Brasileirão Série A

SAF do Atlético-MG vai sair ou não? Entenda o porquê de tanta briga

Com data próxima, votação do SAF do Atlético-MG tem sido motivo de polêmica entre torcedores do time

O dia que antecede a votação para aprovação (ou não) do Atlético-MG se transformar em SAF está agitado. Faixas de protesto foram espalhadas por Belo Horizonte por um grupo de torcedores, que também criou um manifesto explicando os motivos de ser contra a votação. Por outro lado, o Galo enviou a seus conselheiros as explicações positivas sobre a mudança para clube-empresa.

A votação para a aprovação da SAF do Atlético está marcada para começar nesta quinta-feira (20) e correr até o fim da tarde de sexta (21). O evento acontecerá na sede do clube e de forma online, para conseguir englobar todos os conselheiros do clube. No entanto há parte da torcida que não concorda com esse tipo de votação.

O que incomoda a torcida do Atlético-MG sobre a SAF?

A torcida do Atlético reclama de falta de transparência sobre a implementação da SAF. O modelo foi anunciado há menos de três semanas e os torcedores entendem que não houve tempo suficiente para explicar tudo e esclarecer todas as dúvidas. Parte dos atleticanos já havia lançado uma contraproposta na última semana, e agora divulgaram também um manifesto.

O “Manifesto da Massa”, como foi chamado, traz sete propostas e 11 questionamentos e a hashtag “#SAFafadezaNão”. Os torcedores citam que a estrutura da SAF teve “recente e repentina guinada”, com os atuais gestores do clube, os 4Rs, sendo também os responsáveis por comprar a maior parte das ações. Nesse ponto, o documento cita “conflito de interesses”, mesmo questionamento de um conselheiro, que foi negado pelo CEO do clube, Bruno Muzzi.

O manifesto ainda mostra preocupação com o crescimento das dívidas do clube e com o fato de a SAF ser colocada como “suposta única solução”, além de citar promessas não cumpridas pelos empresários que vão comprar o Galo. Os responsáveis pelo documento também espalharam faixas de protesto por Belo Horizonte:

