Maurício Noriega: Reta final mostra que Brasileirão se decide nos jogos improváveis
É nos confrontos entre líderes e rabeiras que o destino do Brasileirão termina por ser traçado
Virou mantra dizer que o Campeonato Brasileiro tem 38 finais. Assim como vender cada confronto de times momentaneamente candidatos ao título como final de um torneio sem final. Desde que o principal campeonato entre clubes no Brasil se consolidou neste formato, também me achei no direito de lançar uma tese. A minha é a seguinte: ganha o Brasileirão quem deixa menos pontos pelo caminho contra equipes que jogam para não cair.
Neste texto você não encontrará uma montanha de dados estatísticos ou bizarrices da moda como “expectativa de gol”. Faço apenas observações baseadas na cobertura de todos os torneios desde a adoção da fórmula de pontos corridos, em 2003. Para mim, a análise do futebol não passa pela previsão do futuro, tampouco o culto ao passado usando os números como justificativa. Gosto de ver o campeonato pelo que o campeonato mostra no presente e no recorte bastante particular de situações que acontecem quase que exclusivamente no Brasil.
Brasileirão viveu fim de semana emblemático
Há um resultado emblemático: a vitória do Coritiba sobre o Inter por 4 a 3, no Beira-Rio. É o tipo de resultado jabuticaba, que se repete muito aqui no Brasil e é raro em grandes ligas europeias. Além do triunfo do Cuiabá sobre o Botafogo, o décimo colocado derrotando o líder fora de casa, sem dar bola para os 19 pontos que os separam na tabela. No caso de Inter e Coritiba a distância é de 15 pontos. O Coxa tem seis vitórias no Brasileirão. Apenas duas delas sobre adversários diretos na luta perdida contra o rebaixamento.
Claro que existem confrontos com roupa de final. Vem aí aquele que neste momento é o mais badalado: Botafogo x Palmeiras, no Nílton Santos. Líder contra vice-líder. A distância é de seis pontos, mas o Fogão tem um jogo a menos – duelo difícil, contra o Fortaleza, fora de casa. O torneio é de oscilações por definição. O Botafogo oscila na reta de chegada, e o Palmeiras corrigiu a rota após quatro saídas de pista. Mas há outros confrontos que se misturam à final teórica. O Palmeiras sai de casa para enfrentar, além do Botafogo, Flamengo, Fortaleza e Cruzeiro. O Botafogo ainda enfrenta Bragantino e Grêmio, também postulantes ao título, mas tem duelos de absoluta tensão contra o rival Vasco e o Santos, que lutam desesperadamente pela permanência na Série A.
Não existe tabela fácil no Brasileirão
A tabela que é vendida como tranquila muitas vezes é a mais difícil de todas.
O Botafogo que reinou absoluto como mandante em boa parte do campeonato foi destronado dessa lista pelo Fluminense. Os mais indigestos visitante são Galo e Flamengo. Na mesma rodada em que se enfrentam líder e vice-líder há confrontos muito interessantes envolvendo do terceiro ao sexto colocados. O Bragantino, terceiro, enfrenta o Goiás, desesperado, em Goiânia. O Grêmio, quarto, vai a Curitiba enfrentar o turbinado Coxa que venceu o Inter em Porto Alegre. O Flamengo recebe o Santos, que tenta se manter com o pescoço fora da água. No balanço das horas tudo pode mudar, ensinava o Metrô nas baladinhas da minha adolescência.
Uma derrota do Botafogo para o Palmeiras pode ser menos dolorosa que o tropeço para o Cuiabá. A trocação na parte de cima da tabela é mais comum. Um empate entre Bota e Verdão pode abrir o caminho para Bragantino, Flamengo ou Grêmio. Por isso eu procuro vislumbrar na tabela os confrontos traiçoeiros nos quais as onipresentes casas de apostas pagam alto por vitórias improváveis. Porque no meu DataNori particular é nessas partidas que o campeonato toma seu rumo definitivo. Contra todas as probabilidades, canta meu ídolo Phil Collins.