Cinco motivos para que Paulo Autuori utilize mais a base no Cruzeiro na fuga contra o rebaixamento
Paulo Autuori assume um Cruzeiro em crise, faltando somente seis jogos para o fim do Campeonato Brasileiro e terá Fernando Seabra em sua comissão
Anunciado como treinador interino do Cruzeiro até o final do Campeonato Brasileiro, o veterano treinador Paulo Autuori já trabalha como os jogadores do time celeste. Todos os atletas disponíveis do elenco da Raposa estão em Itu, no interior de São Paulo, em preparação para a partida de sábado (18), contra o Fortaleza, na Arena Castelão.
Dentre os atletas disponíveis, está o grupo de jogadores promovidos das categorias de base do Cruzeiro para o elenco principal, sendo ele: o zagueiro Ruan Santos, os meio-campistas Japa e Henrique Rodrigues, os pontas Robert e João Pedro, além do atacante Fernando. Outros atletas com passagens pelo sub-20 celeste, mas que já fazem parte do elenco há mais tempo, como o lateral-esquerdo Kaiki, o volante Ian Luccas e o ponta Stênio também viajaram para a cidade paulista.
Cito os atletas da base pois, desde a passagem de Pepa pela Toca da Raposa 2, há um clamor para que os jovens recebam mais oportunidades no Cruzeiro. As campanhas vitoriosas em diversos torneios de base na temporada, a qualidade da safra de atletas e o momento ruim do time, que ocupa a zona de rebaixamento no Brasileirão e o sucesso de revelações de outras camisas do campeonato são alguns dos motivos de justificam o desejo de mais oportunidades para as promessas celestes.
Cuidado para não queimar os jovens
No Cruzeiro, os garotos oriundos das categorias de base têm recebido poucos minutos, ainda que a parte mais experiente do plantel não venha correspondendo em campo. Internamente, a ideia é de cautela com os jovens jogadores, para que eles não paguem o preço da temporada ruim da equipe e sejam queimados em caso de desempenho ruim. Tanto Pepa, quanto Zé Ricardo e, agora, Paulo Autuori, utilizaram destes argumentos quando questionados sobre a possibilidade de mais oportunidades para os crias.
— No futebol, já vi momentos em que torcedores e a imprensa pedem oportunidades aos jovens em momentos difíceis em relação a resultados. Aí, os jogadores entram e não vão bem em dois, três jogos. Você sabe a quantidade de jogadores como esses que eu já vi serem descartados? E que, depois, estouram em outros clubes. E perguntam: ‘Por que o jogador não está aí? — disse Paulo Autuori, em sua coletiva de apresentação como treinador interino do Cruzeiro.
Apesar das palavras, o técnico ressaltou que nos trabalhos que fez, abriu espaço para os jovens jogarem, afirmando que em todos os clubes pelos quais trabalhou, deu oportunidades a revelações.
Sobre o uso da base, Autuori pregou cautela para não queimar os garotos, assim como seus antecessores. Apesar disso, disse acreditar nos jovens e afirmou ter dado oportunidades para a base em todos os times em que passou.
— Maic Costa (@omaiccosta) November 14, 2023
Ainda que a cautela faça sentido e que realmente muitos jogadores acabem queimados por momentos ruins de suas equipes, é preciso, também, ter ousadia para que o tempo de utilização dos nomes não passe. Além disso, no Cruzeiro há uma evidente escassez de bons nomes e alguns atletas, como é o caso do excelente meio-campista e lateral-esquerdo Japa, já demonstram certa maturação para ganhar oportunidades.
Numa situação tal qual a atual, é preciso notar, também, que os atletas que vêm atuando carregam grande pressão e muitos deles recebem críticas e vaias a cada erro cometido. Possivelmente, o torcedor teria mais paciência com erros de jogadores em fase de maturação do que com aqueles que vêm falhando sistematicamente durante a temporada.
🎙️RESUMO DA COLETIVA DO PAULO AUTUORI
Nesse fio trarei um pequeno resumo das respostas de Paulo Autuori em sua coletiva de apresentação como treinador interino do Cruzeiro. A @trivela está presente. Já vão deixando o like para não perder nada.
📸Cruzeiro/Reprodução pic.twitter.com/JxtNTu59U0
— Maic Costa (@omaiccosta) November 14, 2023
Pensando nisso, a Trivela listou cinco motivos que justificam que Paulo Autuori dê mais chances para os jovens promessas do Cruzeiro. Veja:
- Má fase dos atletas experientes
- Jovens mostraram suportar a pressão
- Postura dos jogadores do Cruzeiro
- Desfalques para os jogos
- Presença de Fernando Seabra na comissão técnica do Cruzeiro
Má fase dos atletas experientes
Quando pensamos no argumento de “não queimar os jovens jogadores”, vimos algo que, repito, faz sentido, mas isso passa a cair por terra quando existe a possibilidade clara das revelações entregarem mais do que aqueles que jogam com titulares, como foi o caso do volante Moscardo, no Corinthians. Num Cruzeiro onde o meio de campo se mostra muito instável, é possível crer que o excelente Japa daria conta do recado, como deu no clássico contra o Atlético-MG.
Se a Raposa definha com um ataque pouco confiante e nervoso, existe na base um homem de beirada que foi o artilheiro do ano no sub-20. Fernando chegou ao time profissional cheio de confiança e não teve oportunidades reais. Na zaga, o capitão do sub-20 Ruan Santos poderia ser uma opção mais constante — o jogador ainda não figurou nem no banco de reservas —, levando-se em conta que Neris e Castán têm falhado constantemente.
Com dois golaços do Luís Fernando, os #CriasDaToca conquistaram o título da Copa do Brasil Sub-20! 🏆
▶️ Vem conferir os gols por um outro ângulo!