Os questionamentos feitos pelo Manifesto da Massa

  • TRANSPARÊNCIA: Por que após meses de “estudo” da SAF no modelo proposto anteriormente, o modelo atual deve ser decidido em poucos dias e sem os devidos esclarecimentos sobre diversos pontos (valuation, composição da dívida, regras de governança, acordo de cotistas e compromissos da SAF)?
  • VALUATION: Como explicar o próprio Atlético divulgar um valuation externo de R$ 3,2 bilhões e dias depois propor a venda em R$ 2,1 bilhões? Por que, de todos os valuations já apresentados, o menor foi escolhido na venda para os 4Rs?
  • CREDIBILIDADE: Como confiar no discurso de quem está à frente do processo, se colocando como vendedor e comprador, após tantas promessas que não se concretizaram nos últimos 2 anos?
  • CONFLITO DE INTERESSES: “O ideal é ter um investidor externo. Nós estamos na ponta da venda e ficaria meio estranho ficar na ponta do comprador. Entendo que se for do interesse do conselho, da torcida e do investidor nós podemos compor com o investidor a SAF do Galo. Pelo bem do Atlético e apenas para compor.” (Ricardo Guimarães). Quando a participação dos 4Rs do lado do vendedor e do comprador deixou de ser “estranha”? Qual a participação do BTG, atual credor do clube, no processo de venda da SAF?
  • OFERTAS RECEBIDAS: Muito se falou sobre investidores interessados, sondagens e propostas apresentadas pela SAF do Galo, mas nada foi efetivamente divulgado para torcida ou conselho. Quais foram, realmente, os investidores interessados? Quais foram as propostas apresentadas? Por que as tratativas não avançaram com nenhum dos investidores interessados? Quem foi responsável pela negociação com os potenciais investidores? As premissas adotadas para se iniciar as negociações foram aprovadas pelo conselho do Clube? A participação do atual conselho gestor na administração da SAF foi uma dessas premissas?
  • ARENA E CT: Inicialmente o conselho gestor se posicionava contra a inclusão da Arena e da Cidade do Galo na SAF. Por que agora, que o próprio conselho gestor se apresenta como comprador, foi feita a inclusão desses ativos? Como estão sendo computadas as dívidas da Arena, os recebíveis e as contrapartidas na SAF? Foram feitas avaliações de parcerias com outras empresas de forma a liquidar o endividamento da Arena? Quais as garantias de que no uso da Arena haverá prioridade para o time de futebol após a constituição da SAF?
  • DIAMOND: Segundo o Bruno Muzzi, em pronunciamento no dia 17 de agosto de 2022, o dinheiro da venda do Diamond Mall seria usado exclusivamente para abatimento de dívidas onerosas. Por que após a venda a dívida aumentou drasticamente? O que foi feito com o dinheiro do Diamond Mall? Como os valores ainda a receber da venda do shopping estão contabilizados no valuation da SAF?
  • ESTATUTO: Ainda em 2021, em uma live no canal do jornalista Breno Galante, Rafael Menin citou a necessidade da renovação do estatuto do Atlético. Por que a mudança do Estatuto do Clube não foi cogitada pelo Atlético, nem quando da venda da parte remanescente do Diamond, tampouco durante a criação da SAF?
  • LIGA: O Galo anunciou recentemente a mudança da LFF para a Libra. Sendo, até então, um dos principais defensores da LFF, o que levou o Galo a mudar de posicionamento? Considerando que os esclarecimentos dados pelo CEO do Atlético na coletiva do dia 13 de julho de 2023 foram amplamente desmentidos pela LFF, como o clube se posiciona em relação à nota oficial da LFF? A relação do clube com o BTG teve influência nessa decisão? Como as receitas futuras referentes aos direitos de transmissão negociados pelas ligas estão sendo consideradas no valuation da SAF?
  • FUTEBOL: Qual o projeto esportivo e financeiro pretendido para a SAF que está sendo apresentada? Quais as garantias de investimento e/ou resultado no futebol a SAF proporcionará?
  • DÍVIDAS: Dadas as possibilidades ofertadas pela Lei da SAF, por que o Atlético não optará pela adoção do RCE ou da Recuperação Judicial para pagamento de seus credores? Quem assume as dívidas, como o Clube será preservado e qual o plano de pagamento pela SAF?

As propostas sugeridas pelo Manifesto da Massa

  • SUSPENSÃO DO PROCESSO: O processo da SAF do Galo deve ser suspenso, imediatamente, por no mínimo 60 dias. Diante da falta de transparência e esclarecimentos das dúvidas, bem como da necessidade de melhor discussão para maturação do assunto, além do conflito de interesses existente, fato que afronta expressamente o Estatuto Social do Clube e macula completamente o processo, torna-se necessária e prudente a suspensão.
  • COMISSÃO DA SAF DO GALO: Se faz necessário estabelecer, imediatamente, uma Comissão Independente, formada por representantes de todas as partes interessadas do Atlético (Conselheiros, Associados, Torcedores, Jornalistas, Especialistas) para conduzir o processo e defender plenamente os interesses exclusivos do Clube Atlético Mineiro.
  • AFASTAMENTO PROVISÓRIO DOS INVESTIDORES: Considerando o Estatuto do Clube Social, todos os investidores interessados na compra da SAF do Galo devem se afastar imediatamente de suas funções, seja na gestão do Clube ou no Conselho Deliberativo, sob risco e pena de ilegalidade e anulação de todo o processo da SAF.
  • TRANSPARÊNCIA: Apresentar à COMISSÃO DA SAF DO GALO, todas as propostas e sondagens de investidores que foram recebidas e avaliadas pela Gestão do Clube, bem como todos os Relatórios de Valuations e demais documentos a respeito de todos os ativos e dívidas do Clube.
  • AUDITORIA: Realizar auditoria nas contas do Clube, principalmente nas dívidas contraídas com bancos e agentes de futebol e apresentar os resultados detalhados para aprovação do Conselho Deliberativo.
  • ACORDOS DE ACIONISTAS: Debater, analisar e definir todas as premissas e requisitos para estabelecer o acordo de acionistas da SAF do Galo (relação entre Associação e SAF, investimentos e
    custos no futebol, metas esportivas, relacionamento com a torcida, cláusulas de saída, entre outras).
  • ESTATUTO: A reforma do Estatuto Social, tão prometida e ainda não realizada, deve ser realizada, impreterivelmente antes da aprovação da SAF, definindo-se regras claras e objetivas de responsabilidade pessoal dos dirigentes, bem como uma estrutura de gestão profissional do futebol, com programa de compliance, para preservar sempre a ética, a transparência e a boa governança no Clube.

