Brasileirão Série A

Pepa admite mágoa com SAF do Cruzeiro: ‘Não sei se pesa o Valladolid ter caído’

Demitido do Cruzeiro, Pepa ainda rebateu declarações do diretor de futebol Pedro Martins, negou problemas com jogadores e exaltou a torcida celeste

Demitido do Cruzeiro no final de agosto após longa sequência de resultados ruins, o treinador português Pepa concedeu entrevista à Globo, onde falou sobre sua saída do clube celeste. Apesar de dizer que não “falou nada” a ele no clube, o ex-técnico celeste admitiu estar magoado com a gestão da SAF da Raposa, liderada pelo ex-jogador Ronaldo Nazário, o Fenômeno, e revelou que seu desejo era ter continuado na Toca da Raposa 2.

Pepa, que chegou ao clube em março, após saída do uruguaio Paulo Pezzolano, negou que houvesse problemas com os jogadores, situação especulada na imprensa no momento de sua demissão, e garantiu que a demissão se deu somente pelos resultados em campo — o Cruzeiro havia vencido somente dois de seus últimos 17 jogos no momento do desligamento do treinador português. Segundo o técnico, a equipe vinha jogando bem e ele garantiu, ainda, que não ocorreram atritos com a direção azul celeste.

— Tudo, tudo, tudo. Não me faltou nada. A única coisa que me senti foi um pouco desapoiado. Você treina o Cruzeiro, com 11 milhões de torcedores, uma paixão louca. De repente, tchau, acabou. Se fosse por confusão com jogadores, com direção, com más exibições… aí, sim. É uma grande mágoa — disse o treinador.

Apesar da negativa, jogadores como o volante Wallisson e o meia Daniel Jr deixaram o Cruzeiro irritados com uma suposta falta de oportunidades dadas por Pepa à dupla. Enquanto o primeiro citado queria aparecer entre os titulares, o segundo sentia que merecia mais minutos de jogo. O português falou sobre esses atletas em específico e negou enfaticamente que houvesse tais problemas de relacionamento. Apesar disso, pessoas próximas aos jogadores confirmaram a insatisfação.

— Algumas coisas chegam aos seus ouvidos. E quando vieram me falar de mau ambiente no vestiário, é completamente mentira. E não é que há necessidade de vir aqui desmentir, mas é mentira. Ambiente fantástico com tudo e com todos, com jogadores, estrutura, direção, funcionários, segurança, porteiro, pessoal da limpeza, da cozinha, de tudo — disse Pepa.

Pepa durante sua passagem como treinador do Cruzeiro
Pepa garante ter mantido boas relações internas durante toda sua passagem no Cruzeiro – Foto: Robson Mafra/Icon Sport

— Que fique bem claro: dos jogadores que jogam menos até o mais, falavam do Wallisson, do Neto (Moura), Nikão, nada (de problema). Quando tem cobrança, tem cobrança. Quando era para ficar com jogadores, ficava com os jogadores e eu. Agora, que tínhamos um ambiente, tínhamos. Tínhamos um grupo bom, de ambiente, trabalho, exigência, era fantástico. Grupo de trabalho era muito bom — completou o treinador português.

Queda do Valladolid

Pepa acredita ainda que a queda do Real Valladolid, clube de Ronaldo no futebol espanhol, pode ter influenciado em sua demissão. Após trocar de treinador durante a temporada — José Rojo “Pacheta” deu lugar ao uruguaio e ex-cruzeirense Paulo Pezzolano —, a equipe espanhola seguiu tendo maus resultados e acabou rebaixada pela segunda vez na gestão do Fenômeno.

A queda colocou muita pressão sobre a gestão do “Pucela”, apelido do Valladolid, com boa parte dos torcedores espanhóis tendo ficado desacreditada do trabalho de Ronaldo, quem acusam de mentir, por ter afirmado ao comprar o clube espanhol que o projeto era de colocar a equipe nas competições internacionais.

— Os resultados não estavam sendo os melhores. Alguns ruídos externos, alguma pressão externa, ok. Não sei se pesa em quem decide, o fato de o Valladolid ter caído no ano passado. Não sei. Resultados são nossa vida. Treinador vive de resultados — especulou Pepa.

É fato que dois rebaixamentos nos dois clubes que gere, em dois continentes diferentes, num período de aproximadamente seis meses, colocaria em xeque a atuação de Ronaldo como cartola. Além disso, o grande objetivo do Cruzeiro em 2023, de se manter na primeira divisão nacional e buscar uma vaga em competições internacionais, teria uma falha monumental.

Mesmo com sua demissão e enxergando falta de convicção no projeto celeste, Pepa se mostrou otimista com as possibilidades da Raposa na temporada. Ele ainda negou que tenha faltado energia durante seu trabalho.

