Brasileirão Série A

Pedido de suspensão da votação da SAF do Atlético-MG é indeferido; torcida protesta

23ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, onde o documento foi protocolado, não acatou o pedido

O Atlético-MG teve uma quarta-feira agitada. Menos de 24h antes da votação para transformar o clube em SAF, o Galo viu um conselheiro entrar com pedido para suspensão da mesma. No entanto, o pedido não foi acatado.

Conselheiro benemérito do Atlético, Paulo Nehmy protocolou na tarde desta quarta um pedido para a Justiça de Minas Gerais interferir e suspendera votação da SAF do Atlético, marcada para quinta (20) e sexta (21). Uma das alegações era o  de “conflito de interesse”, já que Ricardo Guimarães e Renato Salvador, que vão fazer parte do grupo que vai comprar majoritariamente o Galo, são presidente e vice-presidente do conselho do clube, respectivamente.

No entanto, a 23ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, onde o documento foi protocolado, não acatou o pedido, entendendo que não há esse conflito de interesse citado pelo conselheiro atleticano:

“Sobre tal perspectiva, compete aos Conselheiros a decisão a respeito do futuro do Clube, não ao Presidente do Conselho Deliberativo ou aos demais dirigentes. Assim, não vislumbro, por ora, nenhuma irregularidade a ser sanada neste ponto”, diz parte do documento de indeferimento.

Outra alegação feita por Nehmy foi a falta de tempo hábil para analisar a documentação sobre a SAF, que foi colocado à disposição em 10 de julho, ficando assim com 10 dias para análise. Nesse ponto, o judiciário entende que não pode “avaliar se tal prazo é suficiente ou não”, destacando ainda que é direito de cada conselheiro rejeitar a proposta.

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Protesto na sede do clube

Na noite desta quarta, como prometido, torcedores do Atlético se reuniram em frente à sede do clube, no centro de Belo Horizonte, para protestar contra a votação. Foram pouco mais de 100 pessoas que levaram faixas e bandeiras com dizeres como: “Largaram o Galo em 2022 e 2023 e ainda querem ser donos do clube. Vamos acordar torcedores!” e “4Rs e BTG inventam o preço e depois compram. Negociação santa ceia: todos do mesmo lado da mesa. Quem defende os interesses do CAM?”

Além disso, houveram cânticos contra os compradores da SAF, que são também os atuais gestores do clube, como: “Mecenas é só caô” e “Essa é de rir, querem comprar, mas não querem investir”.

Boa parte dos torcedores que foram até a sede protestar não são necessariamente contra a SAF, mas sim contra a forma como ela está sendo implementada, sem total transparência e “na correria”. Um torcedor, inclusive, fez um discurso forte sobre essa situação, cobrando mais explicações e que a torcida “acorde”:

O que incomoda a torcida do Atlético-MG sobre a SAF?

A torcida do Atlético reclama de falta de transparência sobre a implementação da SAF. O modelo foi anunciado há menos de três semanas e os torcedores entendem que não houve tempo suficiente para explicar tudo e esclarecer todas as dúvidas. Parte dos atleticanos já havia lançado uma contraproposta na última semana, e agora divulgaram também um manifesto.

O “Manifesto da Massa”, como foi chamado, traz sete propostas e 11 questionamentos e a hashtag “#SAFafadezaNão”. Os torcedores citam que a estrutura da SAF teve “recente e repentina guinada”, com os atuais gestores do clube, os 4Rs, sendo também os responsáveis por comprar a maior parte das ações. Nesse ponto, o documento cita “conflito de interesses”, mesmo questionamento de um conselheiro, que foi negado pelo CEO do clube, Bruno Muzzi.

O manifesto ainda mostra preocupação com o crescimento das dívidas do clube e com o fato de a SAF ser colocada como “suposta única solução”, além de citar promessas não cumpridas pelos empresários que vão comprar o Galo. Os responsáveis pelo documento também espalharam faixas de protesto por Belo Horizonte:

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O modelo da SAF do Atlético

O Atlético tinha como ideia inicial negociar 51% das ações de sua SAF para um investidor estrangeiro. O nome que sempre esteve em pauta foi do empresário norte-americano Peter Grieve, que teve participações no futebol de Zimbábue e Gibraltar. Após alguns meses sem uma definição, ele foi descartado para integrar o novo modelo.

O modelo de SAF que os gestores do Atlético optaram traz uma holding gerindo o clube. Serão vários empresários mineiros e atleticanos a investirem na SAF do Galo, dentre eles, claro, os chamados 4Rs, que já gerem o clube atualmente. São eles: Rubens Menin, Ricardo Guimarães, Rafael Menin e Renato Salvador.

Essa holding comprará 75% da SAF do Atlético com um aporte inicial de R$ 915 milhões – sendo R$ 300 milhões abatendo a dívida que o clube tem com os 4Rs. A Arena MRV e a Cidade do Galo estão inclusas. As dívidas do clube, que giram em torno de R$ 1,8 bilhão, serão todas de responsabilidade da SAF. A associação Atlético manterá 25% do clube, estádio e CT, além de 100% da sede e dos clubes sociais.

O resumo da SAF do Atlético

  • R$ 913 de aporte, sendo R$ 713 milhões dos 4Rs + R$ 200 milhões de dois fundos de investimentos;
  • Dentro dos R$ 713 milhões dos Rs, R$ 313 milhões serão abatidos nas dívidas do clube com eles, ou seja, vão aportar R$ 400 milhões;
  • A SAF fica com 75% e a associação com 25%;
  • Arena MRV e Cidade do Galo estão inclusas e serão repartidas da mesma forma (75/25);
  • Composição da SAF: 78% dos 4Rs, 11% de um fundo de investimento e 11% de outro fundo;
  • A dívida, de R$ 1,8 bilhão, fica inteiramente na conta da SAF.
Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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