Nova queda precoce do Atlético-MG na Copinha ainda é reflexo de um péssimo trabalho de base
Atlético caiu cedo de novo na Copinha e precisa começar a "atacar" o mal que as gestões ruins feitas anteriormente causaram

O Atlético-MG caiu, mais uma vez, de forma precoce na Copa São Paulo de Futebol Júnior, sendo eliminado na segunda fase para o estreante Sfera-SP. Chegar longe na competição não era algo esperado pelos que acompanham a base de perto, e isso é reflexo do tratamento ruim que a categoria recebeu nos anos anteriores. Além disso, essas quedas não necessariamente indicam que não há nenhum jogador de destaque, pelo contrário, jogadores se saírem bem em meio ao bagunçado Sub-20 do clube mostra como eles podem fazer a diferença.
Depois de ter feito uma primeira fase 100%, tendo reais dificuldades apenas na última rodada, contra o SKA Brasil, o Atlético caiu diante do Sfera na segunda fase, perdendo por 1 a 0. A falta de eficiência ofensiva foi um dos pontos que fez o Galo ser eliminado, mas era algo esperado pelas pessoas que acompanham mais de perto a base atleticana e que a Trivela conversou antes da Copinha começar. O clube não tinha nenhum atacante de real destaque na categoria Sub-20, o que ajuda a explicar essa queda e essa não surpresa pela eliminação.
Essa eliminação precoce foi só mais uma na lista do Atlético não só na Copinha, onde acumula quedas na 2ª e 3ª fase (e até uma na fase de grupos) nos últimos anos. A queda atleticana está atrelada ainda ao tratamento ruim que a base recebeu nos anos anteriores. O clube tenta mudar o modelo como forma seus jovens, e explicou isso em um seminário que fez à imprensa em 2023, em que a Trivela esteve presente e pode entender pelo menos a ideia do clube, que ainda não reflete nas categorias mais vistas (Sub-17 e Sub-20) e muito menos no profissional, mas já dá frutos nos mais jovens.
O Atlético passou a investir mais nas categorias abaixo do Sub-15, criando a maioria delas, do Sub-13 ao Sub-8. Essas categorias já estão rendendo bem ao clube, seja em títulos – Sub-15 venceu 4/5 títulos que disputou – ou em prospectos, como o meia Gustavo Assef, que já faz parte das seleções de base.
?? Que ano do meu sub-15! Os Crias disputaram cinco títulos na temporada e venceram quatro! Além disso, vários atletas da categoria, fizeram parte do elenco do #Galo na Surf Cup International Sub-16, na Espanha, e também conquistaram o caneco!
Representaram demais! ????
?:… pic.twitter.com/FxxpakSvyO
— Atlético (@Atletico) December 14, 2023
Título não é tudo – pelo contrário
É claro que o torcedor atleticano quer ver o Atlético ganhar títulos, independente do esporte ou da categoria. Da base ao profissional, querem ver taças. Mas é importante o entendimento de que, na categoria de base, vale muito mais revelar do que ganhar taças. O Galo, no entanto, está em um momento que não consegue nem um e nem outro. Ou será que consegue?
O Atlético tem na sua base uma das grandes promessas do Sub-17 no Brasil, Mateus Iseppe, que atuou nessa Copinha e foi titular no jogo da eliminação, inclusive. Após a partida, algumas torcedores quiseram já pintar o meia como um “foguete molhado”, ou seja, que não é isso tudo. Mas há alguns pontos que mostram que é só observar com cuidado para não ter essa opinião – que é fácil de se ter após uma eliminação como essa.
Primeiro que Iseppe não joga sozinho, então mesmo que ele tivesse feito tudo por conta própria, poderia não ser o suficiente. Segundo que, basta olhar o jogo com atenção para perceber como ele tem um trato diferente com a bola, mostrando realmente ser diferente dos demais. Terceiro que vale lembrar que ele é um jogador de 17 anos atuando em um time Sub-20, e esse é o principal ponto que a Trivela quer abordar, que é a transição feita pelo Atlético.