— Se com a situação dos últimos resultados, se isso criou muito ruído ou muita pressão para a decisão que foi tomada em quem decide e quem manda, isso eu não sei. Não faço a mínima ideia. Que eu estava cheio de energia, igual, eu estava. Eu estava cheio de energia, de vontade. Eu estava. Eu não tenho dúvidas de que o Cruzeiro vai atingir os seus objetivos. Minha única dúvida é se é Libertadores ou Sul-Americana. Sinceramente. A distância para a Libertadores é só um pouquinho. Não é nada do outro mundo — falou Pepa, contrariando a declaração do diretor de futebol Pedro Martins na entrevista coletiva de apresentação de Zé Ricardo como treinador.

Na ocasião, Martins afirmou que a diretoria celeste sentiu falta de energia vinda do treinador português no dia a dia dentro do Cruzeiro. Pepa voltou a negar o fato, se dizendo surpreso com as declarações do diretor de futebol.

— Por opção, não vi a coletiva do Pedro. Estou a ser apanhado de surpresa. Até fico um pouco assustado com isso. Não é responder a alguém, não é uma coisa grande. Mas a gente treinava pra c*, a gente treinava muito. Aquele grupo treina muito — declarou.

Projeto do Cruzeiro

Demitido após a pesada derrota por 3 a 0 para o Grêmio, que enfatizou o mau momento do clube — em muitas partidas, o Cruzeiro não venceu mas jogou melhor que seus adversários, até enfrentar o Tricolor Gaúcho, onde foi amplamente dominado e poderia ter voltado para Belo Horizonte com um placar ainda mais elástico —, Pepa acredita que faltou respaldo da direção celeste num momento mais complicado como este. Ele entende que a crença no projeto, tão enfatizada pelos gestores cruzeirenses, não foi colocada em prática num momento de maior turbulência.

— Da mesma forma como foi explicado sobre a força do projeto, se em algum momento acontecesse de perder por 3 a 0, chegar e falar: meus amigos, esse é nosso treinador, é ele até o final da temporada. Seja com 3 a 0, 4 a 0, 5 a 0, ele vai ser nosso treinador, porque foi escolhido e nós acreditamos — falou Pepa.

Apesar da mágoa, o treinador celeste deixou claro que torce pelo sucesso do clube e disse acreditar que o time está no caminho certo. Para ele, o Cruzeiro é capaz de enfrentar qualquer adversário e que por alguns detalhes poderia estar em situação melhor no Brasileirão.

— O Cruzeiro joga, seja com quem for e aonde for, para ganhar e olhando nos olhos. Há momentos bons, momentos menos bons. Não se pode é prolongar esses momentos ruins por muito tempo. Os resultados não foram os melhores, mas a confiança é total. Calma, calma. Não há nenhum terremoto, nenhum tsunami. Parece que ficou tudo muito nervoso. É bom ficar assim, mas calma. Confiança no trabalho, porque as coisas estão sendo bem-feitas. Com o Zé Ricardo, o grupo vai pegar rápido e vai conseguir um bom trabalho. Não tenho dúvida disso — apontou.

Pepa sorri durante partida do Cruzeiro
Apesar da história não ter tido um final feliz, Pepa cativou por sua simpatia, carisma e educação durante a curta passagem pelo Cruzeiro – Foto: Gilson Lobo/Icon Sport

Pepa elogia torcida do Cruzeiro

Por fim, o treinador rasgou elogios aos cruzeirenses e disse entender as críticas e vaias nos momentos mais difíceis. Segundo o português, sempre foi tratado com respeito por torcida e imprensa, e deixou seu agradecimento.

— Não quis falar muito sobre a torcida para não parecer que estava puxando saco. Até achei estranho. Ninguém nunca me tratou mal. Perdemos ou empatamos, e eu gosto de ir à rua, ao café, ao boteco, ao restaurante. Gosto de ver o olhar da pessoa, a cobrança. Ninguém nunca me tratou mal. Uma coisa é dizer que um não faz gol, que aquele outro está mal, mas a outra é falta de respeito. Ninguém nunca me tratou assim. Por isso que a torcida do Cruzeiro merece só meu agradecimento por todo o apoio. Vaiou no estádio, após o final? Se eu estivesse lá, também faria. Isso é normal, desde que apoiem durante os 90 minutos. Acho ruim quando não gostam quando o jogador vai entrar, quando assobiam quando ele toca na bola. Isso não ajuda ninguém. Mas, acabou o jogo, fomos eliminados pelo Grêmio na Copa, mas fomos aplaudidos de pé. Contra o Fluminense, também. O mesmo contra o Botafogo — finalizou o treinador português.

Foto de Maic Costa

Maic CostaSetorista

Maic Costa é mineiro, formado em Jornalismo na UFOP, em 2019. Passou por Estado de Minas, No Ataque, Superesportes, Esporte News Mundo, Food Service News e Mais Minas, antes de se tornar setorista do Cruzeiro na Trivela.
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