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Filipe Machado conta como sua história e a do Cruzeiro têm se confundido

Autor do gol da vitória do Cruzeiro sobre o Vasco neste fim de semana, Machado fala com exclusividade com a Trivela

O Cruzeiro passa por profundas mudanças nos últimos cinco anos. Um rebaixamento inédito na Série A do Campeonato Brasileiro, duas temporadas em que o time ficou mais próximo de cair para a Terceira Divisão nacional do que de voltar à elite, a venda do clube para o ex-jogador Ronaldo Nazário, o acesso com título da Série B e a disputa da Primeira Divisão. O mundo celeste deu uma volta.

Quando o assunto é reviravolta, um jogador do Cruzeiro tem muito o que contar. Trata-se do volante Filipe Machado, de 27 anos, que assim como o clube que defende, passou por diversas transformações pessoais e profissionais no período. Além disso, esteve na Raposa em 2020, 2022 e continua em 2023, participando da frustrante campanha de estreia na Segunda Divisão, do alívio do acesso e do momento atual, em busca de consolidação na elite.

Machado falou com exclusividade à Trivela sobre sua trajetória nessas diferentes fases do Cruzeiro nos últimos anos. O jogador contou que apesar da temporada de 2020 ter sido difícil dentro e fora de campo, ele adquiriu grande identificação com o clube no período.

– Para mim é gratificante. A gente quando é pequeno sonha em ser jogador, em jogar num grande clube e eu estou tendo essa oportunidade, pela terceira temporada. O primeiro ano, 2020, foi muito difícil, com tudo que vinha acontecendo fora do campo. Essas coisas refletiam dentro do campo, nos resultados. Mesmo assim, em 2021, eu tive vontade de ficar aqui, porque me identifiquei com o clube, com os funcionários, mas infelizmente não deu – contou Filipe Machado.

– Voltei em 2022 e a gente conseguiu o objetivo principal, que era retornar à elite. Agora, poder desfrutar desse momento, a cada treino, no dia a dia, a cada jogo, me deixa muito feliz – continuou.

O jogador também falou sobre as mudanças que aconteceram entre suas duas passagens na Toca da Raposa. Segundo o camisa 23, a chegada de Ronaldo revolucionou o Cruzeiro.

– A diferença é que é outro clube. É totalmente diferente, com uma seriedade no que faz, dentro e fora do campo. As coisas são muito corretas e isso reflete em campo. Em 2020 as coisas não fluiam. Isso se tornavam derrotas, maus resultados. Com um trabalho sério e correto, as coisas começaram a acontecer – disse o volante.

Cruzeiro e Filipe Machado: caminhos se cruzam

Na virada de 2019 para 2020, as histórias de Filipe Machado e Cruzeiro tiveram grandes mudanças. O volante havia disputado a Série C pelo São José (RS), enquanto o time celeste se preparava para disputar sua primeira Série B. Nesse momento, surgiu o convite que mudaria para sempre a vida do atleta.

– A gente tem que estar preparado para quando aparecerem as oportunidades. Eu sempre estive preparado, apesar de agora estar mais maduro, profissional e pessoalmente. O Tinga, na época, conhecia meu empresário, me conhecia, a gente conversou. Na época era o Adilson Batista o técnico, ele consultou o Roger Machado, que foi quem me subiu para o profissional no Grêmio. Eu fiquei muito feliz com o convite e não pensei duas vezes (em ir para o Cruzeiro) – falou Machado.

Segundo o camisa 23, o Cruzeiro estar vivendo uma situação ruim, esportiva e financeiramente, não impediu que ele aceitasse a proposta, que considerou importante para sua carreira.

Filipe Machado em 2020, jogando pelo Cruzeiro
Filipe Machado com a camisa do Cruzeiro, em 2020 – Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro

Um ano de frustrações

Mesmo com uma campanha ruim do Cruzeiro na Série B de 2020, onde o time celeste esteve mais próximo de cair para a Terceira Divisão do que subir para a Primeira, Filipe Machado teve certo destaque. O volante terminou o ano com 37 jogos, dois gols e sete assistências.

O bom rendimento de Machado dava indícios que o jogador teria um 2021 de sucesso, mas a expectativa acabou dando lugar a uma série de frustrações. Primeiro, o camisa 23 não foi liberado pelo Grêmio para seguir no Cruzeiro, contrariando o desejo do atleta.

– Eu não queria ter saído, a minha vontade era ter ficado. Infelizmente não deu, mas Deus sabe de todas as coisas – revelou.

De volta ao Grêmio, Filipe Machado esperou receber oportunidades, já que o clube gaúcho pediu seu retorno, mas elas nunca vieram. Nem a má fase do Tricolor, rebaixado naquele ano, fez com que algum dos quatro treinadores que passaram pelo clube dessem minutos ao volante.

– Foi muito difícil. Eu tinha feito um campeonato bom e esperava ter uma sequência. Eu tinha poucos jogos pelo profissional do Grêmio, apenas nove, então já deu um salto. Com 37 jogos na temporada 2021, esperava ter uma sequência. Queria ter ficado no Cruzeiro, o Grêmio não liberou, voltei para lá e não fui aproveitado. Fiquei treinando um ano inteiro, praticamente parado, sem jogar, treinava sozinho – desabafou Machado.

Em 2021, o jogador ainda passou por um drama extracampo. Machado passou complicações ocasionadas por sequelas da Covid-19, tendo que submetido a uma cirurgia no pulmão. A continuidade da carreira do atleta chegou a ficar em xeque. Assim como o Cruzeiro, o volante viu o fim de tudo se aproximar, mas deu a volta por cima. No fim de 2022, os problemas no pulmão voltaram a aparecer, mas o jogador foi novamente operado e, após perder o início da temporada de 2023, voltou com tudo.

