Desequilíbrios do Grêmio em 2023 induzem Renato a discursos viciados
Apesar de ano positivo e maduro no Grêmio, Renato ainda desliza em alguns discursos quando questionado sobre desequilíbrios de sua equipe

Inegavelmente, 2023 tem sido marcado pela fase mais madura de Renato Portaluppi enquanto treinador de futebol. Em ano de reconstrução do Grêmio, voltando da Série B do Campeonato Brasileiro, o comandante se reinventou taticamente ao menos três vezes ao longo da temporada, o que resultou no título gaúcho, na chegada à semifinal da Copa do Brasil, e em campanha de G-4 no Brasileirão.
Ao mesmo tempo, Renato tem adotado postura mais ponderada no geral. Evita falas como a de ‘melhor futebol do Brasil', e reconhece quando sua equipe não vai bem e/ou o adversário é superior. Outro exemplo ‘pé no chão' do treinador aconteceu na polêmica envolvendo a possível saída de Luis Suárez, em que se colocou entre a direção e o jogador, resolvendo também o conflito do clube com a imprensa.
Entretanto, o treinador e ídolo gremista aindá dá algumas deslizadas em seus discursos. Isso tem sido motivado especialmente pelos questionamentos sobre os desequilíbrios do Grêmio no Campeonato Brasileiro.
Falta de competitividade do Grêmio fora de casa
O principal deles envolve a discrepância de desempenho do Tricolor Gaúcho dentro e fora de casa. O Grêmio é o 3º melhor mandante da competição, com 82% de aproveitamento. Mas, como visitante, detém apenas a 10ª melhor campanha, com 33% de aproveitamento.
— Dentro da Arena o Grêmio é mais intenso. Mas fora de casa enfrentamos adversários que buscam algo no campeonato. Não tem jogo fácil — resumiu Renato após o empate com o Fortaleza, no último sábado (30), no Castelão.
Com mais indignação, discurso semelhante foi utilizado pelo treinador após as derrotas para Vasco, Santos e Bragantino. Naquelas ocasiões, bateu na tecla da falta de entrega e competitividade de alguns jogadores e disse, mais de uma vez, que a fila iria andar.
Mas se o diagnóstico existe, por que o problema ainda não foi solucionado? Será que a avaliação não é simplista demais?
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Ataque x defesa
Outra curiosidade da campanha gremista no Brasileirão envolve o número de gols marcados e sofridos. Após 25 rodadas, o Tricolor Gaúcho é dono do melhor ataque da competição, com 40 gols. Ao mesmo tempo, sofreu 32, o que configura a sexta pior defesa.
Esse desequilíbrio ficou escancarado no empate em 4 a 4 com o Corinthians, há duas semanas. Na ocasião, Renato reduziu os problemas defensivos apresentados pelo Grêmio ao apagão no final do primeiro tempo, em que sofreu três gols.
Após a vitória por 1 a 0 sobre o Palmeiras, o próprio treinador trouxe à tona essa discussão sobre o elevado número de gols feitos e sofridos pelo seu time. Atribuiu à ofensividade da equipe, o que, segundo ele, naturalmente gera espaços para o adversário. Afirmou que é a forma que gosta de jogar, e que não se importa de ser muito vazado, desde que balance mais as redes do que o adversário. Discurso parecido foi utilizado depois do empate com os reservas do Fortaleza.
— Alguém consegue observar de que maneira a gente joga? O quanto é ofensivo o time do Grêmio? Muitos jogadores não têm aquela característica de marcação. Como eu gosto da bola, de jogar para frente, de buscar o gol, é um risco que a gente corre. Para mim é muito fácil tirar dois atacantes, colocar mais dois jogadores de marcação no meio de campo, e nós vamos ter intensidade. Mas como eu gosto de jogar para frente… se vocês contarem nos dedos vão encontrar duas equipes, e olhe lá, que joguem tão ofensivamente como meu time. Então, no momento que você joga para dentro do adversário, em busca do gol, é lógico que você vai deixar espaços, porque tem um time bastante ofensivo — avaliou Renato.
Sem abrir mão da ofensividade, é possível defender melhor
Mas será que é impossível se defender bem mesmo tendo um time ofensivo? Com boa transição defensiva, não. O perde-pressiona gremista tem sido pouco efetivo, especialmente nos jogos fora de casa. Com isso, à medida que ataca com sete, ou até oito jogadores, o Tricolor Gaúcho fica muito exposto aos contra-ataques do adversário. Foi assim no segundo tempo contra o Fortaleza.
Ao mesmo tempo, a organização defensiva da equipe de Renato apresenta problemas ao longo da temporada. Em muitos jogos, a falta de compactação entre os setores deixa grande espaço entre as linhas de marcação. Soma-se a isso a falta de combatividade, por característica, de alguns jogadores.
São os casos, por exemplo, de Nathan e Cristaldo, que têm sido titulares nos lados da segunda linha de quatro. E aí entra o paradoxo da fala de Renato: sacar ou reposicionar um dos meias, colocando mais um atacante, tende a deixar a equipe mais equilibrada. Aconteceu no segundo tempo das partidas contra Cuiabá e Palmeiras, em que o Grêmio se defendeu melhor com Galdino e Ferreira pelas beiradas.