Péssima transição ajuda a explicar a base “ruim” do Atlético
Iseppe é uma joia de 17 anos que, em 2023, mesmo sendo enorme destaque no Sub-17, ganhou poucas oportunidades no Sub-20 e nenhum no profissional. Em outros times que já estão acostumados a revelar jogadores, como Vasco, Corinthians e Fluminense, os atletas de destaque dessa idade já estão trabalhando junto aos profissionais e até estreando. No Galo, as coisas vão por outro caminho, e não só com Iseppe. Um dos brasileiros de maior destaque no futebol mundial hoje, Savinho, atualmente no Girona, saiu do Alvinegro vendido por um valor irrisório e com baixo aproveitamento justamente pelo clube não ter essa capacidade de realizar uma boa transição.
Uma transição boa é essencial para os jogadores se adaptarem o mais rápido possível ao novo estilo de jogo da categoria. No Atlético, o clube aparentemente não sabe ainda fazer isso nem do Sub-17 para o Sub-20, quanto mais para o profissional. Por isso, jogadores de destaque na base muitas vezes acabam encostados, como aconteceu em 2023, onde os jovens do elenco pouco atuaram, e parece que vai acontecer também em 2024.
Quem valoriza o Caetano capinando sentado com o profissional, também tem que valorizar o Damiani!
Ele acerta em tudo? Óbvio que não!
Mas ainda que o time venha buscando investir, ainda é muito pouco.E se só dinheiro fosse problema, tava ok, nossa base simplesmente não é…
— Vingança Alvinegra (@1908Vinganca) January 14, 2024
A questão é que o Atlético costuma ter bons jogadores, que se destacam até o Sub-17, mas depois disso não consegue fazer com que eles sigam evoluindo para se destacarem no Sub-20 ou já no time profissional. Esse erro de planejamento fazia parte das outras gestões da base e ainda parece fazer com a gestão atual. E, para o azar do Galo, esse é o ponto mais crucial na categoria de base. Por isso o clube tem tanta dificuldade em revelar e é tão criticado, parecendo ainda que tem “medo” de revelar.
- - ↓ Continua após o recado ↓ - -
Processo longo e paciência necessária
Quem comanda a base do Atlético hoje é Erasmo Damiani. Ele chegou ao clube em 2021 e vem tentando fazer mudanças desde então. Como citado, ele trabalhou bem para as categorias do Sub-15 para trás, mas segue tendo problemas na 17 e na 20. As duas categorias tiveram um ano ruim coletivamente em 2023, com poucos destaques se salvando, dentre eles o já citado Iseppe, e os companheiros dele no Sub-17: Kawe e Louback, e no Sub-20 o artilheiro Isaac, que agora faz parte do profissional, mas está de saída justamente por não receber chances.
Fora esses jogadores citados, o Atlético não tinha mais muitos destaques. Há bons jogadores, claro, como Yan, Caio Ribas e Zé Phelipe, mas nenhum que demonstrou um destaque tão grande quanto os citados. Essa questão é mais uma que faz parte das mudanças que Damiani está tentando implementar, mas o processo não é rápido. O próprio diretor começou a reformulação da base do Palmeiras (considerada hoje a melhor do Brasil) em 2013, e só mais recentemente o clube paulista começou a colher verdadeiros frutos.
No Atlético, como é do Sub-15 para baixo que está dando frutos, o clube deve ter ainda os próximos três ou quatro anos ainda penando no Sub-17 e no Sub-20, já que a ideia é contratar jogadores mais jovens possíveis e não os que já “chegam prontos”. É claro que Damiani não vive só de acertos e não pode ser eximido de culpa, por exemplo, o time da Copinha conheceu seu treinador apenas um mês antes da competição. O Sub-17 passou meses sem um treinador efetivo. Então, sim, há muitos problemas que poderiam ter sido evitados pela gestão de Erasmo, mas também há alguns pontos que podem fazer real diferença positiva, mas só devem ser vistas em alguns anos.
Em resumo, o torcedor do Atlético está (com razão) cansado da forma como vê a base. O torcedor comum, que não acompanha a fundo as categorias, só vê o Galo perdendo nas competições, sendo eliminado e muitas vezes até humilhado, sofrendo grandes goleadas. Mas é importante entender duas coisas: não é porque o coletiva funciona muito mal que não há boas peças individuais e, em alguns anos, com as mudanças e os prospectos do Sub-15 para trás, é possível esperar um time mais forte nas “categorias principais” nos próximos anos. Pra ambas essas questões é importante uma palavra: paciência. Tanto para analisar as boas peças no meio da “bagunça” do Sub-17/20, quanto para esperar a base (que já dá resultado em categorias menores) se fortalecer.