Não é Ramon Menezes: por que o problema desta Seleção Sub-20 e outras é a defesa
A falta de ambição do time sub-20 em jogar contra a Argentina não está à altura da história e tradição da seleção brasileira

Depois do empate com a Argentina, a seleção brasileira é favorita para ganhar o Sul-Americano Sub-20 — e não somente porque tem uma vantagem de um gol no saldo.
Também porque no domingo fica difícil imaginar o Chile conseguindo se defender contra a força física e bolas altas do time de Ramon Menezes. A probabilidade neste momento, então, é que o Brasil seja campeão.
Mas e daí?
Qual é o objetivo aqui? Para que servem as categorias de base?
Uns 15 anos atrás eu vi uma palestra de um dirigente do Barcelona responsável por La Masia — a famosa base de desenvolvimento de talentos do clube catalão. Ele frisou uma coisa: do início do processo até o Barcelona B, a prioridade nunca era os resultados. Muito mais importante do que ganhar jogos ou títulos era o trabalho de longo prazo de formar jogadores.
Naquele momento, o técnico da seleção brasileira era o Mano Menezes, que tomou a palavra para explicar que no Brasil isso é impossível existir num contexto sem resultados. Mas tem limites — ou deveria ter.
Dentro da CBF, se tem a ideia que nas seleções da base, ganhar títulos é tão importante quanto formar jogadores. Vão falar que os dois objetivos andam juntos, que ganhar títulos faz parte do processo da formação. Isso faz sentido — até o momento em que os dois objetivos entrem em conflito.

O problema é que tem um atalho para quem quer fazer sucesso com a juventude: dar prioridade para jovens altos e fortes. Assim pode-se ganhar — no curto prazo. Mas colocar os seus gigantes precoces num ambiente onde já não há essa vantagem física, aí a casa cai. E isso, na insignificância eterna da minha opinião, é a minha crítica à atual seleção sub-20 e a várias seleções brasileiras da base nos últimos tempos.
Se vê o problema claramente nos zagueiros. Tem uma tendência, bem forte no time atual, de serem gigantes, imponentes nas bolas altas e muito perigosos quando o time ganha um escanteio. Mas são limitados para defender em espaço aberto e para sair jogando.
E um zagueiro da seleção principal do Brasil tem necessidade absoluta de saber defender em espaço aberto e sair jogando. Não é coincidência, acredito, que poucos dos zagueiros excelentes que o Brasil tem hoje em dia foram titulares no sul-americano sub-20.
No time atual, sobra testosterona e falta futebol
Não se controla o jogo, vive-se de momentos esporádicos — um só em 90 minutos foi suficiente para segurar um empate contra a Argentina, que deveria ser um dos jogos mais cautelosos na história da seleção brasileira em todos os níveis.
Por que tanta cautela? Primeiro porque quando os times se enfrentaram na fase de grupos, a zaga brasileira mostrou uma incapacidade total de defender em espaço aberto — daí o bloco baixo adotado depois por Ramon Menezes. E também porque a zaga não joga. Mata o meio-campo.
Um time de futebol ganha ritmo de seus jogadores de trás, saindo com a bola, atraindo a marcação e assim criando espaço para o meio-campo, porque os jogadores deste setor podem receber a bola olhando para a frente com tempo suficiente para fazer um passe.
A zaga do Brasil não faz isso. É ou passe para o lado, ou chutão para a frente para lutar para uma segunda bola.

Não acredito que isso faz parte de um processo de longo prazo de formar jogadores para a seleção principal. Tenho certeza absoluta que não deveria fazer parte de tal processo.
Porque se faz, então? Para ganhar títulos? E daí? Para segurar empregos dos técnicos? E daí?
Qualquer que seja o motivo e explicação, a falta de ambição de jogar contra a Argentina não está na altura da história e tradição da seleção brasileira. E passar para os jovens a história e tradição da sua camisa deve ser uma das prioridades das seleções de base.