soberba por serem, teoricamente, melhores, algo que precisa melhorar em 2024

O que esperar do comando técnico do Atlético-MG em 2024?

Para 2024, o Atlético vai manter Felipão no comando do time. Com o fim de ano em alta, é esperado que o treinador consiga melhorar ainda mais o time, principalmente agora tendo uma pré-temporada e uma janela de transferência para montar o time exatamente do jeito que ele quer. Independente de praticar um bom futebol, o Galo quer ter resultados na próxima temporada para dar uma resposta. Se Scolari conseguir manter (ou melhorar) a forma que o time terminou 2023, é provável que o Alvinegro consiga ter um ano melhor e mais equilibrado.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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