🎥 @gustavomjpeg pic.twitter.com/toO7sTGw29
— Cruzeiro 🦊 (@Cruzeiro) October 15, 2023
Também é difícil pensar que alguns jovens não entregassem, no mínimo, o mesmo que atletas que costumam ter chances no decorrer das partidas, como Paulo Vitor, Mateus Vital e Wesley.
Jovens mostraram suportar a pressão
O argumento da cautela é testado mais uma vez quando se enxerga que alguns dos jovens da base do Cruzeiro corresponderam em ambientes de muita pressão. Sem Marlon, contra o Atlético-MG, o jovem Kaiki foi o escolhido para a lateral-esquerda e foi um dos melhores em campo.
O próprio Kaiki se lesionou no decorrer da partida e, sem muitas opções, Zé Ricardo mandou a campo o recém promovido Japa, que entrou e fez uma partida de gente grande, sendo elogiado por Zé Ricardo. Depois disso, não jogou um minuto sequer.
— Já estamos usando (os jovens jogadores). Entramos com Ian Luccas, Kaiki e Fernando contra o poderosíssimo Flamengo. É muito importante ter uma categoria de alicerce como a sub-20. Como estou morando na Toca 2 tenho a convicção que o trabalho feito é do melhor nível. O Japa entrou, nem no aquecimento ele tava, e entrou. Eu falei com ele para entrar e ficar quatro, cinco minutos para ganhar moral e na primeira bola ele já estava na linha de fundo. Ele tem muita personalidade para jogar. Tem coisa boa para o Cruzeiro aí na frente — avaliou Zé Ricardo, após Atlético-MG 0 x 1 Cruzeiro, no último dia 22 de outubro.
E naquele momento, a pressão era gigantesca, tal qual agora. O Cruzeiro vinha em péssimo momento, a torcida vinha protestando e o adversário da vez era o maior rival celeste, no primeiro clássico de sua nova arena.
No momento de desespero, quando não haviam outras opções, os jovens foram utilizados, independente do ambiente hostil e do momento ruim. E o mais importante, jogaram bem. Se portaram com muita tranquilidade. Creditar a falta de oportunidades à pressão parece um argumento insuficiente.
Postura dos jogadores do Cruzeiro
Em pronunciamento feito antes da entrevista coletiva de Paulo Autuori, o diretor de futebol do Cruzeiro, Pedro Martins, deu uma declaração séria, que chamou a atenção. Segundo ele, o treinador Zé Ricardo não foi demitido por seu dia a dia à frente do clube, mas pela entrega dos atletas nos jogos e, também, pela postura dos jogadores estar causando insatisfação interna.
— A troca está muito mais atrelada ao comportamento da equipe do que necessariamente ao trabalho em si, ao dia a dia do Zé Ricardo e da sua comissão. Tivemos desempenhos que oscilaram, bons jogos, jogos em que a gente viu que a equipe estava evoluindo, e outros nem tanto. Mas optamos por agir, agir pelo momento do clube na competição, agir pela nossa insatisfação em relação à postura de jogadores e da equipe como um todo, de maneira específica. E agir porque acreditamos que podemos fazer diferente — disse Pedro Martins.
Bem, se os atletas mais velhos do elenco não possuem postura de quem quer lutar pelo clube, talvez seja mais interessante buscar isso em jovens jogadores, ainda com muito para conquistar e que têm o Cruzeiro como parte importante de suas vidas, que conhecem o clube mais profundamente.
Desfalques para os jogos
Como é comum em campeonatos de pontos corridos, o Cruzeiro sofre com desfalques neste Brasileirão, por lesões e cartões. Contra o Fortaleza, Neris e Jussa não jogam por suspensão, e Lucas Silva fica de fora por estar machucado. A ausência dos titulares é uma oportunidade para que Paulo Autuori faça diferente do que os outros treinadores fizeram em suas passagens e aposte em atletas que não são cartas marcadas e que entregam pouquíssima esperança de sucesso.
Apesar disso, as declarações de Autuori em sua coletiva não foram muito otimistas para quem espera mudanças em relação aos trabalhos anteriores, muito elogiados pelo agora treinador interino, que já trabalhava no clube nas demissões de ambos, Pepa e Zé Ricardo.
— Eu, nessa função, junto com os dois treinadores (Fernando Seabra e Vinicius Rovaris), não vamos fazer nada de diferente, porque havia muito trabalho, de muita qualidade. E nem sempre trabalho de qualidade dá certo. Tem uma frase de um amigo meu que já faleceu, peruano, que diz: ‘o futebol é generoso, porque quem faz tudo para ganhar, não ganha. e quem não fez nada para ganhar, pode ganhar’ — disse Autuori, que ainda citou alguns jogos em que o Cruzeiro deixou pontos escaparem “no detalhe”.
Presença de Fernando Seabra na comissão técnica do Cruzeiro
Se há um nome que conhece profundamente as categorias de base do Cruzeiro, esse alguém é Fernando Seabra, treinador campeão mineiro e da Copa do Brasil com a equipe sub-20. Ele, juntamente com o auxiliar técnico fixo do clube, Vinicius Rovaris, trabalharão junto com Paulo Autuori até o fim do Brasileirão.
A presença de Fernando Seabra é uma oportunidade de ouro para que os jovens sejam mais utilizados e que atuem da forma em que o máximo possa ser retirado do futebol de cada um. É de se esperar que o Seabra confie nos garotos com os quais viveu uma temporada muito vitoriosa.
Com o time desfalcado e precisando de um “chacoalhão”, mudanças serão feitas para a partida contra o Fortaleza. Há a expectativa de que alguns dos garotos da base celeste ganhem novas oportunidades. Mas essa resposta só teremos uma hora antes do jogo em questão.