SAF do Atlético: valores, compradores, polêmicas e contraproposta da torcida
Votação para a aprovação do modelo está marcada para o dia 20 de julho

O Atlético-MG anunciou no fim do mês de junho seu provável modelo para fazer do clube uma SAF. A proposta chamou atenção por ser algo único no Brasil, além de fugir do que o clube vinha projetando. Essa mudança causou críticas de parte da torcida, que criou uma contraproposta, exigindo alguns detalhes na constituição do clube empresa.
Qual será o modelo da SAF do Atlético?
O Atlético tinha como ideia inicial negociar 51% das ações de sua SAF para um investidor estrangeiro. O nome que sempre esteve em pauta foi do empresário norte-americano Peter Grieve, que teve participações no futebol de Zimbábue e Gibraltar. Após alguns meses sem uma definição, ele foi descartado para integrar o novo modelo.
O modelo de SAF que os gestores do Atlético optaram traz uma holding gerindo o clube. Serão vários empresários mineiros e atleticanos a investirem na SAF do Galo, dentre eles, claro, os chamados 4Rs, que já gerem o clube atualmente. São eles: Rubens Menin, Ricardo Guimarães, Rafael Menin e Renato Salvador.
Essa holding comprará 75% da SAF do Atlético com um aporte inicial de R$ 915 milhões. A Arena MRV e a Cidade do Galo estão inclusas. As dívidas do clube, que giram em torno de R$ 1,8 bilhão, serão todas de responsabilidade da SAF. A associação Atlético manterá 25% do clube, estádio e CT, além de 100% da sede e dos clubes sociais.
Diferença da SAF inicialmente proposta e da SAF atual
- Proposta inicial: 51/55% para um investidor estrangeiro (Peter Grieve), podendo incluir ou não o estádio e o CT. Não havia ainda uma projeção de quanto seria o preço do clube
- Proposta secundária: divisão da SAF entre um investidor estrangeiro (Peter) e os 4Rs, com um percentual ainda sobrando para a associação. Também havia a discussão de incluir ou não estádio e CT, o que aumentaria o valor aportado
- Proposta atual: 75% para investidores locais, que vão fazer parte de uma holding, que terá incluso o estádio e o CT. A holding irá aportar R$ 915 milhões iniciais e assumir as dívidas
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Quando acontecerá a votação da SAF atleticana?
A votação para a aprovação da SAF do Atlético está marcada para começar no dia 20 de julho e correr até o fim da tarde do dia 21. O evento acontecerá na sede do clube e de forma online, para conseguir englobar todos os conselheiros do clube. Para aprovação, é necessário um “sim” de 2/3 dos 420 conselheiros, ou seja, 280 votos a favor.
A convocação para a votação da polêmica SAF do Atlético foi publicada hoje. Acontece entre quinta-feira (20), a partir das 8h, na sede do clube, e termina na sexta (21), às 18h. pic.twitter.com/w1GtrDQdE6
— Alecsander Heinrick (@alecshms) July 5, 2023
Quem vai comprar o Atlético?
Não há ainda muitas certezas sobre quem serão os investidores da holding do Atlético. Os 4Rs, como já informado, serão um deles, mas há ainda outros possíveis nomes na lista, como o de Marcelo Patrus, dono de uma empresa de transporte, que deve entrar como pessoa física e não como empresa.
Os 4Rs vão aportar 713 milhões, ficando com 78% da SAF. Sendo que R$ 313 milhões desse investimento entram como substituição de dívida que eles têm com o Atlético. O clube ainda busca mais dois fundos na casa de 100 milhões, que ficariam com 11% cada.
Outros investidores cogitados são a mineradora J. Mendes e o Grupo de supermercados Super Nosso. O Atlético fez nesta quarta-feira (12) um encontro na Arena MRV entre os interessados em fazer parte da SAF do clube. O encontro foi conduzido pelo CEO Bruno Muzzi e era necessário um aporte mínimo de R$ 1 milhão para quem quiser entrar na holding.
Críticas da torcida e contraproposta
A mudança de direção na forma de constituir a SAF do Atlético causou revolta em parte da torcida atleticana por alguns motivos. Primeiro que o torcedor estava esperançoso de ver o clube ser vendido na casa do bilhão, principalmente incluindo um estádio novo e um dos melhores CTs do país no plano.
Mas o ponto que mais irritou boa parte da torcida é a forma da negociação. Os torcedores já tinham um pé atrás com Peter Grieve, que não tinha tido ainda participação no futebol em locais relevantes, mas a mudança do empresário norte-americano para empresários mineiros causou estranhamento.
Com o novo modelo, a torcida entende que quem está vendendo é também quem está comprando, já que os 4Rs, que vão fazer parte da SAF, já gerem o clube com o colegiado ao lado do presidente Sérgio Coelho.
Rubens Menin, por exemplo, que é o principal mecenas do Atlético, doou ao clube um terreno para a construção do estádio, que hoje leva o naming right de sua empresa, a MRV. Agora, o empresário está comprando parte do clube, com o estádio e o CT por um valor que torcedores entendem ser menor do que deveria.
