Brasil

Com dois candidatos, entenda o panorama das eleições para a presidência da CBF

Presidente da FPF, Reinaldo Bastos Carneiro concorre com Flávio Zveiter, ex-presidente do STJD

A virada de ano será sob o clima de uma efervescente corrida eleitoral para a CBF após o afastamento de Ednaldo Rodrigues da presidência. Até agora, o pleito já recebeu duas candidaturas: a de Reinaldo Bastos Carneiro, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), e de Flávio Zveiter, advogado ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Os dois candidatos lançaram suas chapas ao longo da última sexta-feira (29). As eleições ainda não têm data oficializada, mas estão previstas para 8 de janeiro. A entidade está sob o comando interino de José Perdiz, presidente licenciado do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por 30 dias, desde que Ednaldo foi deposto por uma decisão da Justiça.

Como funciona a eleição na CBF

As eleições para a presidência da CBF são definidas em votação entre as federações estaduais e dos 40 clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Os votos das federações são os mais decisivos e têm peso três. Os votos dos 20 clubes da elite têm peso dois, e os dos 20 clubes da segunda divisão, peso um. Ao todo, são 141 pontos em disputa.

Para ser eleito, o presidente precisa fazer maioria simples dos votos. Para lançar uma chapa, é necessário que o candidato tenha o apoio formal declarado por pelo menos oito federações e cinco clubes (seja das Séries A ou B).

Reinaldo Carneiro Bastos recebe apoio maciço

Atual presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos recebeu apoio maciço em um manifesto divulgado na última sexta-feira (30). O documento foi assinado por 30 clubes das Séries A e B e oito federações que declararam apoio ao candidato nas eleições da CBF.

Na soma de votos, contados os pesos atribuídos a cada federação e clube, a candidatura de Reinaldo Carneiro Bastos teria um total de 67 pontos dos 141 em disputa na eleição da CBF. O apoio o coloca com mais de 47% dos votos na corrida.

Antes da divulgação do manifesto, uma cópia circulou com uma lista de 34 clubes. Mas destes, Grêmio, Red Bull Bragantino, Brusque e CRB não assinaram de, fato, o documento. Caso eles assinem, Carneiro teria a maioria necessária para ser eleito.

Confira o comunicado:

Há pelo menos uma década, o Futebol Brasileiro tem sangrado. Afastados ou banidos, nenhum dos cinco últimos presidentes da CBF terminou seu mandato. O futebol sofre, como nunca antes, ingerências externas que tumultuam o já complexo ambiente do esporte, a pretexto de interesses individuais duvidosos.

Incomodados com este cenário, que gera estagnação e atraso no esporte mais popular do país, as Oito Federações Estaduais e os 30 Clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro aqui signatários se uniram e iniciam um movimento único e inédito. Estamos convictos de que o Futebol Brasileiro necessita de uma mudança efetiva, com um projeto moderno e ambicioso, e manifestamos, por meio desta carta, apoio público à eleição de Reinaldo Carneiro Bastos à presidência da CBF para o próximo ciclo.

Nos colocamos à disposição da FIFA e CONMEBOL, que, atentas, vêm ao Brasil no próximo mês para acompanhar o processo eleitoral que será realizado. Estaremos unidos para apoiar a lisura e transparência deste processo, para que o Futebol Brasileiro saia de uma vez por todas desta situação lamentável em que se encontra.”

Zveiter conta com apoio do Rio e do Nordeste

Ex-presidente do STJD, Zveiter também oficializou sua pré-candidatura ao longo da última sexta-feira. O advogado fez parte da gestão de Ednaldo Rodrigues e atuou como vice-presidente de projetos especiais, mas por apenas oito meses. Ele conta com apoio do ex-mandatário. A Federação do Estado do Rio de Janeiro e federações do Nordeste declaram apoio ao candidato, que busca agora novos apoios de clubes e federações para oficializar a candidatura.

Em artigo publicado na Folha de São Paulo, Zveiter defendeu a reconstrução da CBF para “resgatar o orgulho da seleção brasileira”. O advogado entende que é preciso fazer mudanças especialmente na estrutura de gestão da entidade. Ele sustenta três pilares de inovações: o fortalecimento de federações e clubes; a criação de uma liga “sólida” de clubes; e a estruturação de uma arbitragem de “alta performance”.

Na publicação, o pré-candidato ainda afirmou que o futebol brasileiro vive a “maior crise de sua história” e se colocou à disposição de “encarar e liderar” a missão de tornar o “futebol brasileiro grande novamente”. Zveiter também se declarou um defensor dos campeonatos estaduais.

O afastamento de Ednaldo Rodrigues

O Tribunal de Justiça decidiu destituir o mandatário do cargo por entender que um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre a CBF e o Ministério Público do Rio de Janeiro, em março de 2022, é ilegal. O documento, assinado pelo próprio Ednaldo Rodrigues, foi o que permitiu que fosse realizada a eleição que o colocou na presidência da entidade, com um mandato de quatro anos. Mas o imbróglio judiciário é bem mais antigo do que isso e começa em 2017. No plenário, a destituição foi aprovada por três votos a  zero. Os desembargadores Mauro Martins e Mafalda Luchese acompanharam o voto do relator Gabriel Zéfiro.

O processo judicial foi aberto em 2018, após o Ministério Público questionar uma Assembleia Geral da CBF que mudou as regras para as eleições na entidade, à época sob o comando de Marco Polo Del Nero. O MP contestou a mudança porque ela ocorreu sem a participação dos clubes na tomada de decisão.

Ednaldo Rodrigues foi afastado da presidência da CBF em 2023

Sob o novo regimento eleitoral, Rogério Caboclo foi eleito presidente da CBF para um mandato de quatro anos, desde abril de 2019 até abril de 2023. Em 2021, o ex-mandatário foi afastado do cargo por conta de denúncias de assédio sexual. A Justiça decidiu anular a eleição e nomeou o presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro, e o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, como interventores.

Esta decisão acabou sendo anulada pelo Tribunal meses mais tarde. Em agosto daquele ano, os vice-presidentes da CBF nomearam Ednaldo Rodrigues como presidente interino até a conclusão do mandato de Caboclo, em abril de 2023. Em do ano passado, o agora presidente deposto assinou um TAC com o Ministério Público do Rio de Janeiro para extinguir a ação na Justiça contra a CBF.

Foi graças a esse termo e às novas regras, que Ednaldo foi candidato único na eleição e acabou eleito presidente da CBF em 2022, para um mandato de quatro anos. A alegação do Tribunal de Justiça é que Ednaldo não poderia assinar o TAC na condição de interino, porque ele poderia se beneficiar do acordo

Foto de Eduardo Deconto

Eduardo DecontoSetorista

Jornalista pela PUCRS, é setorista de Seleção e do São Paulo na Trivela desde 2023. Antes disso, trabalhou por uma década no Grupo RBS. Foi repórter do ge.globo por seis anos e do Esporte da RBS TV, por dois. Não acredite no hype.
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