As lições que o Flamengo pode tirar de um 2023 com muitos gastos e pouco retorno
O Flamengo não quer, e nem pode, cometer os mesmos erros de uma temporada marcada por fracassos dentro e fora de campo
O Flamengo viveu momentos extremamente complicados dentro de um 2023 que só frustrou a torcida. Entre três trocas de técnico, cinco vices e mais algumas eliminações traumáticas, o Rubro-Negro mostrou que, mesmo sendo um clube rico, com o elenco mais valioso do Brasil, não está imune à falta de planejamento. Agora, resta saber se todos os envolvidos no dia a dia da equipe tirarão lições disso.
A primeira, e mais importante, deve ser na hora de reformular o plantel e se adequar às mãos do técnico Tite. Mesmo com uma diferença abissal nos valores dos atletas, que é maior do que qualquer clube do continente, o Flamengo, muito provavelmente, vai terminar o ano sem um título. Será a primeira vez que isso acontece desde que Rodolfo Landim assumiu a presidência, em 2019.
Flamengo tem o elenco mais valioso da América
De acordo com pesquisa realizada pela Pluri Consultoria, o Flamengo possui larga margem no ranking de elencos mais valiosos do Brasil. A principal força econômica do futebol nacional, que tem faturamento superior ao R$ 1 bilhão, acumula R$ 764 milhões entre os 29 jogadores presentes no plantel. Entre os mais rentáveis estão medalhões, como Gabigol e Arrascaeta, e joias, como Victor Hugo e Wesley.
Para ter uma ideia do domínio do Flamengo no quesito, o montante acumulado pelo clube é superior aos de Palmeiras, Bragantino, Botafogo e Grêmio, que completam o top 5, somados. Ainda sobraria um troco para gastar em um atleta de alto nível, já que, juntos, os clubes citados esbanjam “apenas” R$ 670 milhões em jogadores.
A média do Flamengo também impressiona. São mais de R$ 26 milhões para cada atleta, e o adversário mais próximo é o Palmeiras, com R$ 9,5 milhões por jogador. Ainda que sejam dominantes nos últimos anos, ganhando praticamente o mesmo número de títulos, rubro-negros e alviverdes vivem momento de grande disparidade financeira.
- Flamengo – R$ 764 milhões em 29 jogadores (R$ 26,4 milhões por atleta)
- Palmeiras – R$ 297 milhões em 31 jogadores (R$ 9,5 milhões por atleta)
- Red Bull Bragantino – R$ 182 milhões em 35 jogadores (R$ 5,2 milhões por atleta)
- Atlético-MG – R$ 117 milhões em 28 jogadores (R$ 4,1 milhões por atleta)
- Botafogo – R$ 111 milhões em 36 jogadores (R$ 3 milhões por atleta)
Estratégia não funciona mais
Pelo poderio ofensivo, o Flamengo se acostumou a conseguir contratações que poucos, quiçá nenhum, clube do Brasil conseguiria. Os valores gastos desde 2019 superam a marca do bilhão, e colocaram o Rubro-Negro, como o ídolo Bruno Henrique gosta de chamar, em outro patamar. A questão é que a mesma estratégia de antes já não está mais funcionando.
Para 2023, o Flamengo teve apenas cinco contratações, o menor índice desde a chegada de Rodolfo Landim. Não foi por falta de investidas ou necessidade, mas sim porque deu tudo errado no Rubro-Negro. Foram pelo menos três negociações frustradas, em especial na janela de transferências do meio do ano, em que o clube prometeu muito e entregou pouco.
O Rubro-Negro costuma se atentar bastante à Europa para capitalizar nas chamadas oportunidades de mercado. Foi assim que Gerson e Pedro, muito vitoriosos nesta geração, chegaram e fizeram a diferença para o clube conquistar títulos. O modus operandi foi o mesmo nesta temporada, mas a maioria das contratações acabou não rendendo o esperado.
Gerson, Ayrton Lucas — comprado por empréstimo junto ao Spartak de Moscou —, Rossi, Luiz Araújo e Allan, esses foram os cinco reforços do Flamengo para 2023. O Coringa teve lampejos de 2019, mas oscilou ao longo da temporada, enquanto o lateral esquerdo foi do céu ao inferno com convocação para a Seleção Brasileira no primeiro semestre e a reserva de Filipe Luís em alguns compromissos.
No segundo semestre, o trio que resta chegou, mas não conseguiu agregar tanto. Sampaoli preteriu Rossi por Matheus Cunha, e o goleiro argentino demorou quase dois meses para estrear, mesmo estando apto. Luiz Araújo e Allan conviveram com lesões, embora o atacante esteja em crescente nas últimas partidas, e o volante ainda entregue ao departamento médico.
Veja os valores das contratações do Flamengo em 2023
- Gerson – 16 milhões de euros (R$ 92 milhões).
- Ayrton Lucas – 7 milhões de euros (R$ 39 milhões)
- Rossi – Grátis (Fim de contrato com o Boca Juniors)
- Luiz Araújo – 9 milhões de euros (R$ 48 milhões)
- Allan – 8,2 milhões de euros (R$ 43 milhões)
- Total: 40,2 milhões de euros (R$ 222 milhões)
O que fazer para não repetir os fracassos de 2023
Ainda que tenha adotado o mantra do gelo no sangue, inspirado no vice-presidente de futebol, Marcos Braz, o Flamengo acabou tendo dificuldade em diversas negociações. De La Cruz, Claudinho, Wendel, todos chegaram perto do Rubro-Negro, mas acabaram ficando nos seus respectivos clubes. O problema foi justamente a ausência de um plano B.
O clube está certo ao buscar voos altos e grandes jogadores, afinal, é um dos maiores do Brasil e tem dinheiro para sustentar a bronca, mas a falta de planejamento minou. Também é difícil de entender como algumas posições, especialmente na linha de defesa, não foram priorizadas. Vale lembrar que, desde 2019, o Flamengo gastou 45% do valor total de transferências em atacantes.
É importante frisar, também, que o Flamengo explorou pela primeira vez o mercado sul-americano nesta temporada, com a contratação de Rossi. Pode ser o início de uma boa jornada do departamento de scout, mas com certa demora. Outros talentos oriundos do continente vivem grande fase no futebol brasileiro, como é o caso do colombiano Jhon Árias, contratado por apenas R$ 3,1 milhões, junto ao Santa Fé.
Com a ajuda de Tite e em maior sintonia, o Flamengo não pode cometer os mesmos erros de 2023, não apenas pela questão esportiva. O 2024 é ano de eleição, ou seja, quanto melhor a impressão, mais fácil de se manter no poder. Para Rodolfo Landim e sua chapa, o acerto nas contratações será fundamental e, como a Trivela antecipou, o Rubro-Negro prepara um aporte grande.