O mesmo vento que derrubou técnico no West Ham promete incomodar Caixinha no Santos
Londres e Santos têm uma coisa em comum: o peso da história do futebol e as cobranças dentro de West Ham e Peixe
O West Ham demitiu o seu técnico, Julen Lopetegui, e com certeza Pedro Caixinha já tomou conhecimento. Porque os ventos que derrubaram o espanhol em Londres são os mesmos que, em rajadas ainda mais fortes, prometem incomodar a vida do português no Santos. Chama-se o peso da história.
E podemos adicionar a observação de que o futebol nunca é somente sobre o que você faz. Como você faz é quase tão importante quanto. Às vezes até mais.
West Ham, a Academia do futebol inglês
O West Ham se orgulha de ser o clube que ganhou a Copa do Mundo para a Inglaterra em 1966.
Jogadores-chave nas três linhas — Bobby Moore atrás, Martin Peters no meio e o centroavante Geoff Hurst — foram feitos e desenvolvidos no clube. São nada menos que o capitão e os atletas que marcaram todos os gols na final contra a Alemanha Ocidental.
O clube já estava se consolidando como um celeiro de craques e ganhou o apelido de ‘Academia,’ formando jogadores com bom toque da bola, atuando como um estilo refinado.
O leitor talvez nunca tenha ouvido falar de Trevor Brooking, o meia-armador que era o craque do time nos anos 70 e início dos 80.
Era tão habilidoso que conquistou o coração de Paulo César Caju, nunca uma tarefa fácil, quando o brasileiro estava negociando com o Fulham em 1980 e foi ver um jogo do West Ham.
Caju ficou muito impressionado com a elegância e o talento de Brooking — um jogador totalmente identificado com o jeito West Ham de ser.
West Ham também produziu grandes nomes do presente e passado recente
Declan Rice é produto do clube, bem como, nos anos anteriores, Frank Lampard (o pai dele também jogou lá durante anos), Rio Ferdinand, Michael Carrick e Joe Cole.
Por falta de ambição — pode ser por falta de tamanho do estádio — o West Ham nunca foi capaz de segurar esses jogadores. Mas agora o estádio deixou de ser desculpa.
Saiu de Upton Park, o seu lar tradicional e aconchegante, para assumir a arena construída para os Jogos Olímpicos em Londres há 13 anos. E a mudança veio junto com a promessa de um time bem melhor.
Moyes in, Moyes out: a vida do ‘novo West Ham'
Durante anos, sob o comando de David Moyes, o West Ham conseguiu ser competitivo. Até ganhou um título continental, a Conference League. Mas nunca foi suficiente. O sisudo escocês não cabia dentro da imagem romântica da Academia do Leste de Londres.
Sempre houve um sonho de um estilo de jogo mais expansivo. Moyes, então, foi substituído por um nome bem glamoroso: Manuel Pellegrini, ex-Real Madrid e Manchester City. Não deu certo. Voltou Moyes. Aí foi substituído por Julen Lopetegui. Também não deu certo.
Podemos concluir, então, que o Fábio Carille é o David Moyes tupiniquim.
Carille conseguiu trazer o Santos de volta para a Série A — e como campeão da segundona. Mas não foi suficiente.
Os fantasmas de Pelé e tantos outros craques são uma presença constante na Vila Belmiro, e a torcida cresceu ouvindo contos das suas façanhas.
As expectativas e as cobranças são extraordinariamente altas, e Carille foi visto como excessivamente sisudo e cauteloso.
Se Fábio Carille, então, é David Moyes, Pedro Caixinha vai ter pouco tempo para demonstrar que ele não é o Julen Lopetegui.