Brasil

‘Parece fardo para alguns’: Marcelo Paz fala sobre momento da Seleção Brasileira

Eleito o melhor dirigente do Brasil, CEO do Fortaleza aponta discrepâncias entre clubes e seleção e prega resgate de protagonismo

Eleito melhor dirigente do futebol brasileiro nesta temporada pelo Conselho Nacional de Futebol (Conafut), Marcelo Paz discorda que a responsabilidade do momento ruim da Seleção Brasileira seja do grupo de atletas. 

Mesmo com a vitória sobre o Chile, fora de casa, na última quinta-feira (10), o Brasil não tem uma boa campanha nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, com aproveitamento inferior a 50% após o fim do primeiro turno – o time de Dorival Júnior tem um retrospecto de 48% no torneio.

A má fase respinga na atual geração de jogadores, constantemente criticados por não repetirem com a camisa verde a amarela o desempenho apresentado em seus clubes, a maioria deles na Europa. 

Para o CEO do Fortaleza, o declínio da Amarelinha é gradual, vem de anos e isso tem muito a ver com a forma com que o produto é tratado. 

De acordo com Paz, a Seleção Brasileira é considerada um fardo para muitas pessoas e até por clubes no Brasil. Desta forma, o primeiro passo para mudar o cenário atual é a recuperação do protagonismo no mundo do futebol.  

– A seleção perdeu muito esse vínculo, esse amor, essa coisa mais patriótica, no bom sentido. A Seleção parece um fardo para algumas pessoas, alguns clubes. Temos que resgatar isso de alguma maneira. Temos uma boa geração, discordo de quem fala que a geração é ruim. Mas eu acho que falta, de fato, voltar a ter um protagonismo. É muito ruim ser eliminado nas quartas de final da Copa América, é muito ruim ter perdido quatro de oito jogos nas Eliminatórias. O Equador entrou com menos três pontos e está na frente do Brasil e não dá para negar, está aí na tabela. Então, precisa ser melhorado e evoluído. E temos condições para isso. Temos jogadores, material humano, história, força, mas isso precisa ser refletido em resultado de campo para que o Brasil volte a ter um protagonismo que nunca deveria ter perdido – disse Marcelo Paz em entrevista exclusiva à Trivela. 

Para Marcelo Paz, é necessário humildade para recuperar a Seleção Brasileira

Segundo Marcelo Paz, o primeiro passo para que a Seleção Brasileira retome o papel de destaque que teve por muitos anos é ter humildade em reconhecer que neste momento o time não está no topo do futebol mundial. 

O executivo aponta os desempenhos recentes nas Copas do Mundo como argumento de que hoje o Brasil está somente entre a quinta e oitava colocação entre as seleções no Planeta. 

– A Seleção Brasileira não vem bem há muito tempo. A gente tem que ter primeiro a humildade, como brasileiro, como torcedor, de reconhecer que não estamos no primeiro nível do futebol mundial em termos de seleção, as últimas Copas do Mundo provam isso. Desde 2002, quando a Seleção foi campeã, nunca passamos das quartas de final, com exceção de 2014, que eu não sei se era melhor ter passado, porque passou para acontecer o que aconteceu na semifinal. Somos uma seleção de quartas de final, uma seleção de quinto a oitavo – destacou Marcelo. 

O dirigente se vê em um papel de muita tranquilidade para criticar a Seleção Brasileira. Ele se permite a isso porque, segundo ele, faz esses julgamentos até mesmo ao Fortaleza, equipe na qual dirige. 

Marcelo Paz fracassos Seleção Brasileira
Para Marcelo Paz, fracassos recentes justificam perda de protagonismo da Seleção Brasileira no cenário mundial (Foto: Icon Sport)

Paralelo com a Argentina e clubes brasileiros

Marcelo Paz aponta a Argentina, atual campeã do Mundo, como um paralelo ao que vive a Seleção Brasileira. 

Segundo o dirigente, o país vizinho vive um ótimo momento internacionalmente, enquanto os clubes locais estão em declínio. Situação oposta ao Brasil, que mesmo sendo protagonista entre os times da América do Sul, vive uma péssima situação em termos de seleção. 

– Enquanto isso, a Argentina foi campeã, foi vice. Olha o paralelo, os clubes brasileiros cresceram demais nos últimos anos, mas a Seleção Brasileira não cresceu. Na Argentina, a seleção cresceu nos últimos anos e os clubes caíram – aponta Paz. 

Uma semelhança entre as seleções dos dois países é que são formadas em sua maioria por atletas que atuam no futebol europeu. Para Marcelo Paz isso reforça que o problema do Brasil não está no grupo de jogadores e muito menos na pouca quantidade de atletas que joguem no cenário nacional. 

– Não acho que falte futebol brasileiro na seleção. Não acho que seja por aí. Tem que convocar os melhores e os melhores estão no futebol europeu, não dá para negar isso. Claro que tem talentos que pode se ter uma mescla, de jogador que está aqui entrar com mais vontade… Não sei? Será que quem vem de fora não tem vontade? Aí é uma avaliação de quem tá lá para fazer escolha técnica, convocando jogador, treinando e escalando jogador. Eu não gosto desses determinismos. Quando convoca jogador daqui a distorcidas nem gostam. Desfalca time quando vai para seleção e volta em cima da hora

Marcelo Paz e o desejo de representar a Seleção Brasileira

Marcelo Paz lembra com carinho quando foi chefe de delegação da Seleção Brasileira em 2022, em amistosos disputados na Coreia do Sul e Japão antes da Copa do Mundo realizada no Qatar no fim daquele ano. 

