Revelados cinco fatores que minaram a relação entre Tite e Gabigol no Flamengo
Declarações do atacante foram apenas a ponta do iceberg para meses de irritação e indiferença no Ninho do Urubu
Gabigol desabafou depois do título da Copa do Brasil. Ainda no gramado da Arena MRV, o centroavante confirmou que vai deixar o Flamengo em dezembro e enumerou algumas razões para a decisão. Uma delas foi o tempo perdido diante da péssima relação com Tite.
— Foi um ano conturbado para mim individualmente, (houve a) questão do doping, depois um treinador que não me respeitava como jogador. Durante esses momentos, nunca tentei externar isso de alguma forma, mas foi período horrível para mim. Mas sempre trabalhei, sempre busquei melhorar. Sempre tentei mostrar para ele que eu poderia ajudar de alguma forma — analisou.
Ainda que a declaração tenha exposto algo que muitos já suspeitavam, ele não deu a real dimensão dos fatos vividos nos corredores do Ninho do Urubu. O trato entre Gabigol e Tite, esperado desde a contratação do treinador, ocorreu de maneira fria e indiferente.
O começo de tudo
Antes mesmo de negociar com o Flamengo, Tite já havia trabalhado com Gabigol. Foi na Seleção Brasileira, quando o comandante convocou o centroavante para jogos das Eliminatórias, durante o ciclo da Copa do Mundo do Catar.
As chamadas aconteceram entre junho de 2021 e janeiro de 2022, e o jogador do Flamengo participou, também, da Copa América. Ele participou de 13 partidas, sendo cinco como titular, e marcou três gols. Por tudo que ele fez com a camisa rubro-negra ao longo do ciclo, a expectativa por uma convocação para a Copa era grande.
No fim das contas, Pedro, companheiro de ataque no Flamengo, acabou sendo o escolhido por Tite. E é justamente nesse ponto que vemos a primeira página pública do atrito: durante a carreata rubro-negra pelos títulos da Copa do Brasil e Libertadores, a torcida hostilizou Tite com a “benção” do ídolo.
Esquema de Tite não dava espaço a Gabigol
Outro ponto que se viu desde o início é que o esquema de Tite não favorecia as características de Gabriel Barbosa. Pelo contrário, o deixava desconfortável com as funções. O treinador também não ajudou, dando pouquíssimas oportunidades como centroavante, na sua posição de origem.
Como a formação priorizava a amplitude com os externos, o Flamengo precisava de um 9 com funções voltadas para o pivô, mais espetado entre os zagueiros. Gabigol gosta bastante da movimentação, especialmente no “facão”, que se tornou uma marca registrada durante a passagem pelo clube carioca.
Se Dorival mostrou que era possível jogar com os dois, Tite rechaçou a possibilidade logo de cara e deu a vantagem a Pedro, que, de fato, jogava melhor. A temporada do centroavante era impressionante antes da grave lesão no joelho.
Quis ser maior que o Flamengo?
Centroavante gosta de gol, ainda mais o que tem o principal momento do futebol no próprio apelido. Porém, foi num episódio de desejo que apareceu o primeiro atrito entre Gabigol e Tite no Flamengo. Durante a goleada por 4 a 0 sobre o Boavista, no Carioca, o jogador pediu para entrar antes da hora para bater pênalti, e o treinador não gostou.
Ninguém acelerou a substituição, e Gabigol assistiu Pedro perder a penalidade máxima. Depois do jogo, Tite deu uma bronca no atleta, dizendo que ele não poderia colocar interesses pessoais acima da equipe. O clima começou a estremecer a partir daí.
Polêmicas envolvendo o atacante
Não ajudou em nada que Gabigol esteve envolvido em diversos problemas nesta temporada. Primeiro foi a condenação por tentativa de fraude em exame antidoping, que abalou ainda mais a relação com Tite, assim como a de outros jogadores do elenco. Muitos acharam uma atenção desnecessária para o Flamengo.
Depois, Gabriel ainda foi flagrado usando a camisa do Corinthians em um evento na sua casa e gerou polêmica, pois o clube paulista era um dos interessados na sua contratação. Tudo isso culminou para que Tite se distanciasse ainda mais do jogador.
— Primeiro, eu errei. Acho que é errar, pedir desculpas, saber que errei. Mas nesse momento que a foto saiu, eu fiquei muito perplexo. Fiquei sem entender. Esse período que fiquei sem falar, sem me pronunciar, foi um período que tirei para pensar. É claro que na emoção dos fatos, o meu primeiro pensamento foi negar. Como eu falo com meus amigos, eu coleciono camisas, troco camisas, seja de seleção, de basquete, e essa camisa eu acabei recebendo e usando — explicou, em entrevista ao UOL.
O fim melancólico
Já na reta final do trabalho de Tite, Gabigol ainda teve uma discussão com Matheus Bachi, filho e auxiliar do treinador, como noticiou primeiro o GE. O atacante já não estava nos planos de Tite para a sequência da temporada, mas, a partir daí, perdeu ainda mais espaço.
Tite ainda tentou lançar Gabigol nos seus últimos jogos como treinador do Flamengo, como na eliminação para o Peñarol na Libertadores, muito mais para tentar acalmar os ânimos da torcida do que como oportunidade real. Sem ritmo, o centroavante foi mal, e o treinador deixou o cargo.
Gabigol e Tite poderiam surpreender a todos com uma boa relação, mas nunca estiveram do mesmo lado no Flamengo. As decisões do treinador também mudaram a maneira com que o atacante se portava nos bastidores: se antes era voz ativa, foi se calando aos poucos, até se tornar mais um no vestiário.
Filipe Luís chegou, mudou a estrutura e deu a chance de um final digno ao atacante. Ele correspondeu, foi decisivo na final da Copa do Brasil e sairá pela porta da frente, como um ídolo merece. Gabigol está a caminho do Cruzeiro.