Protesto na sede

Os torcedores que são contra a votação para a SAF, juntamente com a torcida organizada GDR, marcaram um protesto para a sede do Atlético, local onde a votação vai acontecer, para às 18h desta quarta-feira (19). Vale ressaltar que grande parte desses torcedores não são, necessariamente, contra a SAF, e sim cobram mais transparência e explicações sobre o processo antes dele ser implementado, já que é algo que muda completamente a estrutura do clube.

Atlético envia documento para conselheiros

Na manhã desta quinta, os conselheiros do Atlético receberam um documento do presidente do clube, Sérgio Coelho, que busca explicar o motivo da transformação do Galo em SAF e como isso vai acontecer.

Alguns pontos do documento, que tem 20 páginas, são novidades e ainda não haviam sido informados. O principal deles é que a porcentagem que vai ficar com a associação (25%), não pode ser diminuída em caso de novos aportes. Ou seja, se outra pessoas quiser comprar uma porcentagem do Atlético, terá que ser dentro dos 75% que vai pertencer a SAF. No entanto, a própria associação pode optar por vender mais uma porcentagem caso haja “expressa concordância” dela.

Calendário da SAF do Atlético

  • 20 e 21 de julho:
    Votação
  • Agosto
    Confecção dos documentos
    Aprovação dos órgãos regulatórios
  • Final de setembro e início de outubro
    Aporte financeiro

O modelo da SAF do Atlético

O Atlético tinha como ideia inicial negociar 51% das ações de sua SAF para um investidor estrangeiro. O nome que sempre esteve em pauta foi do empresário norte-americano Peter Grieve, que teve participações no futebol de Zimbábue e Gibraltar. Após alguns meses sem uma definição, ele foi descartado para integrar o novo modelo.

O modelo de SAF que os gestores do Atlético optaram traz uma holding gerindo o clube. Serão vários empresários mineiros e atleticanos a investirem na SAF do Galo, dentre eles, claro, os chamados 4Rs, que já gerem o clube atualmente. São eles: Rubens Menin, Ricardo Guimarães, Rafael Menin e Renato Salvador.

Essa holding comprará 75% da SAF do Atlético com um aporte inicial de R$ 915 milhões – sendo R$ 300 milhões abatendo a dívida que o clube tem com os 4Rs. A Arena MRV e a Cidade do Galo estão inclusas. As dívidas do clube, que giram em torno de R$ 1,8 bilhão, serão todas de responsabilidade da SAF. A associação Atlético manterá 25% do clube, estádio e CT, além de 100% da sede e dos clubes sociais.

O resumo da SAF do Atlético

  • R$ 913 de aporte, sendo R$ 713 milhões dos 4Rs + R$ 200 milhões de dois fundos de investimentos
  • Dentro dos R$ 713 milhões dos Rs, R$ 313 milhões serão abatidos nas dívidas do clube com eles, ou seja, vão aportar R$ 400 milhões
  • A SAF fica com 75% e a associação com 25%
  • Arena MRV e Cidade do Galo estão inclusas e serão repartidas da mesma forma (75/25)
  • Composição da SAF: 78% dos 4Rs, 11% de um fundo de investimento e 11% de outro fundo
  • A dívida, de R$ 1,8 bilhão, fica inteiramente na conta da SAF
Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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