Para ele, foi a realização de um sonho, pois tudo que envolve a Amarelinha vai além de convites, mas são convocações. 

Marcelo Paz chefe de delegação Seleção Brasileira
Quando Marcelo Paz foi chefe de delegação da Seleção Brasileira o coordenador ainda era Juninho Paulista, que deixou a função após a Copa do Mundo de 2022 (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Por isso que atualmente somente um chamado da CBF seria capaz de tirá-lo do Fortaleza de imediato, ainda que o dirigente considere distante um acontecimento como esse. 

– O que me tiraria de imediato é a Seleção Brasileira, porque é quase que um chamado, algo que vai além. Acho que é algo distante, que não acontece de repente, mas mexe muito – declarou Marcelo à Trivela. 

Cauteloso com qualquer ideia de estar cavando espaço na Seleção Brasileira, Marcelo Paz garante que o sonho é um vislumbre e não uma obsessão, mas que estaria aberto para atuar em qualquer espaço que fizesse sentido para ele e que possa contribuir. 

– Quando eu falo de Seleção Brasileira, falo sobre qualquer situação dentro da Seleção, não somente como executivo especificamente, pode ser outra função se fizer sentido para mim. Tenho que tratar esse tema com muito cuidado para não parecer que estou cavando. É uma resposta referente a uma pergunta. É algo que me move, mas não é uma obsessão, que não é uma procura. Eu não cavo isso. Faço meu melhor dentro do Fortaleza e dentro do que eu sou convidado a participar, como, por exemplo, a LFU, que a gente fundou, criou, fez crescer com muita gente e que atualmente eu estou na presidência – destacou Marcelo Paz.

Relação de Marcelo Paz na CBF e presidência da LFU

Para o CEO do Fortaleza, o papel dele na presidência da Liga Forte União não possui interferência em uma possível alçada à CBF. 

O dirigente entende que o seu papel à frente do bloco de equipes brasileiras dá um respaldo diante da representação dos interesses coletivos junto à entidade máxima do futebol nacional. Acima disso, a situação, para ele, passa para um campo político. 

Imagem-do-WhatsApp-de-2024-10-10-as-23.50.24_34f81bda
Marcelo Paz lidera bloco de 32 times que faz parte da Liga Forte União (Divulgação/SCR)

– Não sei se contribui, porque se chamar alguém da LFU chamaria alguém da Libra também? Passa a ser até uma questão política. Não vejo que isso seja um diferencial. Estar na presidência da LFU dá um respaldo, uma credibilidade. Eu saio de ser olhado como uma liderança apenas local e passo a ser uma liderança maior, perante a vários clubes. Eu acho que tem um efeito, um peso, ajuda na questão da imagem, mas não para ir para uma Seleção. É outro contexto, é escolha de quem está lá, tem que respeitar os processos, a forma – destaca o executivo. 

Marcelo Paz classifica como boa a sua relação com Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, a quem se diz grato pela oportunidade de chefiar a delegação brasileira há dois anos. 

Porém, o representante do Fortaleza deixa claro que essa gratidão não é confundida como subserviência e que ele costuma fazer os seus apontamentos, críticas e sugestões de melhorias ao líder da Confederação.

– Gratidão não quer dizer subserviência. Gratidão pelo que ele me proporcionou, mas uma relação respeitosa. Ednaldo me atende, quando eu ligo e ele não pode falar, me retorna depois. Já conversamos sobre alguns temas de futebol: Copa do Nordeste, criação de campeonato sub-23. Temos uma relação boa, ele me vê como um dos interlocutores com os clubes. E eu não tenho que reclamar do ponto de vista do relacionamento. Ele sempre foi gentil. E atender não quer dizer sim para tudo – disse o dirigente à Trivela. 

Marcelo Paz aponta a arbitragem como principal ponto de melhoria no futebol brasileiro

As principais considerações sobre a arbitragem brasileira. Para Marcelo Paz, Ednaldo Rodrigues tem a oportunidade de dar alguns passos para a profissionalização da categoria.

Creio que há coisas que precisam ser melhoradas e evoluídas em termos de Confederação. Não é fácil gerir a CBF. A arbitragem precisa evoluir, caminhar para a profissionalização, os árbitros precisam ter contrato permanente, se dedicar somente a apitar, estudar o jogo, se preparar fisicamente, tecnicamente e mentalmente. Ednaldo poderia deixar esse legado. Não é simples, não é só uma canetada, passa um pouco pela regulamentação da profissão de árbitro de futebol, tem que ir para o Congresso, regulamentar, mas será que não dá para fazer uma transição, algo para fazer o árbitro mais focado na sua carreira? Então, acho que isso é um passo que pode ser evoluído.

Foto de Fábio Lázaro

Fábio LázaroSetorista

Nascido em Santos, criado em São Vicente e entregue à São Paulo. Na Trivela desde junho de 2024, como setorista do Corinthians. Passagem pelo Lance! entre fevereiro de 2020 e maio de 2024, onde cobriu Santos e Corinthians. Por lá, também coordenou pautas e estratégias digitais. Atualmente, também é comentarista no programa Esporte por Esporte, da TV Santa Cecília.
Botão Voltar ao topo