Exclusivo: Marcelo Paz contraria ‘mito’ sobre influência dos dirigentes no calendário
CEO do Fortaleza diz que datas já chegam prontas aos clubes e aponta caminho para minimizar danos
Entra e sai temporada, e o calendário segue apontado como um dos maiores vilões das equipes do futebol brasileiro.
A responsabilidade pela ausência de mudança nos formato das competições, permitindo uma quantidade menor de jogos, costuma cair no colo dos dirigentes, apontados como coniventes.
Um dos mais bem-sucedidos gestores de clube no Brasil na atualidade, Marcelo Paz, CEO do Fortaleza, diverge sobre a “culpa” dos diretores na efetivação das tabelas e formatos dos campeonatos.
– Os dirigentes não assinam nada [sobre o calendário], chega pronto. O calendário vem da Fifa. A Fifa publica o calendário dela. Com base na Fifa, a Conmebol publica o calendário dela. Com base na Conmebol, a CBF faz o dela e as Federações fazem as delas. Não tem esse negócio de clube assinar – afirmou Paz em entrevista exclusiva à Trivela.
Outro fator apontado por Paz como impeditivo para alterações do calendário do futebol no Brasil são as regulamentações.
O mandachuva da equipe nordestina destaca que as competições precisam ter pelo menos dois anos no mesmo formato, de acordo com o antigo Estatuto do Torcedor, que hoje foi incorporado na Lei Geral do Esporte.
– Hoje tem o Estatuto do Torcedor, que virou Lei Geral do Esporte, que você não pode mudar o já regulamento da competição na hora que quer, tem que ter pelo menos dois anos naquele formato. Não é essa fala que os dirigentes dos clubes assinam, não é bem assim, vem de cima para baixo, já vem pronto, nessa escala – pontuou o gestor.
Outro fator que, segundo Marcelo Paz, dificulta as mudanças são os compromissos comerciais.
O CEO do Fortaleza usa o exemplo do Campeonato Paulista, que não consegue reduzir as 16 datas que possui há alguns anos por conta de parcerias com empresas que interessam às equipes por conta das arrecadações financeiras.
– A Federação Paulista é a maior do país, campeonato organizado e rentável, é difícil diminuir 16 datas lá. Não é o São Paulo, Corinthians e Palmeiras que vão assinar ou retirar assinatura para no próximo ano não ter mais 16 datas, porque já está vendido, tem um acordo comercial e o dinheiro que entra é bom. Não é bem assim, é muito de cima para baixo – disse o dirigente.
Paz diz quais são as equipes mais prejudicadas pelo calendário no Brasil
Marcelo Paz não ignora que o calendário seja um problema no futebol brasileiro, mas acredita que ele não seja o maior.
Para o dirigente, o excesso de datas é uma dificuldade para os clubes que disputam competições internacionais, como a Libertadores e a Sul-Americana.
O CEO do Fortaleza aponta os exemplos de Bahia, Santos e Vasco, que não se classificaram para torneios continentais nesta temporada, como exemplos de times que não tem as tabelas como inimigas em 2024.
– Calendário é um problema? É. É o maior deles? Acho que não. Calendário é problema para as equipes que disputam competições sul-americanas. Pergunta se o Santos está com problema de calendário esse ano? O Vasco? O Bahia? Não estão. Mas quem disputa competições sul-americanas já começa a apertar desde o começo do ano, quando entra em uma pré-Libertadores, nas primeiras fases. Começa a dificultar e essa conta estoura mais na frente – destacou Marcelo.
Para Paz, a prioridade da Confederação Brasileira de Futebol deveria ser dar passos para a profissionalização da arbitragem. Ele reconhece que é algo que iria além do espectro esportivo e precisaria passar por regulamentações legais, mas acredita que os primeiros passos para esse processo poderiam ser dados pelos responsáveis pela CBF, em especial o presidente Ednaldo Rodrigues.
– A arbitragem precisa evoluir, caminhar para a profissionalização. Os árbitros precisam ter contrato permanente, se dedicar somente a apitar, estudar o jogo, se preparar fisicamente, tecnicamente e mentalmente. O Ednaldo (Rodrigues) poderia deixar esse legado. Não é simples, não é só uma canetada, passa um pouco pela regulamentação da profissão de árbitro de futebol, tem que ir para o Congresso, regulamentar, mas será que não dá para fazer uma transição, algo para fazer o árbitro mais focado na sua carreira? Então, acho que isso é um passo que pode ser evoluído – comentou Paz.
Marcelo Paz aponta alternativas para minimizar danos do calendário no Brasil
Ainda que não impute ao excesso de jogos o maior problema do futebol brasileiro, Marcelo Paz acredita que uma forma de reduzir as reclamações é reduzindo as datas de Estaduais e Copa do Brasil para os times que disputaram torneios continentais.
Para ele, a redução de cinco a seis jogos daria um “refresco” para os clubes que vão acumular partidas e não podem ser reféns do próprio sucesso ao avançar nas competições de mata-mata.
– Dirigente discute, no máximo, a fórmula de disputa. Mas aponto um caminho para minimizar, não para resolver: Os times que jogam competições sul-americanas deveriam jogar menos jogos do Estadual e entrar, pelo menos, na terceira fase da Copa do Brasil, o que já reduz cinco, seis jogos, que já fazem a diferença ao longo do ano – ressaltou o mandachuva do Tricolor cearense.
Calendário é pivô de divergência entre grandes brasileiros
O duelo de volta pela semifinal da Copa do Brasil entre Flamengo e Corinthians está marcado para a semana do dia 17 de outubro. Dois dias antes, acontece a décima rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026.
O clube carioca, que geralmente cede uma quantidade maior de atletas às suas seleções, cogitou solicitar à CBF o adiamento da partida.
Ao saber da possibilidade, a equipe paulista se posicionou de forma contrária, já que disputa atualmente três competições simultâneas – além da Copa do Brasil, o Brasileirão e Sul-Americana.