Contraproposta da Massa
Por conta disso e outras coisas, a torcida do Atlético se uniu para criar a “Contraproposta da Massa”, um site que cobra explicações do Atlético sobre a SAF. Parte da torcida do Galo teme que o clube esteja sendo tirado das mãos dela sem explicações e transparência. A proposta apresenta quatro pontos que julgam essenciais:
- Cláusula de desempenho e orçamento mínimo
Baseado nas SAF de Botafogo e Vasco, que adotaram cláusulas para recompra do clube em caso de insucesso ou de garantia de investimento, respectivamente, a contraproposta da torcida atleticana exige algo do tipo na SAF do clube: “propomos que a associação preserve maior participação acionária (ou, pelo menos, a possibilidade de recompra de ações nos valores da valuation atual), o que permitiria rodadas de investimento mais relevantes no futuro, garantindo a competitividade esportiva no longo prazo”.
- Gestão esportiva know-how
A torcida cobra que o clube tenha pessoas que entendam do que estão fazendo em todas as áreas, não só um bom time em campo e um bom gestor para contratações. Um exemplo citado é o PSG, que saiu de um clube local para um reconhecido mundialmente. A proposta cita a implementação de:
um CEO com entendimento esportivo, voz ativa e que tenha tido experiência internacional com arenas multiuso;
reestruturação da base atleticana, visando parcerias para desenvolver e revelar/vender grandes talentos;
um gerente exclusivo para o Manto da Massa, projeto pioneiro e de enorme sucesso criado pelo Galo;
Museu e Loja do Galo dentro da Arena MRV
- Governança e transparência
A contraproposta exige a SAF “mais transparente possível”, antes e depois de sua constituição. O exemplo citado é o do Bahia, que fechou acordo com o Grupo City, mas antes fez ciclos de debates com conselheiros e torcedores comuns, além de detalhamentos do projeto publicados e lives semanais com o presidente e especialistas para esclarecer os negócios e tirar todas as dúvidas. A torcida ainda exige que Galo não seja “subordinado a interesses internos” e que a SAF garanta “a representação do Conselho e da Massa nas decisões”.
- Voz para a torcida
“Uma grande preocupação da torcida é que a SAF distancie o Atlético daqueles que sempre o apoiaram, nas fases boas e nas ruins”, cita a contraproposta. Por isso, eles pedem a criação de um “Conselho de Torcedores”, para haver essa abertura de conversa entre a torcida e o clube. O Cruzeiro é citado, indiretamente, como exemplo nesse quesito, pois o clube criou esse conselho após realizar a mudança do Raposão, mascote do time, e ser extremamente criticado pela torcida, precisando voltar atrás na decisão.
Segundo o CEO Bruno Muzzi, a ideia é bem avaliada e ele “vê com bons olhos” essa iniciativa, citando um exemplo parecido que acontece no Tottenham, da Inglaterra.
Reunião com conselheiros e torcidas organizadas do Atlético
O Atlético já está realizando sessões de reuniões com os conselheiros do clube. A primeira aconteceu na terça-feira (11), a segunda está prevista para a quinta (13) e a terceira e última para terça (18). O CEO Bruno Muzzi é quem conduz a reunião, respondendo as dúvidas dos conselheiros presentes nelas.
? Galo programa série de reuniões com conselheiros para tirar dúvidas sobre a SAF do Clube.#GaloPaixãoNacional ??️ pic.twitter.com/SjakAVvHZn
— Atlético (@Atletico) July 11, 2023
Já a abertura com a torcida surgiu após as organizadas do clube, incluindo a Galoucura, a principal delas, terem se posicionado nas redes sociais pedindo uma transparência maior e marcando uma manifestação para o dia anterior à votação. O clube trabalha para evitar qualquer coisa que possa atrapalhar a SAF, por isso a reunião.
QUEREMOS TRANSPARÊNCIA
A Torcida Organizada Galoucura vem por meio desta nota cobrar transparência e esclarecimento de toda a diretoria e órgão colegiado do Clube Atlético Mineiro.
Aos senhores:
Sergio Coelho (presidente);
José Murilo (vice-presidente);(continua ??) pic.twitter.com/IMGAox8PiL
— Galoucura (OFICIAL) (@tog_oficial84) July 10, 2023
A reunião com representantes das torcidas organizadas do clube vai acontecer na sexta (14), também na sede do clube. Além de Bruno Muzzi, é esperada a presença de outros membros da diretoria. A GDR, outra organizada do Atlético, confirmou em suas redes sociais a reunião e também que pediu ao clube para que ela seja transmitida na Galo TV, para que toda a torcida possa participar e estar ciente das discussões.
Pedido de adiamento da votação
Nesta quarta (12), apoiados pelo FalaGalo, principal portal exclusivo sobre matérias do Atlético, membros da Contraproposta da Massa divulgaram a “#60diaspelatransparencia”, que pede o adiamento de 60 dias da votação sobre a SAF. O motivo é a busca por maior transparência sobre todo o processo, para que o clube e seus gestores tenham tempo de explicar o que vai acontecer e os torcedores possam entender.
Bruno Muzzi comentou sobre esse pedido, entendendo que as coisas realmente estão acontecendo rápido, mas que o Galo não tem mais tempo a perder: “Todo mundo sabe das dificuldades financeiras do Atlético. Recentemente essa alternativa (SAF dos empresários) se viabilizou de forma muito importante para honrar os compromissos e andar. O Atlético não tem mais tempo para esperar. 60 dias para votar e depois mais 60/90 para fechar a transação é inviável”.
O CEO atleticano ainda lembrou das reuniões com o conselho e com a torcida já marcadas e garantiu que já estão sendo preparados materiais para a criação de um site que deixe tudo transparente.
Vale destacar que a iniciativa da contraproposta não possui um criador específico, surgiu a partir de uma reunião de torcedores e, qualquer torcedor que assinar o formulário no site terá seu nome divulgado como membro da ação.