Sem Filipe Machado, o Cruzeiro seguiu seu calvário na Série B e a expectativa de acesso à elite do futebol nacional logo se tornou medo de uma queda para a Série C. Mais um ano de frustração para a torcida que desejava retornar à primeira divisão. Clube e atleta compartilharam sentimentos mais uma vez. Mesmo à distância.

Filipe Machado durante treinamento no Cruzeiro
Machado disse ter muitos sonhos, mas apesar de estar voando cada vez mais alto, prega pés no chão e foco total – Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Retorno à Série A

Em 2022, Machado voltou ao Cruzeiro para continuar sua história no clube. Após um início de temporada instável, o time comandado pelo uruguaio Paulo Pezzolano engrenou e passou a atropelar os adversários na Série B, conquistando o acesso e o título da Segunda Divisão.

– Vou ser eternamente grato ao Cruzeiro por tudo que eu vivi no ano passado. Aqui dentro a gente sabia que iria alcançar o objetivo de voltar à Série A. Poder marcar o primeiro gol no jogo do acesso, ver o Mineirão lotado, pessoas chorando, é muito gratificante – contou.

Filipe Machado, que tem 97 jogos disputados com a camisa do Cruzeiro, ressaltou, ainda, o carinho que a torcida celeste tem para com ele.

– É bom sair na rua e as pessoas me agradecerem. Muitas vezes já vi pessoas chorando, me agradecendo pela entrega, pelo carinho que eu tenho pelo clube. E agora, perto de completar 100 jogos, faltam três, com a camisa do clube, é mais uma marca importante para mim, mais um sonho realizado – disse Machado.

Com o acesso à Série A, conquistado após campanha arrasadora na segunda divisão, clube e volante retornaram à elite após anos. A última partida de Machado na competição havia sido em 2017, quando tinha 21 anos.

– A gente sempre quer estar jogando campeonatos grandes, Série A, Copa do Brasil, campeonatos sul-americanos e para mim está sendo muito bom. Estou muito feliz de estar jogando aqui, eu, Rafael Cabral, Oliveira, Neto Moura, o pessoal que ficou do ano passado. Subir com o clube e dar continuidade na Série A é muito importante. Quer dizer que o trabalho foi bem feito – falou o jogador.

Relação com Pepa e Pezzolano

Machado falou sobre o trabalho dos treinadores Pepa, atual comandante do Cruzeiro, e Paulo Pezzolano, técnico do clube na conquista da Série B 2022. Segundo o volante, o uruguaio teve papel fundamental em seu crescimento como jogador.

– Cada treinador tem a sua mentalidade, seu estilo de jogo. O Pezzolano foi um cara que todo mundo dizia que era meu pai, por ter me ajudado bastante no momento difícil em que eu machuquei no início do ano de 2022 e perdi o final do Campeonato Mineiro e o início da Série B. Ele conversava bastante comigo, me passava muita confiança. Tenho um carinho enorme por ele, porque me ajudou a melhorar taticamente e me fez entender a importância da tática no futebol de hoje – contou.

– Ele falava que a gente era muito parecido, muito sanguíneo. Ele sempre estava ativo, gritando, gesticulando na beira do gramado. Ele costumava dizer que eu era um reflexo dele dentro do campo. Sou um cara que me entrego dentro do jogo, a cada bola. Sou eternamente grato a tudo que ele fez por mim aqui – continuou.

Filipe Machado também falou sobre Pepa, atual treinador do Cruzeiro, elogiando a forma do português trabalhar.

– Agora estamos dando continuidade com o Pepa. O Pezzolano era um cara mais sanguíneo, o Pepa é mais tranquilo, mas está sempre conversando, no dia a dia, com a gente, em particular, com todo mundo. Sempre tem esse diálogo. Ele sempre deixou bem claro que com conversas a gente pode resolver muita coisa, pode acertar detalhes durante os treinos, no decorrer dos jogos. Estou muito feliz de poder ter trabalhado com o Pezzolano e agora estar trabalhando com o Pepa – explicou.

Filipe Machado fala sobre sonhos

Por fim, perguntado sobre seus sonhos e objetivos na carreira, Filipe Machado afirmou que tem seus ideais e expectativas, mas que vive cada dia de forma única. Segundo ele, o Cruzeiro possibilita que ele dê boas condições de vida para sua família, o que considera o mais importante.

– Eu tenho vários sonhos, mas procuro viver o presente. Hoje estou aqui no Cruzeiro, estou muito feliz, tendo uma sequência de jogos. O meu sonho é ver minha família bem, meus filhos com saúde, poder proporcionar coisas boas para eles. Então é viver o hoje e o que vier pela frente só Deus sabe. Estou preparado para o que vier. Sempre trabalhando firme – finalizou o volante.

Atualmente na Série A do Brasileirão, Filipe Machado se destaca. O volante tem 14 jogos, atuou em todas as rodadas, marcando um gol e dando três assistências. Ótimo na cobrança de bolas paradas, o jogador acumula um gol e três assistências na competição.

Machado foi, inclusive, o autor do gol da vitória do Cruzeiro sobre o Vasco, fora de casa, no último sábado (8). De falta, o jogador fez um lindo gol, que garantiu o 1 a 0. O volante já havia marcado de forma semelhante pela Raposa, durante a Série B de 2020.

Foto de Maic Costa

Maic CostaSetorista

Maic Costa é mineiro, formado em Jornalismo na UFOP, em 2019. Passou por Estado de Minas, No Ataque, Superesportes, Esporte News Mundo, Food Service News e Mais Minas, antes de se tornar setorista do Cruzeiro na Trivela.
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