Brasileirão Série A

Milito exigir mais após passeio do Atlético-MG escancara diferença para Felipão

Atlético-MG já apresenta bom rendimento com novo técnico, mas argentino quer ainda mais desempenho

Sete jogos. Nenhuma derrota. Um título. Primeira vitória contra o rival na casa nova. Um time que joga com gana, pra cima e com vontade. Qualquer treinador nessa situação está em condição de esbanjar sua satisfação com o time que comanda. Mas Gabriel Milito, técnico do Atlético-MG, quer mais do time, mesmo após o passeio no clássico contra o Cruzeiro neste sábado (20), e isso escancara de vez a diferença entre ele e Felipão, ex-comandante atleticano.

Felipão era um treinador que se dizia, pelo menos publicamente, satisfeito com tudo no Atlético. O time jogava mal e conquistava o resultado? Ótimo, é o que importa. Jogava mal e não vencia? Méritos do adversário — mesmo que ele seja o lanterna e a pior defesa da competição e você o mandante da partida. Poucas vezes se viu um Scolari que admitia o Galo mal e que precisava melhorar.

Nas coletivas, sempre as mesmas palavras e explicações (ou falta delas), que deixavam uma sensação de que ele estava satisfeito com tudo, inclusive com o desempenho do time, que foi ruim em boa parte dos jogos, mesmo os que venceu.

Diante disso, o Atlético optou por mandar embora o experiente treinador brasileiro e contratar Gabriel Milito, e, em menos de um mês, ele já escancarou a diferença — em campo e fora — com relação a Scolari, e isso ficou mais evidente ainda após o clássico deste sábado.

Satisfeito e sem explicação x Pode mais e explicativo

O Atlético disputou dois clássicos contra o Cruzeiro sob o comando de Felipão e perdeu ambos jogando muito mal. Para piorar, os dois na Arena MRV. Depois desses “desastres”, Felipão não soube explicar porque o Galo não venceu e irritou a torcida ao elogiar o time da Raposa, considerado bem mais fraco que o do Alvinegro. Além disso, a sensação de que essas derrotas não incomodaram como deveriam ficaram no ar após as coletivas do treinador.

Já Milito fez três clássicos: empatou um e venceu dois, conquistando o título mineiro e a primeira vitória atleticana no duelo na Arena MRV. Após todos, mesmo o do título, o treinador sempre falou em melhorar, mesmo que o Galo já tenha sido superior neles, e não foi diferente após o passeio atleticano neste sábado.

Estou muito feliz pelo rendimento e pelo resultado, mas, claro, há sempre o que melhorar. Não é porque ganhamos que está tudo bem. E não por termos empatado com o Criciúma que estava tudo mal. Eu, como treinador, e os jogadores, precisamos aprender com as distintas situações que vão ocorrendo — Gabriel Milito.

— Creio que, os times sempre têm margem de melhora. Com o tempo, jogaremos cada dia melhor, podendo sustentar muito mais do que fizemos no primeiro tempo. Tenho muitas coisas na cabeça, mas o importante é transmitir isso com clareza para os jogadores, individual e coletivamente, para unificar uma ideia — disse o argentino.

O treinador analisou a partida como um domínio “já imaginado” no primeiro tempo e um jogo mais de controle e contra-ataque no segundo. Não é exatamente o que ele gosta, mas é o que dá pra fazer — e já é muito perto do que vinha apresentando antes — com o pouquíssimo tempo de trabalho dele.

— Nossa intenção é dominar o jogo os 90 minutos. Jogamos sete jogos em 20 dias. É muito jogo e pouco treino. Mas, cada dia o time joga melhor, mais perto do que queremos. Tento transmitir e convencer os jogadores para jogar dessa maneira. Sobretudo porque, com a qualidade deles, sei que podemos. Mas, no futebol, nem sempre podemos dominar os 90 minutos. A intenção é essa, mas há momentos em que é importante se defender, e essa parte é necessário fazer bem. E hoje a equipe fez muito bem — destacou o argentino.

Não só o pedir mais do time, mesmo com ele dominando o adversário e controlando o jogo, faz de Milito ser diferente de Felipão, mas também as explicações sobre suas ideias de jogo. Scolari parecia não ter paciência para explicar o motivo de ter escolhido X e não Y, ou de ter colocado A para fazer função de B. Milito, não. O explica tudo detalhadamente. Ele deu uma verdadeira aula ao esclarecer os motivos de ter colocado o volante Battaglia como zagueiro e de seus alas terem sido a mina de ouro da partida.

Milito e Felipão são verdadeiros opostos, e o Atlético agradece

Quando o Atlético contratou Felipão, surgiu o questionamento de porque ele havia sido escolhido, já que não tinha, em campo, nada a ver com o antecessor Eduardo Coudet, quem montou o time. O resultado foi o já citado desempenho ruim em boa parte da passagem do treinador.

Mas a escolha de Milito foi diferente. Pareceu acertada desde o início. Justamente por ser o oposto de Felipão, ou seja, mais parecido com Coudet. O time do argentino joga com vontade, tem alma, se dedica, quer ter a bola e dominar o jogo, entre outros pontos positivos que se assemelham não só ao estilo do elenco, mas também ao do Atlético, historicamente um clube muito mais com a cara do futebol de Milito do que de Felipão — e isso era óbvio para (quase) todo mundo.

Ter um treinador que faz o time jogar da forma que o atleticano gosta e que o elenco, pela qualidade que tem, pede, era o mínimo que o Atlético deveria ter pensado desde quando contratou Felipão. Foram nove meses praticamente perdidos e que pareciam que não poderiam ser recuperados, mas Milito mostra que podem, sim, mesmo em pouco tempo — no comando e de treinos.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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