Brasileirão Série A

Conselheiro do Atlético-MG entra na Justiça para suspender votação da SAF

Paulo Nehmy, conselheiro benemérito do Galo, cita o "conflito de interesse" como um dos principais pontos para a suspensão da votação

A transformação do Atlético-MG em SAF, que vem causando muitos questionamentos e polêmicas desde quando o modelo foi anunciado, há três semanas, ganhou mais um importante capítulo nesta quarta-feira (19): um conselheiro do clube entrou com ação na Justiça para suspender a votação, que está prevista para começar na quinta (20).

Conselheiro benemérito do Atlético, Paulo Estevão Braga Nehmy, mais conhecido apenas como Paulo Nehmy, protocolou, com “urgência”, um pedido para a Justiça de Minas Gerais intervir e suspender a votação ou, não havendo tempo, anular os atos dela. A liminar ainda não foi acatada e o Atlético ainda não foi intimado, mas, caso seja, poderá entrar com pedido de efeito suspensivo.

Paulo Nehmy cita o “conflito de interesse” como um dos principais pontos para a suspensão da votação, já que Ricardo Guimarães e Renato Salvador, empresários que pretendem ser sócios majoritários da SAF atleticana, são presidente e vice-presidente do Conselho Deliberativo do Clube, respectivamente.

“Percebe-se no comunicado oficial do clube Réu – acerca da votação pela aprovação da venda ao grupo Galo Holding – o nítido conflito de interesses, no qual membros de presidência do conselho deliberativo do clube Réu estão negociando consigo mesmo a aquisição do clube, visto que resta expresso e confesso que o Galo Holding é “um grupo de investidores formado em sua grande maioria por atleticanos, INCLUINDO OS 4Rs”.”

Em anexo no documento está ainda o artigo 69 § 2°, alínea D, do Estatuto do Atlético, que cita a proibição de diretores do Galo representarem o clube em “negócios consigo mesmo”. Nesse caso, Ricardo Guimarães, como presidente do conselho, foi quem assinou a ata da convocação para a votação, sendo um dos investidores da SAF, como já citado.

“A convocação para assembleia de votação já é, em si, o marco inicial do ato e, ao ter sido assinada pelo Sr. Ricardo Annes Guimarães, ensejou claro conflito de interesses, conforme disposto no próprio Estatuto da Associação”, cita o documento.

Falta de transparência e pedidos realizados

O documento ainda cita que “um prazo de vinte dias para análise de uma proposta que sequer foi documentada de forma escrita e disponibilizada aos votantes” é insuficiente, já que que é um caso que afeta diretamente o futuro do Atlético, envolvendo ainda patrimônios do clube.

O conselheiro pede que lhe seja concedido o direito de acesso a todos os documentos trocados entre as partes, além de um prazo mínimo “justo” para analisar esses documentos e a proposta. Ele ainda sugere a criação de um comitê independente para representar o Atlético nas negociações.

Reclamações se repetem pela terceira via

Paulo Nehmy não foi o primeiro a fazer reclamações de  sobre a falta de transparência e conflito de interesse do processo da SAF do Atlético – foi apenas o primeiro a protocolar na justiça. Na última semana, uma parte da torcida já havia se reunido para criar a “Contraproposta da Massa”, que citam esses e vários outros pontos a serem debatidos.

Na manhã de terça (18), foi a vez de outro conselheiro, Cláudio Utsch, em reunião realizada pelo próprio Atlético para explicar a SAF para os conselheiros, com a presença do CEO Bruno Muzzi, fazer as mesmas reclamações e ter os áudios do momento vazados. No mesmo dia, na parte da noite, faixas foram espalhadas por Belo Horizonte e um novo documento, o “Manifesto da Massa”, foi publicado por outra parte da torcida, que contou com o apoio da primeira parte citada.

Atlético enviou documento para conselheiros

Na manhã desta quinta (20), véspera da votação, os conselheiros do Atlético receberam um documento do presidente do clube, Sérgio Coelho, que busca explicar o motivo da transformação do Galo em SAF e como isso vai acontecer.

Alguns pontos do documento, que tem 20 páginas, são novidades e ainda não haviam sido informados. O principal deles é que a porcentagem que vai ficar com a associação (25%), não pode ser diminuída em caso de novos aportes. Ou seja, se outra pessoas quiser comprar uma porcentagem do Atlético, terá que ser dentro dos 75% que vai pertencer a SAF. No entanto, a própria associação pode optar por vender mais uma porcentagem caso haja “expressa concordância” dela.

Calendário da SAF do Atlético

  • 20 e 21 de julho:
    Votação
  • Agosto
    Confecção dos documentos
    Aprovação dos órgãos regulatórios
  • Final de setembro e início de outubro
    Aporte financeiro

O modelo da SAF do Atlético

O Atlético tinha como ideia inicial negociar 51% das ações de sua SAF para um investidor estrangeiro. O nome que sempre esteve em pauta foi do empresário norte-americano Peter Grieve, que teve participações no futebol de Zimbábue e Gibraltar. Após alguns meses sem uma definição, ele foi descartado para integrar o novo modelo.

O modelo de SAF que os gestores do Atlético optaram traz uma holding gerindo o clube. Serão vários empresários mineiros e atleticanos a investirem na SAF do Galo, dentre eles, claro, os chamados 4Rs, que já gerem o clube atualmente. São eles: Rubens Menin, Ricardo Guimarães, Rafael Menin e Renato Salvador.

Essa holding comprará 75% da SAF do Atlético com um aporte inicial de R$ 915 milhões – sendo R$ 300 milhões abatendo a dívida que o clube tem com os 4Rs. A Arena MRV e a Cidade do Galo estão inclusas. As dívidas do clube, que giram em torno de R$ 1,8 bilhão, serão todas de responsabilidade da SAF. A associação Atlético manterá 25% do clube, estádio e CT, além de 100% da sede e dos clubes sociais.

O resumo da SAF do Atlético

  • R$ 913 de aporte, sendo R$ 713 milhões dos 4Rs + R$ 200 milhões de dois fundos de investimentos;
  • Dentro dos R$ 713 milhões dos Rs, R$ 313 milhões serão abatidos nas dívidas do clube com eles, ou seja, vão aportar R$ 400 milhões;
  • A SAF fica com 75% e a associação com 25%;
  • Arena MRV e Cidade do Galo estão inclusas e serão repartidas da mesma forma (75/25);
  • Composição da SAF: 78% dos 4Rs, 11% de um fundo de investimento e 11% de outro fundo;
  • A dívida, de R$ 1,8 bilhão, fica inteiramente na conta da SAF.
Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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